04/11/11

Não finjam que não existiu


No final do documentário sobre o 11 de Setembro é referido: "agora não finjam que não existiu".
A memória é de facto curta e espera-se algum tempo para que o esquecimento faça o seu trabalho.
A democracia é a possibilidade de alternativas, de alternâncias, de lideranças democráticas substituíveis e de rejeição absoluta dos chamados líderes carismáticos insubstituíveis.
A ideia de que há políticos insubstituíveis, como no governo anterior, afinal, não passava de realidade de teleponto culminando nessa indução religiosa “vocês estão comigo?, precedida do congresso de fidelização de 93,3%.
Em 5 de Junho houve mudança porque, felizmente, muitos cidadãos lutaram democraticamente para que ela fosse possível. Personalidades independentes, como Medina Carreira e António Barreto deram um contributo inestimável à democracia participativa.
A mudança não veio daqueles que na véspera de 5 de Junho ainda afirmavam que Sócrates era a pessoa indicada para continuar na liderança. Mário Soares, num comício no Porto, deu três evidências para manter Sócrates no poder: "ganhou uma experiência excepcional, tem amigos na Europa e conhece toda a gente".
O país pode dever muito a Soares mas não lhe deve certamente o afastamento de Sócrates. 
Parece evidente que, afinal, há líderes políticos, mais competentes, técnica e politicamente, neste país, como haverá quando este governo cair porque é próprio dos governos, em democracia, chegarem ao fim. Os que não caem é porque são “uma nódoa e só saem com benzina” (Eça). O pior como temos visto ultimamente, é quando a queda se faz de forma trágica para os próprios e  para os povos quando um líder tido por carismático se prolonga no poder décadas a fio.
Era necessário algum ar fresco, no estilo, mas também na humildade democrática, no diálogo, na ausência de tiques autoritários, na governação para as pessoas, numa gestão sem confrontos inúteis e, principalmente, na verdade: não há possibilidade de sustentar o apregoado estado social que o neo-socialismo pensa que é ilimitado.
A ideia de que o poder é temporário e de que o pensamento único e unânime é pernicioso e, por isso, o poder deve ser questionado, principalmente quando é de maioria, deverá ser o normal numa democracia.
A crítica interna, é fundamental: o actual poder não sabe a sorte que tem quando é criticado livremente, com mais ou menos razão, de forma mais estruturada ou não, por pessoas como Pacheco Pereira, Marcelo Rebelo de Sousa, Santana Lopes, Ferreira Leite, Cavaco Silva, etc. 
A crítica e todo o contraditório que existe na sociedade, são a essência da vida democrática. Não há ninguém acima da lei e também não há ninguém acima da crítica, muito menos dentro do poder.
“Precisamos de dirigentes que saibam correr riscos e tomem decisões, mas também precisamos que admitam os seus erros”, David Owen.
Gosto das “notas” de PP Coelho e de quando não as segue. No dia em que começar a usar o teleponto por/para tudo e por/para nada começará o fingimento e a decadência.
Afinal, havia outra… politica e maneira de a fazer. Mesmo que as dificuldades sejam imensas.
A memória é curta mas desta vez que leve muito tempo até fingirem que não existiu...

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