22/01/14

Indignação


Apenas um sobreviveu.

aqui escrevi sobre os rituais de iniciação e de integração.
A importância destes rituais para a integração das pessoas tem razão de ser e tem aspectos positivos que não se podem ignorar.
Porém, a praxe académica, e todas as outras, tem vindo a criar mais problemas do que seria de imaginar. Já perdi a esperança de poder pensar que a praxe académica pode ser encarada como perspectiva de acolhimento, criando mecanismos próprios de integração dos mais novos no grupo escolar.
Alguns acontecimentos trágicos vão-se encarregando de mostrar que não é isso que tem vindo a acontecer. A praxe tem sido cada vez mais uma prática autocrática, sem qualquer tipo de controlo e que atenta contra as liberdades individuais.
Não há limites nem critérios para quem aplica a praxe. Por isso, quando acontecem casos muito graves é tarde para corrigir e apontar então com (falsas) soluções.

Ferreira Fernandes chama-lhe o nojo que sai à rua impunemente e escreve que somos mais ou menos todos cúmplices deste nojo que é a praxe. 
É completamente intolerável que se continue a assistir silenciosamente a estes rocambolescos episódios.
É necessário distinguir praxe de tradição académica. As tradições académicas devem continuar a existir mas delas não podem fazer parte actividades que são completamente contra qualquer princípio dos direitos humanos. A praxe é um dos últimos redutos onde o poder discricionário está presente mesmo que travestido de brincadeira estúpida ou de indisfarçável sadismo. A praxe não pode ser o período de tempo em que há suspensão dos direitos e deveres constitucionais.

Philip Roth em Indignação mostra um jovem estudante irredutível a convenções hipócritas, como as que se vivem no campus universitário e nas fraternidades (residências de estudantes), nos Estados Unidos, nos anos 50.
Indignação demonstra como o ir contra essas tradições e em busca de seus próprios caminhos na vida, alguns dos quais poderão incitar a ira vingativa de uma sociedade conservadora gerida por mentes tacanhas.
Indignação descreve como, no campus universitário, tudo começou à mais pequena escala e do modo mais juvenilmente inocente: com uma batalha de bolas de neve no pátio vazio…Bolas de neve que não se consegue controlar mais. 
E o último parágrafo do livro refere: A forma terrível incompreensível como as opções de uma pessoa mesmo as mais banais, fortuitas e até cómicas têm o resultado mais desproporcionado.

Quantas mais tragédias serão necessárias, quantos mais alunos ficarão traumatizados para o resto da vida académica (ou da sua vida),  quantos mais vão interiorizar essa ideia terrível de que “a praxe prepara para a vida” ?
Mas há quem tenha maior responsabilidade: Não haverá um governante, um único deputado no parlamento que proponha legislação de forma a que a praxe seja banida das tradições académicas, das universidades e do regime democrático ?

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