06/10/16

Escolas de pequena dimensão


Desde que começou a política de encerrar as escolas de pequena dimensão (1) que, contra essa política, tenho defendido a continuação do seu funcionamento.
Essa política levou, inicialmente, a encerrar as escolas mais pequenas com menos de 10 alunos para, logo a seguir, passarem a encerrar as escolas com menos de 21 alunos e, espantoso, até com mais de 21 alunos, com base em critérios arbitrários do tipo os alunos aprendem melhor em "bons" equipamentos acabados de construir, normalmente nas sedes de concelho.
A maioria das escolas que encerraram fazem parte do mundo rural. Em consequência da desertificação humana que tem vindo a acontecer no interior do pais mas também por uma visão estratégica errada da educação. Não é, aliás, uma política exclusiva de Portugal.
Esta política coincidiu com a criação de agrupamentos de escolas e depois de mega-agrupamentos que  reúnem os alunos de uma determinada zona geográfica, como o agrupamento de escolas de Alcobaça e agrupamento de escolas de Belas-Queluz, em Sintra, com mais de 4000 alunos.

Os argumentos ocultos para fechar escolas são, essencialmente, de ordem economicista mas os argumentos expressos para fechar escolas são a socialização das crianças e melhores condições de instalações e equipamentos pedagógicos.
As crianças com problemas de socialização estarão em todo o tipo de escolas e não se devem à ruralidade. Nem as escolas "douradas" são mais eficazes do que as escolas com instalações mais modestas e sem luxos.
Provam isso os resultados dos exames, em que escolas rurais e de pequena dimensão atingem posições cimeiras nos rankings de resultados e  a integração e o êxito dos alunos nos níveis de ensino seguinte.
Os factores determinantes para o sucesso dos alunos não são certamente as instalações mas antes as capacidades dos alunos e a qualidade dos professores que poderão ser factores mais influentes do que os factores externos (2). O afastamento dos pais durante o dia por longos períodos, como as distâncias a percorrer superiores muitas vezes a 30 quilómetros (3) e sem condições, obrigando a levantar muito cedo e a regressar muito tarde, esses sim, são factores bem mais penalizadores do que as modestas instalações.
Devia ainda ser respeitada a vontade dos pais que também são cidadãos e contribuintes e querem, certamente, uma educação de qualidade para os filhos e dos autarcas que em alguns casos têm tido um comportamento merecedor de reconhecimento por se terem colocado do lado dos pais e acima de tudo do lado da educação das crianças.

O caso de Monsanto (4) parece-me merecer particular interesse por manifestar que os autarcas podem contribuir para o não encerramento destas escolas. Infelizmente, há outros que fizeram lindos e "dourados" parques ou centros escolares onde juntaram todos os alunos do concelho.
Em Monsanto, com o actual autarca de Idanha-a-Nova não foi assim (5). Aliás, como tem sido feito na autarquia de Castelo Branco com o actual presidente, e com o anterior, que apenas encerraram escolas quando já não era possível criar uma turma nessas escolas.
Não sei se a desertificação do interior começa com o enceramento das escolas mas creio que fechar escolas não significa desenvolvimento nem valorização do interior.
O que não deixa de ser paradoxal é que este governo tenha criado uma Unidade de Missão para a Valorização do Interior, "com o objectivo de promover a atracção e fixação de pessoas nestas regiões, a cooperação transfronteiriça e o intercâmbio de conhecimento aplicado entre centros de investigação e desenvolvimento e as comunidades rurais".
Era bom que governo e Unidade de Missão para Valorização do Interior se entendessem. (6)

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(1) "Desde 2002, deixaram de funcionar mais de 6500 antigas escolas primárias. A reorganização arrancou no Governo liderado por Durão Barroso (PSD-CDS) e incidiu, sobretudo, sobre as regiões norte e interior do país. No período José Sócrates (PS), com Maria de Lurdes Rodrigues como ministra, foram encerradas mais de 2500 e com Isabel Alçada outras 700 escolas. Nos dois primeiros anos de Governo Passos Coelho (PSD-CDS), o ministério da Educação, Nuno Crato, encerrou mais de 500 escolas."
(Ana Cristina Pereira, "Ministério da Educação fecha 311 escolas do 1.º ciclo no próximo ano lectivo, Público, 21/06/2014 )
(2) Christine Leroy, "L'effet-maître, l'effet-classe, l'effet-établissement", Sciences humaines, nº 285, pags 40-41.
(3) Mais relevante do que a distância é o tempo que demora o percurso.
(6) Neste momento, não sei sequer se a educação faz parte das 155 medidas anunciadas!

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