12/06/14

Conflito, cooperação e compromisso


O conflito faz parte da vida democrática tal como a cooperação e o compromisso. Diria mesmo que em democracia estas duas últimas atitudes fazem mais sentido e são, de algum modo, formas de partilhar o poder.
Deste modo, é interesse do regime democrático fazer com que essas formas possam ser exercidas na realidade, dando-lhes condições para isso. A democracia tem custos. Mas até onde deve ir o contributo do estado às organizações políticas ?

Em 2011, o CM noticiava: "O número de professores destacados nos sindicatos é actualmente de 281, dos quais 125 exercem actividade sindical a tempo inteiro e por isso não dão aulas, revelou ao Correio da Manhã o Ministério da Educação e Ciência (MEC)."
"...Em 2005, havia 1327 professores destacados que custavam mais de 20 milhões de euros. A ministra da Educação da altura, Maria de Lurdes Rodrigues, diminuiu esse número para 450. Em 2006, Governo e sindicatos acordaram nova redução, para 300. O número de dirigentes com dispensa de serviço docente passou a ser proporcional ao de associados dos sindicatos, pelo que a Fenprof, com 132 elementos, é a estrutura com mais dispensados."

Mas a realidade também mostra que é em democracia que os sindicatos têm uma conflitualidade mais activa. A greve devia ser o último acto da escalada de um conflito que sindicatos e empresários (incluindo o estado) não são capazes de resolver. Pelo contrário a estratégia é, permanentemente, a da confrontação.
"Mais de metade do mandato do actual Governo foi passado com greves nos transportes. Desde que o executivo tomou posse, em Junho de 2011, os sindicatos convocaram quase 500 dias de protestos, na maioria parciais ou incidindo apenas sobre o trabalho extraordinário."(Público, 18/11/2013).

No sector de educação temos uma federação nacional de professores que nunca concorda com nada, não se compromete com nada e nunca assina nada.
A cooperação e solidariedade também deviam ser palavras do vocabulário dos sindicatos e sindicalistas
A greve é um direito dos trabalhadores que a fazem e só existe em democracia porque a democracia é o único regime que a permite, já que no capitalismo de estado não há greves, para bem do povo ! Tal como a falta de liberdade e de liberdade de expressão, também são para bem do povo!

Numa democracia, o direito a fazer greve conflitua com outros direitos, como os direitos das pessoas à saúde, a serem assistidas no hospital, a fazerem as cirurgias há meses e anos marcadas, a terem escola e a fazerem exames...
A greve faz parte do sistema capitalista. É, aliás, esta a crítica que é feita pela (chamada) esquerda revolucionária, e, por isso mesmo, faz sentido do ponto de vista dela: "o sindicalismo aparece como uma forma primitiva do movimento operário num sistema capitalista estável " (A. Pannekoek, pag. 51) ... "O fim do sindicalismo não é substituir o capitalismo por outro modo de produção, mas melhorar as condições de vida no próprio interior dos sistema capitalista. A essência do sindicalismo não é revolucionária mas conservadora." (pag 53)
Essa distinção que Mises também faz entre sindicalismo de acção directa e o sindicalismo da "mentalidade proletária". Quase todos os empregados, ingenuamente, consideram-na como um meio justo e eficaz de melhorar o seu padrão de vida.

As greves são decretadas pelas cúpulas sindicais e, excepcionalmente, são ouvidos os trabalhadores. Em várias dezenas de anos de sindicalizado, foi-me perguntado uma vez se concordava ou não com a greve.
A greve tem consequências demasiado sérias e não devia deixar de ser utilizada com toda a parcimónia possível.

Não tem sido assim, e, como tal, a greve está a gerar indignação, cada vez maior, nos que lhe sofrem as consequências. Veja-se o caso das greves em Lisboa, onde se sentem mais, não pelas greves, mas pelas consequências que a paralisação do sector dos transportes implica, impedindo outros trabalhadores de se deslocarem para os seus postos de trabalho.
"Faltaram umas quantas pessoas que não puderam vir porque essa malta dos transportes faz sempre greve e quem paga é quem consegue vir trabalhar..." "E o Sorel que vá dar uma volta ao bilhar grande..."

Os sindicatos "ligados" à (dita) esquerda tradicional percebem muito bem que no capitalismo há muito mais a esperar deles do que as greves que decidem fazer. Infelizmente, dizem que lutam pelos seus direitos mas, no fundo, esperam derrubar o governo e o capitalismo. E têm conseguido trocar um governo por outro governo que, como temos visto, é sempre pior que o anterior, segundo eles. E assim continuam, sempre que chega um governo que considerem de "direita" ao poder não esperarão mais que alguns meses sem pedir a sua demissão.

O Secretário-geral da UGT critica o recurso constante à greve e diz que Governo deve levar o mandato até ao fim. "Sindicalizar e sindicalismo tem a ver com defender os trabalhadores e não é pela agitação que resolvemos as coisas. Não é por greves todos os dias que se resolvem os problemas dos trabalhadores". 
Já é um progresso.

Por isso, faz todo o sentido o debate sobre este assunto: "Em política, afirmou ainda (Lobo Antunes), o compromisso significa cedência, porque cada um tem de ceder um pouco para se alcançar um projecto comum. É preciso pensar Portugal com capacidade de ouvir o outro e gostaríamos que saísse desta reunião matéria de reflexão." (Expresso)
Em 10 de Junho, o apelo ao compromisso foi novamente renovado, um entendimento de médio prazo, tempo de diálogo...
Não podemos deixar de ter esperança mesmo quando aos profissionais de manifestações apenas interessa o ruído e o "status quo" e aos profissionias da política jogar para canto.

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