16/09/15

Governando um ninho de cucos...

cap 1 - Capacidade e incapacidade
1. A dificuldade de estabelecer consensos e ou compromissos, tem sido demonstrada por diversas vezes e foi essa incapacidade que levou à queda do governo minoritário, em 2011.
Em 2009, foi assim: José Sócrates falou em "extraordinária vitória eleitoral", prometeu que o PS governará "com o seu programa eleitoral" mas não adiantou nem uma vírgula sobre como conseguirá a "estabilidade que esta legislatura merece". Se na pré-campanha deixou antever a vontade de governar sozinho, mesmo sem maioria absoluta, ontem não fechou a porta a nenhum tipo de acordo, nem sequer a coligações." Não foi capaz de concretizar com nenhum partido da dita esquerda ou da dita direita nem sequer com  um acordo parlamentar.
No mesmo sentido, o ministro dos Assuntos Parlamentares argumentou hoje que o programa eleitoral do PS foi sufragado pelos portugueses e que, por isso, governar com esse programa "é o acto mais coerente que seria esperável do Governo".
Este foi o resultado, em 2011, 

2. O mérito de  Passos Coelho e Paulo Portas foi o de  terem conseguido estabelecer um compromisso de governação,  apesar dos sobressaltos (só faltava que não houvesse conflitos políticos numa  governação em democracia) que aconteceram designadamente com a saída do ministro das finanças Vítor Gaspar e da demissão (ir)revogável do ministro dos negócios estrangeiros Paulo Portas.
Essa capacidade de fazer compromissos foi fundamental para o perfil politico de um governante que, nos dias de hoje, abdicando das propostas do próprio partido, tendo que fazer cedências, conflituando, chegando perto da rotura, conseguiu que a coligação se mantivesse.
Isto quer dizer que não puderam executar o programa do respectivo partido, ficando à beira da rotura quando se colocava a chamada linha vermelha (como o problema das pensões)  como limite para as cedências (Paulo Portas).
3. Esse compromisso, foi ainda mais relevante porque ao fim e ao cabo tiveram que executar um programa da responsabilidade e acordado pelo governo anterior com a troica, perdão, as instituições de credores, que veio impor as condições, de que resultou perda de soberania e humilhação correspondentes, em cada visita de avaliação do cumprimento do programa de ajustamento pelos técnicos dessas instituições credoras. Humilhação de quem não é capaz de se governar a si próprio como mostraram os governos de Sócrates.


4. Foi ainda fundamental pela resistência ao desgaste dos "casos" das primeira páginas. A um compromisso de governo chamaram casamento de conveniência. Se bem que  na Europa são mais os governos que resultam deste tipo de casamentos.
Neste casamento há quem desempenhe muito bem o papel de alcoviteiras políticas. Nada de propostas positivas e construtivas mas intriga recorrente pelas questões mais mesquinhas, todas as possíveis para que o casamento se desfaça como a questão da demissão ter sido  por sms, por carta, ou das duas maneiras.
Todas as semanas um caso novo, fez parte da agenda politico-mediática. Mas até onde pode chegar o ridículo? Como é possível fazer um caso com o facto de o calendário escolar começar uma semana mais tarde ou uma semana mais cedo... De imediato pede-se a demissão do ministro.
Habitualmente, a escalada dos pedidos de demissão é sempre a mesma: começa pela demissão de um  ministro, quando acontece, devia ser de todo o governo; querem que o ministro peça desculpa pelos erros na colocação de professores, pede desculpa, e depois devia era demitir-se...

