A euforia em volta da demissão do ministro de educação Nuno Crato, como se pode verificar um pouco em todos os media, é bem a imagem de uma campanha que obedece a critérios da mera luta política. Como parece que Passos Coelho vai cumprir a legislatura, a estratégia para fazer mais alguns estragos costuma ser tentar fragilizar mais ainda a situação da educação "limpando" o que popularmente está mais a jeito.
Nuno Crato pode sair amanhã do ministério por vontade própria ou do primeiro ministro. Que importa? Haverá sempre ministros que saem e outros que entram. Ainda não houve falta de candidatos.
Mas por que há-de sair Crato ?
Porque Crato é o bode expiatório de todo o mal que tem acontecido e, em especial, tem acontecido à educação.
Crato devia pedir desculpa porque houve um erro que não foi dele. Pediu. E mais: prometeu a reparação do erro cometido. Mas isso já não interessa.
O que esteve errado então? A aplicação de critérios/subcritérios que tinham sido aprovados. Que nunca foram aceites pelos sindicatos e professores.
Como já disse, o que que ficou claro é que apenas aceitam a lista de graduação única. E não há esperança de que outros critérios possam entrar na selecção dos candidatos a professor. Não há esperança de mudança.
Várias críticas foram aqui feitas, obviamente. As falhas vieram da continuidade das medidas do governo anterior, como o fecho de escolas rurais e de pequena dimensão, mega-agrupamentos, continuação da burocracia...
Mesmo assim, muito foi substituído ou terminado: a parque escolar, as aulas de substituição, o estatuto do aluno, os professores titulares, a avaliação de desempenho, o autoritarismo, a destruição da imagem dos "professores que não trabalham", as novas oportunidades... por Nuno Crato. Tudo foi esquecido.
Uma avaliação crítica, equilibrada e justa encontra-se em Marlene Carriço - três anos de Crato: orgulho de quê? (Observador).
"Com Nuno Crato aumentaram de 21 para 212 o número de escolas com contrato de autonomia, foi dada uma maior liberdade na definição do tempo de cada unidade letiva e da carga horária anual de cada disciplina, cumprindo os limites mínimos, e assegurando que disciplinas como o Português e a Matemática ficassem reforçadas, foram também atribuídos mais créditos horários às escolas que tiveram melhores resultados escolares e que mais reduziram o abandono escolar para poderem utilizar como bem entendam, no apoio aos alunos."
Provavelmente não há que ter "grande orgulho" como quer Passos Coelho. Mas pedir a demissão do governo e dos ministros faz parte da lógica de partidos que não aceitam esta politica, nem outra, desde que a considerem "de direita".
O pretexto de não se ser capaz de harmonizar escalas com pontuações diferentes ultrapassa a racionalidade. E o que tem Crato que ver com isso ? Mas o problema não é esse mas o que já escrevi noutro local.
Não deixa de ser interessante verificar que no mesmo dia em que M. F. Mónica chama "burro" ao ministro Crato, um relatório da OCDE vem dizer que é necessário reduzir o número de professores.
Tal como diz: "Reduce grade repetition by investing in alternative ways of supporting those with learning difficulties", coisa de que a (dita) esquerda nem quer ouvir falar.
E esta é uma medida muito positiva de Crato.
Será que o relatório tem alguma importância ?
Já tínhamos visto este filme. Claro que tinha que acontecer um incidente como o da colocação de professores no tempo de Santana Lopes/Maria do Carmo Seabra. A informática não explica tudo.
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