21/10/21

Em busca do tempo perdido

Cheek to Cheek - Lady Gaga, Tony Bennett; 
Compositor: Irving Berlin 


Céu, estou no céu / Heaven, I'm in heaven
E o meu coração bate tanto que mal consigo falar / And my heart beats so that I can hardly speak
E parece que encontro a felicidade que procuro / And I seem to find the happiness I seek
Quando saímos juntos dançando de rosto colado / When we're out together dancing cheek to cheek...

 


Cheek to Cheek: Um dos duetos de Tony Bennett e Lady Gaga.  É muito bonita esta relação, quando, a partir de 2014, juntos gravaram um álbum de standards  com o nome de Cheeck to Cheeck numa altura em que Bennett já revelava sintomas da doença de Alzheimer com todas as dúvidas que se colocavam em relação ao resultado do projecto.

Segundo a sua neurologista (Gayatri Devi, neurologista no Lenox Hill Hospital em Manhattan responsável pelo diagnóstico de Tony), “aos 94 anos, ele está a fazer muitas coisas que várias pessoas com demência não conseguem fazer”. “Ele é mesmo um símbolo de esperança para alguém que sofre de uma perturbação cognitiva”, continua a médica, que nos últimos anos encorajou Bennett a manter-se "ativo, cantando e atuando ao vivo até que tal fosse possível, “uma vez que estimulava o seu cérebro de uma forma significativa”...”  (Observador)

 

T. Bennett pode ser um exemplo de como a música tem um papel fundamental na vida das pessoas mesmo quando se é atingido por uma doença tão complicada como a Alzheimer.

Oliver Sacks em Musicofilia dedica um capítulo a este assunto "Música e Identidade: Demência e Musicoterapia" (pags. 337-349) *

Sabemos que um dos sintomas principais da doença é a perda progressiva da memória. Mas até onde? Há um apagamento completo da memória a ponto de podermos falar de perda do self?

Sem dúvida que "É verdade que uma pessoa com Alzheimer perde muitas das suas capacidades e faculdades à medida que a doença progride...

Mas a perda de consciência de si poderá significar uma perda do Self, enquanto unidade e totalidade do sujeito?"

Pode haver uma regressão mas “alguns aspectos do seu carácter essencial, da sua personalidade e realidade pessoal, do seu self, sobrevivem – a par,  sem dúvida, de certas formas quase indestrutíveis de memória - até mesmo na demência avançada.”

“É como se a identidade tivesse uma base neural tão robusta e por toda a parte presente, como se o estilo pessoal estivesse tão profundamente incorporado no sistema nervoso que nunca se perdesse por completo, pelo menos enquanto houver vida mental."


“Em particular a resposta à música é preservada até mesmo numa fase muito avançada da demência.“

Tony Bennett é um bom exemplo da importância da música na nossa vida.  
A música é uma terapia ao longo da vida e ainda mais quando da vida já pouco nos recordamos.
Como diz Oliver Sacks “A música familiar age como uma mnemónica proustiana, suscitando emoções e associações há muito esquecidas, dando de novo aos doentes acesso a estados de humor e recordações,  pensamentos e mundos que aparentemente tinham perdido por completo. Os rostos ganham expressão à medida que a velha música é reconhecida e experimentada a sua força emocional.”

 


Até para a semana.

 

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 * Oliver Sacks, Musicofilia, Relógio d'Água Editores, 2008








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