16/06/15

Pares e pais, ajuda e conflito

Georges Brassens - Les copains d'abord * (1964) 

O grupo de pares é um dos contextos mais importantes para os adolescentes. Fazer parte dum grupo, ser aceite e reconhecido, ser parecido com os elementos do grupo é um processo fundamental na adolescência
A influência dos pares resulta da informação e serve como fonte de conhecimento dos padrões de comportamento, atitudes, valores e suas consequências em diferentes situações e da influência normativa , ou seja, da pressão exercida pelos pares ** para que se comporte com os outros.
Esta influência resulta de processos psicossociais como a comparação social e o conformismo. Particularmente nesta idade os outros são o espelho, os modelos de funcionamento; os mesmos padrões de comportamento: vestir, falar, comportar-se, regras, hábitos… "Enfim, nada é mais incontestável do que os mentores: os «copains d'abord» tão queridos a Brassens. É imperativo que nos assemelhemos a eles, sejamos como eles". (Yvonnne  Poncet-Bonissol, Adolescentes -  Crises, revoltas, fracturas, pag 17)
O início da adolescência parece constituir o período em que o conformismo aos pares é máximo e vai atenuando à medida que evolui a autonomia e as diferenças no pensamento, atitudes e comportamentos.

Certamente, uma das preocupações dos pais e da sociedade são os comportamentos de risco e de saúde dos adolescentes e da influência que os pares podem exercer.
Estudos *** com alunos dos 6º, 8º e 10º anos, revelaram o seguinte:
- o grupo de pares influencia o envolvimento em comportamentos de risco e de saúde dos adolescentes, mas os pais surgem como mais protectores para a saúde dos adolescentes.
- a falta de amigos pode agir como risco para o maior envolvimento em comportamentos relacionados ao consumo de tabaco, álcool ou substâncias ilícitas. Os adolescentes com menos amigos são mais infelizes, estão menos satisfeitos com a vida e têm menor bem-estar.
- os adolescentes com mais amigos com qualidade, dentro ou fora da escola, têm menor envolvimento em comportamentos de risco (consumo de tabaco, álcool e substâncias ilícitas), têm menor envolvimento em comportamentos de bullying, enquanto vítimas e provocadores, gostam mais da escola, são mais felizes, estão mais satisfeitos com a vida e têm maiores níveis de bem-estar.
- a variável com maior impacto para o menor envolvimento em comportamentos de risco é ter menos amigos com comportamentos de risco. Ter amigos com comportamentos de protecção surge com maior impacto no menor envolvimento em comportamentos de violência.
A comunicação com os pais tem efeito importante para o menor envolvimento em comportamentos de violência e efeitos positivos para o bem-estar.
Pode-se concluir que os pares têm grande impacto nos comportamentos de risco e de saúde dos adolescentes portugueses. Que a sua influência surge como protectora para o envolvimento em comportamentos de risco quando os amigos têm menor envolvimento nesses comportamentos ou maior envolvimento em comportamentos de protecção e que potenciam o bem-estar e a saúde quando a comunicação com os amigos é fácil e a amizade é considerada como de qualidade e os amigos têm mais comportamentos de protecção.

Contrariamente às concepções mais tradicionais que viam nesta interacção dos pais e dos pares como um conflito de gerações, os pares têm influência nos comportamentos dos adolescentes e o tipo de monitorização dos pais também influencia como os pares. Quando os sentimentos do adolescente em relação à família não são positivos então os pares são potencialmente mais influentes do que os pais. Mas o contrário também é verdadeiro.
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