23/11/22

O reflexo de liberdade



 

Os seres humanos vivem condicionados por comportamentos inatos e por comportamentos aprendidos.
Como sabemos, a investigação de Pavlov (1849-1936), com cães, ficou conhecida como uma forma de aprendizagem - o condicionamento clássico.
Pavlov observou que os cães salivavam perante um estímulo incondicionado, a carne, isto é, provocava uma resposta incondicionada.
Quando associou uma estímulo sensorial neutro, o som de uma campainha, que não provocava qualquer resposta, com um estímulo incondicionado (a carne, que provocava a resposta incondicionada da salivação), verificou que, após algumas associações, o som da campainha se tornou num estímulo condicionado, pois à sua presença, os cães reagiam com a salivação, agora resposta condicionada.
O condicionamento clássico é um tipo de aprendizagem em que um organismo aprende a transferir uma resposta natural perante um estímulo, para outro estímulo inicialmente neutro, que depois se transforma em condicionado. Este processo dá-se através da associação entre os dois estímulos (incondicionado e neutro).
Sabemos bem as consequências desta descoberta para a nossa vida.

Pavlov verificou também, já na parte final da sua vida, tanto no homem como no animal a existência de dois importantes reflexos inatos: o reflexo de finalidade e o reflexo de liberdade.
O reflexo de finalidade verifica-se quando somos atraídos por certos estímulos que se tornam importantes na nossa vida, somos atraídos por fenómenos novos, novas experiências mesmo que aparentemente sem qualquer utilidade... que se traduzem em equilíbrio do nosso organismo, nos acalmam e por isso, desejamos repetir.
Para Pavlov a vida deixava de ser atraente desde que não tivesse finalidade.

“O reflexo da liberdade, diz Pavlov, é uma reacção geral dos animais. É um dos reflexos inatos mais importantes. Sem ele, o menor obstáculo encontrado pelo animal bastaria para modificar completamente a sua vida.
A existência deste reflexo de liberdade tinha-lhe sido demonstrada por um cão, que, mal fosse colocado nas condições de trabalho experimental, apresentava uma salivação espontânea, contínua, que o tornava "inutilizável"."
Pavlov descobriu então que “o cão não suportava qualquer entrave quer dizer que se mantinha calmo e sem salivação apenas em liberdade total: podia-se mesmo nestas condições condicioná-lo eficazmente." *

Perante este reflexo de liberdade existirá também um 'reflexo de servidão' inato ?
"Pavlov respondia pela afirmativa, declarando que este reflexo protegia o fraco contra o forte, isto é, que um gesto de submissão tinha por resultado fazer cessar um gesto de agressão (o cachorro, apontava ele como exemplo, deita-se de costas perante um canzarrão). Pavlov pensava que este reflexo podia existir no homem, e tentou defini-lo ... como  'reflexo de escravidão'." *
"Pavlov deplorava que o 'reflexo de escravidão' se manifestasse tão frequentemente na Rússia 'sob os aspectos mais variados'. Ele pedia que se tomasse consciência desse facto a fim de melhor lutar no sentido da sua anulação, porque o reflexo de escravidão provocava por sua vez a inibição do reflexo de finalidade: A servidão fez do servo um ser passivo, sem qualquer desejo, sendo as suas aspirações, as mais legítimas, continuamente entravadas pelas vontades e os caprichos dos senhores." *


Até para a semana

 

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* H. Cuny, (1976), Pavlov, Círculo de Leitores, (Capítulo quarto, 1 - Condicionamento e evolução do Homem), pags. 103 - 113.

 

 

 




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