11/06/15

Quando o melhor amigo deixa de ser amigo

Clã - Amigo do peito (Disco voador)

Há duas semanas que vimos falando da amizade, principalmente da amizade na adolescência.
Todos sabemos a importância que tem o amigo, o melhor amigo, o amigo preferido, o amigo do coração, o amigo do peito, o amigo incondicional…
O que leva duas pessoas a serem amigas? Como se constitui e se desenvolve a amizade ?
Ter amigos é benéfico para o desenvolvimento mas pode ser prejudicial e pode influenciar os nossos comportamentos negativamente. De uma forma mais vulgar, pode levar-nos por maus caminhos. Ou como os pais dizem : foram os “amigos” que o desviaram.
Ora bem, “A amizade pode ser entendida como um processo de interacção interpessoal através do qual os indivíduos se sentem inclinados a associar-se com outros, nos quais antecipam maior aceitação, apoio emocional ou identidade de características de personalidade, capacidades, interesses e valores. (Isabel Soares, «O grupo de pares e a amizade», in Psicologia do desenvolvimento e educação de jovens, coord. B. Paiva Campos, vol. II Universidade aberta, pag. 118)
Há nas interacções interpessoais ligadas ao desenvolvimento da amizade três dimensões importantes:
conhecimento íntimo do amigo, semelhança, complementaridade e diferenças entre amigos e estabilidade na relação de amizade
1. Quanto ao conhecimento íntimo do amigo, é uma das caraterísticas mais referidas sobre a relação de amizade entre os adolescentes.
Só por volta do 6º ano de escolaridade ou mais tarde os jovens falam da amizade em termos de partilha de sentimentos e pensamentos íntimos;
entre o 5º e 11º ano de escolaridade fazem cada vez mais auto-revelações íntimas e conhecimento íntimo mútuo.
Há alguns estudos que referem que as raparigas mostram mais intimidade do que os rapazes. No entanto há consistência sobre isso.
2. A semelhança e complementaridade entre amigos, são principalmente dependentes dos contextos socais e escolares.
Há semelhança entre amigos no que diz respeito à idade, sexo, raça, estatuto pubertário, atitudes e aspirações escolares, rendimento escolar, atitudes face ao processo educativo e participação nas actividades escolares
A organização escolar é baseada em grande parte nestas semelhanças: organização das turmas, organização de actividades, inclusão...
No entanto os resultados da investigação são mais controversos no que respeita à semelhança e complementaridade dos traços de personalidade , valores e interesses.
Podemos concluir que a amizade é sempre uma mistura de semelhanças e de diferenças.
Por outro lado, na adolescência, a consciência das diferenças de personalidade influencia a selecção dos amigos.  Se a amizade é baseada nas semelhanças, os ritmos de crescimento vão acentuar as diferenças e vão surgindo mais conflitos. A integração de semelhanças e diferenças através de um processo de negociação e resolução do conflito acaba por reforçar e enriquecer a amizade.
3. A estabilidade da relação de amizaade parece ser maior à medida que se dá o desenvolvimento, a maturidade cognitiva e socio-emocional.
as mudanças físicas e as mudanças nos contextos sociais são factores que podem levar à instabilidade da amizade e a conflitos nas relações de amizade
Pode até ocorrer a ruptura e o fim da amizade o que nem sempre é negativo já que pode activar o surgimento de novas amizades e a construção de relações mais adequadas e competências sociais mais complexas. 
Os pais gostarão deste desfecho quando os filhos abandonam comportamentos inadequados e devem apoiar a ultrapassar esta instabilidade.
Em alguns casos, neste processo de desenvolvimento a amizade pode não ser para sempre. Talvez porque não era amizade. Ou como disse Séneca: “Quem deixou de ser amigo nunca foi amigo”.


Sem comentários:

Enviar um comentário