Entras no Centro Cultural e de repente todo um programa te faz viver. Lembras-te ? Uma espécie de Recantiga, a música, os locais, estivemos ali ? O coro ACRA, ali estavas tu com tantos amigos, tão novos, sou mesmo eu ? Era um rapaz tão jeitoso.
Não. Lembras-te antes disso? Quando os teus olhos batiam nos dela e lhe davas a mão numa dança de roda, éramos tantos...
Eu sei, de manhã tu ias para a tua escola e eu ia para a minha mas depois da escola tínhamos todo o tempo do mundo para brincar, jogar e ...a música estava lá sempre, e a ironia e o sarcasmo: "estrada nova, estrada nova, começada em Janeiro, ela não foi acabada pela falta de dinheiro".
Era a música a encontrar-nos e não sabíamos onde acabava e começava este gostar de estar contigo.
Na rua, fazíamos as nossas actividades extra-escolares e éramos tão felizes. Não, não era uma grande chatice porque nunca nos chegava o tempo para jogar... até que a nossa mãe nos chamava para voltarmos para casa e depois povoávamos os sonhos das brincadeiras, de sentidos, de namoros infantis, sempre com a música de fundo e dos malvados que corriam atrás de nós e nos queriam apanhar. "Ai, ai, ai, senhor Alfredo" e os perigos deste mundo, "não me bata o pé que eu não lhe tenho medo". Mas
tinha. Das trovoadas, "bendito e louvado seja", e quando se ouvia a "encomendação das almas" na torre da igreja. Era quando tu me vinhas salvar e trazias essa música dos teus olhos doces. Depois passei a sentir que precisava sempre de ti, "...põe-te amor onde t'eu veja, não me faças revirar".
Não. Lembras-te antes disso? Não sei, foi há tanto tempo mas sei que havia música. Era mais do pai, acho eu, que pensava que era um bom tenor e cantava a "igreja de santa cruz feita de pedra morena", e havia os versos da avó Ana, poesia que ela sabia ou inventava. Havia canções de embalar "...vai-te côca do telhado"... Mas não me lembro.
Está na hora de entrar. Creio que não é apenas um concerto que vai acontecer mas um musical da nossa vida colectiva. Sentia a calma de um regresso aonde fui feliz. "Eras tu, até que enfim, a voltar p'ra mim".
Flashback fantástico! Não há dúvida que foi um espectáculo inesquecível no Centro Cultural Raiano. Aquilo sim , aquilo é que cultura. Músicas lindas de S. Miguel de Acha, da nossa Terra, que os nossos avós e os nossos pais cantavam. Aqueles dias 1 e 2 de Outubro vão ficar para sempre na nossa memória. O Coral Stella Vitae e o Grupo de Cantares estão de parabéns pelo espectáculo maravilhoso que nos deram. Parabéns também ao autor deste apontamento, que está impecável.
ResponderEliminarRaúl Folgado.