Em 1975, João dos Santos dizia o seguinte no livro A Higiene Mental na Escola [1]:
" No campo da Saúde Escolar devemos combater:
... O uso da droga propagada de forma abusiva pelas empresas de produtos farmacêuticos com vista à resolução dos mais variados problemas escolares: de aprendizagem, comportamento, memória, atenção e inteligência".
É um tema de absoluta actualidade.
Relativamente a esta situação, não só não foram ouvidas as palavras de João dos Santos, como tomou proporções alarmantes no dizer de Eduardo Sá.
Eduardo Sá defendeu recentemente [2] que actualmente se vive uma progressiva medicação das crianças que são supostamente hiperactivas. As crianças excessivamente medicadas estão em perigo e deveriam ser protegidas pelas Comissões de Protecção tal como as outras.
Confundir vivacidade com hiperactividade é cada vez mais um hábito na sociedade actual. É necessário estudar este assunto porque o número de crianças que está a ser medicado com ritalina [3]começa a ser alarmante.
Alertou ainda para os possíveis problemas psicológicos que uma criança que tome este medicamento possa vir futuramente a sofrer. Uma criança que tome em doses excessivas Ritalina pode no futuro vir a transformar-se num psicopata.
Temos chamado a atenção para o risco da subjectividade, no diagnóstico de uma perturbação de hiperactividade com défice de atenção (PHDA) ainda que baseado no questionário de Conners. Além disso, temos defendido as estratégias educativas e a psicoterapia em detrimento da medicação.
Se as palavras de João dos Santos não foram ouvidas, hoje, não podemos ignorar as consequências para a saúde física e mental do uso a curto e longo prazo de medicamentos como a ritalina. A lista de problemas é suficientemente grande e assustadora para pensarmos duas vezes antes de nos decidirmos pela medicação.
Se assim não for, há que pensar se não deverá ser considerado um mau trato essa excessiva medicação, como defende Eduardo Sá.
Mas as medidas que têm sido tomadas pela educação também não vieram contribuir para que a situação mude. A este propósito podemos referir as aulas de 90 minutos, o tempo excessivo de permanência na escola e na sala de aula com a chamada escola a tempo inteiro, em que a preocupação foi arranjar às crianças um currículo que os ocupe todo o dia com mais disciplinas, mais tempos de concentração, mesmo que se chamem actividades de enriquecimento curricular (AECs).
A chamada escola a tempo inteiro vista supostamente como uma conquista social, veio introduzir factores perversos, em nosso entender, de que a pouco e pouco vamos percebendo melhor as consequências negativas.
[1] Berge, André e Santos, João dos (1976) – A Higiene Mental na Escola, Livros Horizonte.[2] Jornal do Fundão, 12/6/2008[3] metilfenidato
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