02/11/22

A Cimeira sobre a protecção das crianças





De 21 a 24 de Fevereiro de 2019 realizou-se no Vaticano a Cimeira sobre A protecção dos menores na Igreja. Juntamente com a publicação da Carta Apostólica Vos estis lux mundi (Vos sois a luz do mundo) deu-se início a uma nova visão e acção do papel da Igreja na protecção das crianças e pessoas vulneráveis. O Papa Francisco continuou pelo caminho difícil mas certo do seu antecessor, Bento XVI, (Luz do mundo): o caminho das respostas a este problema dando relevo à responsabilidade, responsabilização e transparência no que se refere à posição da Igreja relativamente aos abusos sexuais e à gravidade que representam.

Desta forma, foi ao encontro da história quando, na segunda metade do século passado, Instituições como a ONU criaram o quadro normativo da protecção da infância.
Foi também neste período que a investigação, designadamente no campo da psicologia, veio mostrar a importância das relações afectivas entre adultos e crianças e a necessidade urgente da prática de bons tratos devidos às crianças.

Bento XVI e Francisco compreenderam profundamente o problema. E foi com grande coragem que o encararam não temendo as vozes críticas e discordantes ou mesmo as consequências que a sua posição pudesse ter para os católicos e para a Igreja.
As críticas e a discussão têm-se centrado na desvalorização do tema, intencional ou não, e no medo das consequências:
Há quem ache que “se abriu a caixa de Pandora”...  A alternativa seria o silêncio e o encobrimento que sem dúvida seria, esse sim, mais grave para a credibilidade que a Igreja tem na sociedade actual e deve continuar a ter.
Há quem ache que “são muitos casos” ou "não são muitos casos" relativamente, por ex., ao número de casos dentro da família ou relativamente ao número de casos de outras instituições ou a outros países.
Nesta matéria a leitura estatística é sempre insuficiente. É por isso que mesmo que toda a gente saiba o que quis dizer o presidente Marcelo nem por isso deixou de ser contestado e bem por aquilo que disse. Podemos fazer todas as comparações estatísticas com outros países (Irlanda, Estados Unidos, França...) que não deixa de ser profundamente lamentável o que se passou. Não há palavras nem desculpas, nem justificações, nem vitimizações que possam ter mais relevo do que o sofrimento infligido às vítimas.
Como refere Bento XVI, o mal existia dentro da Igreja e no meio do trigo havia joio, como Jesus disse, e, para quem é bem intencionado, não se pode confundir a nuvem com Juno mas nada há que possa desculpar qualquer abuso ou encobrimento.
Pode haver quem ache que "era outro tempo". Conhecemos a história da infância. Os maus tratos de crianças eram aceites ou tolerados ou eram tabu, todos sabiam da sua existência mas ninguém falava deles. 
Mas o problema é dos dias de hoje: Segundo o RASI (Relatório anual de segurança interna 2021) 53,1% dos crimes de abuso sexual aconteceram em contexto familiar.
Independentemente do número de casos, acontece que toda a investigação nos informa do problema devastador que causa nas vítimas e se tornou intolerável na sociedade actual.
Esta situação é ainda mais aviltante para as vítimas que onde esperavam segurança e afecto obtiveram abuso e uma vida de sofrimento. É este o problema: “quando o sal se tornar insípido com que se salgará?” (Mateus 5:13)

Este é tempo de bons tratos e de prevenção.
Bento XVI e Francisco são exemplo não apenas para a Igreja Católica mas, em meu entender, para o mundo, e seria importante para as crianças se outras instituições criassem os seus próprios mecanismos de protecção da infância porque nesta área ninguém deve assobiar para o lado, a começar pelas famílias.

Até para a semana

 

 




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