24/04/16

Spitz na actualidade


A fotógrafa norte-americana Dayna Mager partilhou esta história: "Quando entrou numa enfermaria com mais de 100 berços, ficou chocado com o silêncio e perguntou a quem o acompanhava como era possível que um espaço com tantos bebés estivesse tão silencioso. "Depois de estarem cá há uma semana e de chorarem durante horas incontáveis, acabam por parar de chorar quando percebem que ninguém vem".
Há outros países onde a infância está em idênticas condições. Basta pesquisar "crianças orfãs" ou "orfanatos"...
Em 1951, René Spitz, publicou The Psychogenic Diseases in Infancy - An Attempt at their Etiologic Classification. Psychoanalytic Study of the Child.
Em 1952, registou a sua pesquisa em filme.


Spitz usa o termo "depressão anaclítica" para se referir a privação emocional parcial (a perda do objecto amado). Quando a criança volta a essa relação dentro de um período de três a cinco meses, a recuperação é rápida. 
Quando a criança é privada mais de cinco meses, os sintomas de deterioração são cada vez mais graves. Ele chamou isso de privação total de "hospitalismo ."
Neste estudo sobre "carência afectiva total", Spitz verificou que a separação traz sempre consequências funestas quaisquer que tenham sido as relações anteriores entre a mãe e a criança.
O estudo foi realizado com 91 crianças internadas num orfanato desde os 3 meses de idade,
- entregues aos cuidados de enfermeiras que tinham a seu cargo 10 ou mais crianças,
- do ponto de vista físico os cuidados dispensados às crianças eram perfeitos: habitação, higiene corporal e alimentos iguais ou melhores do que em outras instituições onde Spitz fazia outras observações,
- mas Spitz considera que cada uma delas recebia apenas a décima parte das “provisões afectivas maternas” que para Spitz significava uma carência afectiva total.
- O “sindroma do hospitalismo” seguia os mesmos estádios dos casos de “privação afectiva parcial”, agravando-se a partir do 4º, 5º mês após a separação. As crianças apresentavam as seguintes características:
-Letargia e descoordenação motora acentuam-se progressivamente,
- aparecem, em alguns casos, deficiências de coorenação ocular e posturas similares à catatonia,
- 37% das 91 crianças atinge o estado de apatia total ou de marasmo,
- Este estado conduziu à morte de 27 crianças no decurso do 1º ano de vida,
- Mais 7 no decurso do 2º ano.
A continuação do estudo manifestou o seguinte: 
- 4 crianças - não foi possível continuar a recolher informações,
- 32 foram colocadas em famílias adoptivas e instituições,
- 21 continuaram a viver ou sobreviver no orfanato;  continuaram a ser observadas por Spitz até aos 4 anos de idade.
Nível de desenvolvimento global, avaliado por diversos testes manifestou:
- atraso generalizado, em alguns casos nível de idiotia.
- Indicadores de desenvolvimento global com perturbações:
. desenvolvimento corporal,
. actividade de manipulação ou coordenação de movimentos,
. adaptação ao meio (domínio dos esfíncteres e correlativa aquisição de hábitos de limpeza),
. domínio da linguagem.
- Grupo de controlo
. Spitz observou crianças de outra instituição de natureza mais familiar e em que as crianças eram educadas pelas próprias mães
. Durante 4 anos, em 220 crianças não se registou nenhum caso de mortalidade.
Conclusão
a) A carência afectiva completa conduz à deterioração progressiva do desenvolvimento e que esta é directamente proporcional à duração da carência.
b) “A carência do afecto provoca uma paragem no desenvolvimento de todos os sectores de personalidade”.
c) “Tanto o sindroma do hospitalismo como a depressão anaclítica constituem prova irrefutável do papel fundamental que as relações objectais desempenham no desenvolvimento psicológico global”.

Graças, também, ao trabalho de Spitz foi possível registar grandes mudanças no acolhimento dado às crianças em todo o mundo mas 65 anos depois ainda há muito por fazer...


Minha doce criança (Sweet child o' mine)

Ela tem um sorriso que me parece
Trazer recordações da infância
Onde tudo era
Fresco como o límpido céu azul

Às vezes quando olho seu rosto
Ela leva-me para aquele lugar especial
E se eu fixasse meu olhar por muito tempo
Provavelmente perderia o controle e começaria a chorar

Oh, oh, oh
Minha doce criança
Oh, oh, oh, oh
Meu doce amor

Ela tem os olhos como os céus mais azuis
Como se eles pensassem em chuva
Detesto olhar para dentro daqueles olhos
E enxergar o mínimo que seja de dor

Seu cabelo me lembra um lugar quente e seguro
Onde, quando criança, eu me esconderia
E rezaria para que o trovão e a chuva
Passassem quietos por mim

Para onde vamos
Para onde vamos agora



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