16/02/22

A brisa sopra sempre outra vez

"You're Only Human (Second Wind)" -  Billy Joel (1985)


Nem sempre é fácil viver neste mundo de dor
It's not always easy to be living in this world of pain

Tu vais bater em paredes de pedra de novo e de novo
You're gonna be crashing into stone walls again and again

Embora sintas o teu coração quebrar
Though you feel your heart break

És apenas humano
You're only human

Vais ter que lidar com a mágoa
You're gonna have to deal with heartache

Assim como um boxeur numa luta pelo título
Just like a boxer in a title fight

Tens que andar naquele ringue sozinho
You got to walk in that ring all alone

Tu não és o único que cometeu erros
You're not the only one who's made mistakes

Mas eles são as únicas coisas que podes realmente chamar de tuas.
But they're the only thing that you can truly call your own

Não te esqueças do teu segundo fôlego
Don't forget your second wind

Espera naquele canto até que a brisa sopre
Wait in that corner until that breeze blows in


A música "You're Only Human (Second Wind)" trata da depressão adolescente e do suicídio... 
Joel, que já havia tentado suicídio, afirmou em uma entrevista de 1985 que ele escreveu a música como uma forma de ajudar os jovens que lutam contra a depressão e pensamentos suicidas...
Joel doou todos os royalties da música ao Comité Nacional de Prevenção ao Suicídio Juvenil. (Wikipedia)

Ser humano significa ter memória e a memória está na origem de tudo o que está certo e o que está errado mas a memória dos erros permite não cometer mais erros...
"Errar é humano, persistir no erro é desumano." (A. Cury, Gestão da emoção, p.11)

"As revoluções, tão incontinentes na sua pressa, hipocritamente generosa, de proclamar direitos, violaram sempre, pisaram e romperam o direito fundamental do homem, tão fundamental, que é a definição mesma da sua substância: o direito à continuidade. A única diferença radical entre a história humana e a "história natural" é que aquela nunca pode começar de novo. Köhler e outros mostraram como o chimpanzé e o orangotango não se diferenciam do homem pelo que, falando rigorosamente, chamamos inteligência, mas porque têm muito  menos memória do que nós. Os pobres animais encontram-se cada manhã com terem esquecido quase tudo o que viveram no dia anterior e a sua inteligência tem que trabalhar sobre um mínimo de experiências..."

"... O homem, pelo contrário, mercê de seu poder de recordar, acumula o seu próprio passado, possui-o e aproveita-o. O homem não é nunca um primeiro homem: começa desde logo a existir sobre certa altitude de pretérito amontoado. Este é o tesouro único do homem, seu privilégio e sua marca. E a riqueza menor desse tesouro consiste no que dele pareça acertado e digno de conservar-se: o importante é a memória dos erros, que nos permite não cometer os mesmos sempre. O verdadeiro tesouro do homem é o tesouro dos seus erros, a extensa experiência vital decantada gota a gota em milénios." (J. Ortega y Gasset, La rebelión de las masas, Espasa, pag 72-73)

Parece, no entanto, que estas memórias não são vistas por muitas pessoas como um "tesouro" realmente nosso.

"Em Portugal, suicidam-se três pessoas por dia. Vamos falar sobre isso?" (DN, Rui Frias,10 Setembro 2021).
"Os números são tão violentos quanto a dor. Todos os dias, há em média três pessoas em Portugal que resolvem por termo à vida. No mundo, o rácio sobe para um suicídio a cada 40 segundos (800 mil/ano). Entre os jovens dos 15-34 anos, essa é mesmo a segunda maior causa de morte. E o número de suicídios tentados é 25 vezes superior ao daqueles com desfecho fatal." 

"O problema é demasiado grave para continuar a ser vivido em silêncio.
E, por isso, a Ordem dos Psicólogos Portugueses (a propósito do Dia Mundial Para a Prevenção do Suicídio) editou o documento "Vamos Falar sobre o Suicídio", uma espécie de guia útil com orientações que vão desde a prevenção até às melhores formas de lidar com o pós-suicídio ou tentativa."

Não somos perfeitos, e as nossas conquistas e as nossas falhas são parte da nossa memória e podemos viver com elas. Estes tempos têm posto à prova a resistência às consequências da  pandemia, aos sobressaltos da governação aqui ou noutro quarteirão do mundo, aos que fazem sempre a vida mais difícil...

Os tempos são (sempre) difíceis mas a brisa sopra sempre outra vez. 







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