02/10/15

Marsmallow, austeridade e eleições

Como vimos, a experiência de vida, realizada numa perspectiva temporal global, se foi baseada na confiança, vai ser uma variável importante na resposta ao teste marshmallow. Com um ambiente confiável vale a pena esperar pela recompensa. Walter Mischel já tinha colocado o problema das crenças das crianças a quem foram prometidas recompensas mais tarde, serem realmente postas como uma importante determinante da escolha, mas as suas experiências posteriores não levaram tais factores em conta...
Um estudo de 2012, da Universidade de Rochester, em Nova York, realizado por Celeste Kidd *, principal autora do estudo, questionava a capacidade de autocontrole como um único marcador inato e se não haveria relação com um ambiente estável ou não.
Para testar essa hipótese os participantes (28 crianças de 3 a 5 anos) foram divididos em dois grupos, um exposto a um ambiente não confiável (promessas feitas pelos investigadores que não eram cumpridas depois) e o outro, a um ambiente confiável (tudo que era prometido era entregue mais tarde).
O grupo de teste confiável esperou por um tempo quatro vezes maior (12 min) que o não confiável para que o segundo marshmallow aparecesse.
As crianças do ambiente não confiável esperaram uma média de três minutos e dois segundos. Apenas uma das 14 crianças deste grupo esperou o tempo combinado, em comparação com as nove crianças do grupo da condição de confiança.
Para os autores, os resultados foram surpreendentes. Em estudos anteriores o tempo de espera médio das crianças foi entre 6,08 e 5,71 minutos.
A manipulação do ambiente duplicou o tempo de espera no estado de confiança e reduziu metade no caso do grupo de ambiente não confiável.
Os autores concluem que este grande efeito da manipulação do ambiente fornece fortes evidências de que o tempo de espera das crianças reflecte a decisão racional sobre a probabilidade de recompensa.

Mesmo crianças de tenra idade e com o conhecimento do mundo limitado, são capazes de adaptar a tomada de decisão de forma muito eficiente, buscando a máxima recompensa. Elas apenas precisam de receber provas de que a decisão de facto pode maximizar o resultado.
Diferentemente do que era pensado e da conclusão a que chegou o Walter Mischel, nos anos 60, as crianças não estão totalmente à mercê de seus impulsos. “Isso demonstra que o processo de tomada de decisão é muito mais adaptável e flexível que tínhamos imaginado”.
As crianças, mesmo as muito jovens, eram capazes de esperar, quando munidas de evidência de que a paciência valeria a pena. E quando foram fornecidas evidências contrárias, elas aproveitaram o momento e fizeram o melhor dessa situação. O comportamento que parece impulsivo pode ser, na verdade, resultado de um processo muito sensível de tomada de decisão. 
Como os adultos, as crianças usam experiências anteriores para formar suas decisões em situações novas. Então não é apenas a força de vontade, como na primeira experiência, que é o factor principal na decisão das crianças.

Como refere Filipe Nunes Vicente, vale a pena o esforço e vale a pena esperar. "O ódio à pequena burguesia". "Quem pagou estes anos foi essencialmente a classe média. A classe média foi sempre humilhada pela esquerda bem pensante: desde 1975 que é uma mole analfabruta e ígnara. Do gozo com a maison do emigrante ( agora têm muita pena deles) ao epíteto de mentalidade merceeira (entre dezenas de exemplos), este ódio esteve sempre bem presente na matriz da esquerda bem pensante.
Pois bem, o merceeiro, a rapariguinha do shopping, o emigrante, é que foram apertados, mas fazem umas contas simples. Durante estes anos penaram enquanto ouviram a esquerda bem pensante (e algumas aves de arribação) apregoar o caos e a inutilidade do seu esforço. Não gostaram e não querem ser, de novo, mulas de carga."

Num ambiente familiar confiável, é possível, entre pais e filhos, um diálogo mais eficaz e procrastinar um presente, uma recompensa não é tarefa difícil: "agora não te posso comprar o computador mas vamos ver se no Natal...". O mesmo não acontece com pais que não cumprem as promessas.
Um ambiente confiável é então fundamental para que um resultado seja aquilo que pretendemos.

Há, no entanto, ambientes políticos pouco confiáveis: aqueles que pedem dinheiro mas acham que "na realidade, as dívidas não são para ser pagas " (Sócrates), ou acham que "se alguém me emprestou dinheiro, esse alguém é que fica com o problema" (Carlos Carvalhas), ou, pura e simplesmente, ser caloteiro "não pagamos" e, finalmente, a solução do "rapaz da bomba atómica" que considera que a dívida pode ser usada como pressão sobre os credores que perante o "não pagamos" não têm outro remédio senão ficarem sem o dinheiro e só de ouvirem falar nisso ficam cheios de tremeliques.

_______________________
* Celeste Kidd , Holly Palmeri, Richard N. Aslin., " Rational snacking: Young children’s decision-making on the marshmallow task is moderated by beliefs about environmental reliability",  Cognition, pag.109-114

Sem comentários:

Enviar um comentário