5. Passos definiu-se quando na crise Portas/Gaspar afirmou "não me demito e não abandono o meu país". O governo conseguiu resistir  e completou a legislatura. De igual modo , quando conseguiu, em quase todos os aspectos da governação, melhorar em relação a 2011.

cap 2 - mitos urbanos
1. Mais uma estória de encantar e, de como com uma cajadada se matam dois coelhos, salvo seja: resolve-se o problema dos refugiados e o das belas florestas nacionais.
Sempre me pareceu que o candidato tinha solução para tudo: para as finanças, para a economia, para o crescimento, para o serviço nacional de saúde que a coligação quer destruir, para a "escola pública" que querem destruir, para a segurança social, para o desemprego, 207 mil empregos, primeiro promessas, depois estimativas, para colocar os milhares de professores que não têm colocação nas escolas, para a segurança social, que o outro candidato concorrente e actual primeiro ministro quer destruir, para a segurança social, outra vez, sem cortes nas pensões... E até para os refugiados tem uma solução que não deixa de ser encantadora: roçar mato. 
Talvez começar por limpar as ruas de Lisboa fosse outra boa solução. Mas agora quem lá manda é um senhor que não foi a eleições...

2. Disse Costa que "a direita é a troica". Independentemente de saber o que é isso de direita ou de esquerda e quem é de direita ou de esquerda, Costa tem toda a razão. Se a "direita é a troica", Costa e tudo o que ele representa é a bancarrota.
Por mais cambalhotas que invente e queira negar o passado, toda a gente sabe quem foi que chamou e porque chamou a troica. José Gomes Ferreira dá uma ajuda:


José Gomes Ferreira - os três embustes

3. Das inanidades aos bordões políticos, tipo massacre comunicacional até que sejam verdade, o contexto é socrático, autoritário, "habituem-se", o SMS ao jornalista, são o prenúncio: "No passado sábado tivemos um novo caso com a revelação nas páginas do “Expresso” de um SMS claramente prepotente de António Costa. Enviar uma mensagem escrita ameaçadora a um director de um dos jornais mais influentes do país (e a propósito de uma crítica banal às ideias de um grupo liderado pelo economista Mário Centeno) para que o jornalista “não tenha dúvidas” sobre o que Costa pensa a respeito do respectivo jornalista está ao nível dos piores casos de José Sócrates – personagem que fazia questão de intimidar jornalistas pelos decibéis da sua voz." (Luís Rosa, Jornal I, O PS de Costa, a justiça e os media, 6/05/2015).
Tal como na entrevista ao jornalista Vítor Gonçalves, acusa Costa "o sr. está aqui como porta-voz do dr. Passos Coelho ...".  

4. Seguro, pelo menos, antes do golpe "fraterno", reconheceu os erros e fez propostas que não agradaram ao status quo e, por isso, teve o fim que se conhece: saiu completamente derrotado e traído mas quanto a ele com dignidade que tem vindo a manter.
Propostas como, por exemplo, o salário mínimo, em que Pacheco Pereira viu subserviência através do líder da UGT, outro ostracizado, pouco se importando com as empresas que ficarão desesperadas, com a economia social IPSS - lares de idosos, centros de dia...); ou como a revisão da Constituição, com a redução para 180 deputados...

5. Outra estória de encantar que envolve extraterrestres: Bloco central ? "Só se os marcianos descerem à terra" ... (isto é que é o fim da história tal como a conhecemos).

6. Mas, há radicais e  radicais que podem ser aceites por Costa: "Manuela sim, Pacheco, não"... nem com ajuda das críticas deste, supostamente arrasadoras da coligação, Costa se comove.

7. Também é giro dizer que a coligação "traiu os seus compromissos, não merece confiança e os portugueses não perdoarão a traição à palavra dada". Ora traição é uma coisa de que Costa não devia falar.

8. Houve um debate televisivo onde nenhum dos três jornalistas perguntou sobre educação ou revisão constitucional, que se resumiu a questões formais de quem ataca ou quem defende, quem ganha ou quem perde, num jogo da força da técnica contra a técnica da força...

9. De vez e quando um abaixo-assinado. Ontem, Campos e Cunha (Olhos nos olhos) disse que o "manifesto dos 74"  tinha sido assinado "por políticos ou por ignorantes".

cap 3 - o futuro
1. Medina Carreira continua a dizer que "este estado social" consome tudo o que se produz e não chega, e assim, qualquer pequeno erro vai dar um grande sarilho: "poucas fantasias em matéria de despesa pública, porque por aí pode sair o sarilho nos juros em poucos meses".

2. Quem é Passos Coelho? Vimos Passos Coelho governar em estado de necessidade, como será  governar com o seu próprio programa

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