10/10/21

Saúde mental



No domingo, dia 10 de Outubro,  comemorámos o dia mundial da saúde mental. Porém, sabemos que “não há saúde sem saúde mental” e não faz sentido haver qualquer separação entre uma e outra uma vez que corpo e mente estão interligados e não há corpo sem mente nem mente sem corpo. António Damásio em O erro de Descartes explicou esta ligação. (p. 255)
Segundo a OMS “A saúde mental é um estado de bem-estar no qual o indivíduo realiza as suas capacidades próprias, pode manejar as dificuldades normais da vida, pode trabalhar de forma produtiva e frutuosa, e é capaz de prestar uma contribuição para a sua comunidade.” referido por J. M. Caldas de Almeida

A nossa saúde mental depende de vários factores bio-psico-sociais.  No entanto, refere o psiquiatra Caldas de Almeida: “Para o paradigma científico actual, ..., o mais importante não é apenas reconhecer a relevância dos vários tipos de fatores (biológicos, psicológicos e sociais). O que sabemos hoje é que a saúde mental e as perturbações mentais resultam de uma interacção complexa entre fatores biológicos e ambientais. Antigos dilemas, como os de natureza versus ambiente ou orgânico versus psicológico, sabe-se hoje, são afinal falsos dilemas.
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Por outro lado, “A multifatorialidade dos determinantes das perturbações mentais tem implicações importantes na seleção das estratégias de tratamento para as diversas perturbações mentais.” J. M. Caldas de Ameida, A saúde mental dos portugueses, FFMS (p.19-20)

A comemoração desta efeméride de nada serve se os cidadãos, em especial os doentes, não virem melhoras na capacidade de resposta do sistema de saúde, se não sentirem que são atendidos quando não se sentem bem. 
Esta data deve servir pelo menos para se fazer o ponto da situação da saúde mental no país. Foi o que fez a Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP). E o panorama não é bonito. Não vou maçar com números. Apenas dizer que:
- Um em cada cinco portugueses sofre de um problema de saúde mental (23% da população).
- Somos o segundo país da OCDE com maior prevalência de problemas de saúde psicológica
- somos o quinto país da OCDE com mais consumo de ansiolíticos e antidepressivos.
E que:
"Lamentavelmente, mais de dez anos após a criação do Programa Nacional de Saúde Mental verificam-se algumas tendências: 
(i) A inexistência de uma estratégia integrada para a promoção da saúde mental e para a prevenção das perturbações mentais...; 
(ii) o aumento da prevalência da depressão e ansiedade na população portuguesa... 

Para o governo, no entanto, “A aplicação do Programa Nacional de Saúde Mental 2020/30 está a decorrer como previsto, apesar das dificuldades causadas pela pandemia de Covid-19". (Secretário de Estado da Saúde Diogo Serras Lopes)

Esta visão, contraditória com a da Ordem dos Psicólogos, faz-nos pensar que vai tudo continuar na mesma. Mas poderá acontecer que a "basuca", 85 milhões de euros para a área da saúde mental) ajude a que os portugueses tenham melhor acesso à saúde mental, porque a doença não espera... e não acontece só aos outros.


Até para a semana.
 


 


 

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