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"Para que os jovens dos nossos dias compreendam o significado do 25 de abril, é necessário terem presente o caminho que fizemos nestas quatro décadas.
Instaurámos a democracia e aprovámos uma Lei Fundamental, a Constituição da República Portuguesa. Num contexto muito difícil, com o país na iminência de graves confrontos entre a população civil, as forças democráticas venceram a batalha da liberdade e da democracia constitucional.
Integrámos com sucesso os muitos milhares de Portugueses vindos dos territórios africanos que se tornaram independentes. Sem traumas nem complexos, construímos com os novos países uma aliança fraterna, que afirma o valor da lusofonia no mundo inteiro.
Nas últimas décadas, verificaram-se avanços extraordinários no plano social, que devemos preservar para as gerações futuras.
Portugal conseguiu, de forma ímpar, reduzir a taxa de mortalidade infantil, que é hoje uma das mais baixas da Europa ocidental.
A esperança de vida dos Portugueses aumentou significativamente. Hoje, contamos viver, em média, mais 15 anos do que em 1960.
Criámos um Serviço Nacional de Saúde que, através de um esforço de investimento público muito significativo, garante a todos os Portugueses o acesso generalizado aos cuidados de saúde.
Também no domínio da Educação os progressos são notáveis: no pré-escolar, crescemos de cerca de 41 mil crianças matriculadas em 1974 para mais de 270 mil, em 2012. No ensino superior o número de alunos quintuplicou entre aquelas datas. Em 1970, a população com ensino superior completo representava pouco mais de meio por cento da população residente, enquanto, de acordo com os dados dos últimos Censos, essa proporção está acima dos 12 por cento. Em 1970, um quarto da população era analfabeta, estigma que afetava particularmente as mulheres. Quarenta anos depois, a taxa de analfabetismo é pouco superior a 5 por cento.
As mulheres alcançaram direitos de igualdade e ocupam hoje lugar preponderante na frequência dos níveis superiores de ensino e no mercado de trabalho.
No início da década de 80, não existia sequer uma autoestrada que ligasse Lisboa ao Porto. Atualmente, podemos percorrer todo o País de autoestrada, desde o Algarve até à fronteira com a Galiza. Portugal é um país dotado de uma vasta rede de infraestruturas físicas, culturais e desportivas, muitas vezes construídas por outra das grandes conquistas de abril: o poder autárquico.
Fizemos um longo caminho para chegarmos ao dia de hoje, a um Portugal livre e democrático, a um país mais desenvolvido, em que as expectativas de bem-estar são semelhantes às dos restantes Estados da União Europeia.
No entanto, se os níveis de bem-estar são muitíssimo superiores aos que existiam em 1974, se os Portugueses vivem hoje incomparavelmente melhor do que há quarenta anos, a verdade é que temos ainda um longo caminho a percorrer para nos aproximarmos da média dos indicadores sociais dos países mais desenvolvidos da Europa.
Apesar do percurso que fizemos, continuamos insatisfeitos. É saudável que assim seja. É sinal de que não nos resignamos, que ambicionamos viver num país melhor, onde os nossos filhos e netos possam usufruir de maiores níveis de bem-estar."
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