19/10/15

Serena humildade


Entrevista de Freud, aos 70 anos, ao jornalista americano George Sylvester Viereck, em 1926. Notável a humildade e a aceitação da vida como ela acontece. A importância de viver a vida sem a prosápia do desejo de imortalidade e do reconhecimento da  história. O homem que vive a vida até ao fim, "a vida tem que completar o seu ciclo de existência".
Semmering vom Hirschenkogel.JPG
Semmering
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- O senhor teve a fama - disse eu. - Sua obra influi na literatura de cada país. O homem olha a vida e a si mesmo com outros olhos, por causa do senhor. E recentemente, no seu septuagésimo aniversário, o mundo se uniu para homenageá-lo - com excepção da sua própria universidade!
- Se a Universidade de Viena me demonstrasse reconhecimento, eu ficaria embaraçado. Não há razão porque deveriam aceitar a mim e a minha obra porque tenho setenta anos. Eu não atribuo importância insensata aos decimais. A fama chega apenas quando morremos e, francamente, o que vem depois não me interessa. Não aspiro à glória póstuma. Minha modéstia não é virtude.
- Não significa nada o facto de que o seu nome vai viver?
- Absolutamente nada, mesmo que ele viva, o que não é certo. Estou bem mais preocupado com o destino de meus filhos. Espero que a vida deles não venha a ser difícil. Não posso ajudá-los muito. A guerra praticamente liquidou com minhas posses, o que havia poupado durante a vida. Mas posso me dar por satisfeito. O trabalho é minha fortuna.
Estávamos subindo e descendo uma pequena trilha no jardim da casa. Freud acariciou ternamente um arbusto que floria.
- Estou muito mais interessado neste botão do que no que possa acontecer depois de morto.
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