A crise financeira e económica actual parece que se deve, segundo a comunicação social e especialistas nesta área, aos especuladores.
O cidadão comum, em que me incluo, fica perplexo com esta informação.
Os especuladores ? O que são os especuladores ? Quem são estes indivíduos ?
Será um novo grupo social ?
Parece até que se trata de uma coisa nova.
Será que na crise de 29 e em todas as crises não havia especuladores ?
Não sei.
O que sei é que não é uma coisa nova e que sempre houve especuladores, com este ou outro nome.
Lembrei-me de um autor anónimo do século XVII que escreveu sobre a arte de furtar um texto a que chamou: “A ladroeira dos ministros”.
Já naquele tempo, em que ainda andava no ar o cheiro a canela e a pimenta, o autor só podia ser anónimo.
E... Não me venham dizer que isto é demagogia. A situação actual pode provar que não é.
Dizia então esse autor anónimo:
“Olhem para mim todos os ministros de el-rei, que ontem andavam a pé e hoje a cavalo;
Estejam atentos a duas perguntas que lhes faço e respondam-me a elas, se souberem:
- Se os ofícios de vossas mercês dão de si até poderem andar em um macho ou em uma faca, quando muito, e suas mulheres em uma cadeira, como andam vossas mercês em liteiras e elas em coche ? Se a sua mesa se servia muito bem com pratos, saleiro e jarro de louça pintada de Lisboa, como se serve agora em baixelas de prata, salvas de bastiões, confeiteiras de relevo ?
Não me dirão donde vieram tantas colgaduras de damasco e tela, tantos bufetes guarnecidos, escritórios marchetados e com pontas de abada em cima ?
Já que lhes não dá do que dirá a gente, não me dirão onde acharam estes tesouros sem irem à Índia, ou que arte tiveram para medrarem tanto em tão pouco tempo, para que os desculpemos ao menos com a vizinhança ?
Já o sei, sem que mo digam: houveram-se como a raposa no galinheiro em que entraram. Levaram-se não só no necessário senão também no supérfluo. Não se contentam com se verem fartos e cheios como esponjas, querem engordar com acepipes; e por isso lançam o pé além da mão e estendem a mão até o céu e as unhas até o inferno, e metem tudo a saco, quando o ensacam, e são como o fogo que a nada diz – basta!” [1]
Os especuladores não são nem capitalistas nem socialistas, são ladrões.
A diferença é que não têm rosto, não vêm nas listas negras nem vão parar à prisão.
São apenas especuladores.
[1] Antologia do Humor Português
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