24/10/23

Bésame mucho


É o título de um livro do pediatra Carlos Gonzalez sobre a criação dos filhos com amor. 
Há muitas ideias feitas e preconceitos sobre as crianças e sobre a educação das crianças e mesmo teorias de educação e aprendizagem, simplesmente dependentes da vontade dos adultos, sem qualquer fundamento que nos permita chegar a compreender o que se passa com alguns comportamentos das crianças. Podem ser mesmo perniciosas para o seu desenvolvimento.

Começa por questionar se há crianças boas e crianças más. Muitas vezes respondemos quase automaticamente aos comportamentos desajustados das crianças com “és mau” ou fazemos comparações: “Vês, o teu irmão porta-se tão bem e tu és mau". Para muitos pais e educadores as crianças devem ser disciplinadas pelo facto de serem crianças. Já em relação aos adultos não dizemos nem fazemos o mesmo. 
É isso que CG evidencia neste livro: o desenvolvimento faz-se naturalmente e as crianças precisam de fazer as aprendizagens daquilo que lhes está a acontecer pela primeira vez: aprender a andar, aprender a falar, aprender a dormir sozinhas, aprender a comer, a controlar os esfíncteres, a estar atentas...
Claro que há aprendizagens que podem ser feitas de muitas maneiras mas nem todas respeitam a criança. (Capítulo 3 – Teorias que não defendo). Continua a haver quem ache que a disciplina se aprende com métodos aversivos e punitivos, com correctivos, com mergulhá-las em água fria, para acabar com as birras, deixá-las chorar até se calarem, sem proximidade, sem contacto, sem colo... *
Estas atitudes e comportamentos dos educadores são reforçados pelas crenças: "de pequenino se torce o pepino", "quem dá o pão dá a educação", a palmada pedagógica...
Diz CG: "A nossa sociedade não trata as crianças com o mesmo respeito com que trata os adultos. Quando falamos de um adulto, as considerações éticas têm sempre uma importância primordial, tendo prioridade sobre a eficácia ou a utilidade.” (p. 25)
É, por isso, que os castigos e as punições, inclusive as físicas, como bater numa criança, são ainda tolerados e justificados com explicações de que “até é para bem da criança”.
Claro que se aprende pelo castigo e pela punição, apenas porque a criança é pequena e o adulto tem fisicamente poder sobre a criança, e também se aprende o medo dos pais, a revolta, a injustiça, o ódio.
Questões como dormir na cama dos pais, dar colo quando chora, ou quando nos pede, ou quando faz uma birra...** pode ser que não nos ocorra a linguagem do afecto e em vez disso surja o castigo ou a punição física como imediata resposta a aplicar.

Para CG “educar mal" significa “criar mal"; isto é, com pouco carinho, poucos abraços, pouco respeito, poucos mimos. É impossível educar mal uma criança por lhe dar muita atenção, muito colo, consolá-la muito quando chora ou brincar muito com ela.” (p. 66-67)
Os pais sabem, talvez melhor do que ninguém, como educar os seus filhos. Também sabem que surgem dificuldades ao longo do desenvolvimento e, por isso, se o solicitarem, devem ser ajudados. 
E não nos podemos esquecer de que “os dias mais felizes da nossa infância são aqueles em que os nossos pais (ou os nossos avós, irmãos ou amigos) nos fizeram felizes." (p. 243)


Até para a semana.

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"Todos os castigos são inúteis", diz o pediatra do contra, Carlos Gonzalez 

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