As férias, os aniversários e outras datas relevantes, são a oportunidade para reunir a família numa maior proximidade, em que estão presentes boas e más recordações. É nessas alturas que revivemos memórias familiares, especialmente as mais profundas que vêm da infância e da adolescência e os esquecimentos que de alguma forma se podem tornar conscientes pela interacção da comunicação intrafamiliar.
É fácil verificarmos como nos esquecemos de acontecimentos e de vivências familiares. Muitas histórias passadas há anos são agora apenas uma lembrança desfocada daquilo que na realidade aconteceu, uma lembrança optimista ou pessimista do que se passou. O tempo desfez os pormenores mais dolorosos os mais difíceis de suportar, ou não, tornando-os em ressentimentos sem fim ou tornando-os em memórias felizes e de grande euforia. A interpretação desses episódios é ainda mais interessante: muitas vezes não há coincidência entre a interpretação dada pelos pais e pelos filhos.
Por outro lado, temos a lembrança encobridora (Freud): recordamo-nos de algo aparentemente irrelevante mas que nos permite compreender outras experiências mais profundas.
A forma como os pais educaram é muitas vezes vista pelos filhos como não sendo assim, na sua realidade, dado que as emoções que estiveram associadas às acções praticadas não foram valorizadas da mesma forma, nem podiam ser, uma vez que os estatutos e papéis de pais e filhos na relação educativa são diferentes e, assim, desvalorizamos uns factos e relevamos outros.
A memória da família é constituída pelas memórias de cada pessoa que a integra no contexto conhecido e partilhado por todos mas ficamos surpreendidos quando sobre a mesma história não há coincidência. A memória da família é o conjunto dessas memórias, a cultura da família, o conjunto de narrativas, verdadeiras e falsas, felizes ou dolorosas.
Podemos perguntar, por exemplo, como é que educou os seus filhos: com agressividade, violência, ou foi estilo laissez-faire e passivo ? Acha que os seus filhos concordam com a sua perspectiva ? Teria educado de outra forma ? Onde, afinal, errou ?
Pensa que foi um bom educador e isso corresponde à imagem que os seus filhos têm de si e às várias circunstâncias (estádios de desenvolvimento) da educação? Até que ponto os obrigou a escolher um curso académico ou uma profissão? Como influenciou as escolhas dos namorados/as? Como reagiu ao seu primeiro emprego, ou à suas dificuldades em encontrar emprego ?
Obviamente, a influência dos pais é fundamental na educação dos filhos. Há pais que, de facto, não sabem o que fazer e acham que devia ser a escola a educá-los a serem cidadãos. É descartar o grande poder que os pais têm na modelagem (Bandura) ou na aprendizagem por condicionamento de ordem superior, como dizem os behavioristas.
As memórias da família são construídas na infância e adolescência. Mas elas também influenciam o futuro. A construção de boas memórias é responsabilidade dos pais e, mais do que qualquer outra influência positiva, a educação emocional (Erika Brodnock) é a mais importante: como saber lidar com as emoções, alimentar a auto-estima, saber como funciona o nosso cérebro, estimular a criatividade…
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