17/10/14

Autonomia das escolas

Ontem, assisti ao debate sobre educação no canal Parlamento. Agora ficou claro. A (dita) esquerda parlamentar quer uma lista única.
Os sindicatos (1, 2) pretendem, igualmente, uma lista nacional única de ordenação dos candidatos ao concurso de docentes, baseada apenas na graduação profissional.
Autonomia das escolas? Nem pensar.
Subcritérios em que contem outros factores? Nem pensar. Depois de acabado o curso, os professores que trabalham nas escolas são todos iguais. Nem pensar em estabelecer outros critérios que não seja unicamente a graduação profissional.
É verdade que a complexidade dos subcritérios e até a possível ilegalidade de alguns não podia ser ignorada e por isso, tinha que ser corrigida. Mas isso é diferente de não se admitir qualquer outro critério, e, principalmente, que não se possa valorizar quem se interessa pelo trabalho da escola e quem se está nas tintas.

Em O futuro está aberto, Karl Popper, escreve: "Melhorar a escola: libertarmo-nos dos professores infelizes".
"...Como é que se pode realmente reformar o ensino? Enquanto reflectia sobre as minhas próprias experiências como jovem professor em escolas más, cheguei à conclusão que o mais importante era criar nas escolas a possibilidade de os maus professores abandonarem o ensino ...Verifiquei que só os indivíduos com uma certa vocação - não se trata propriamente de uma aptidão intelectual, e sim de um relacionamento íntimo com as crianças - podem ser bons professores. E muitíssimos professores ficam, por assim dizer, "apanhados" pela escola, são infelizes lá e não conseguem mais de lá sair. Apresentei uma proposta muito simples: há que criar como que uma ponte para que essas pessoas, que não são piores que as outras, possam sair donde estão; e para o seu lugar irão outros indivíduos jovens, que são em parte professores natos. Enquanto muitos professores forem professores amargos, tornam as crianças também amargas e infelizes. Permanecem na escola até à reforma e respiram de alívio quando recebem uma pensão. Enquanto houver nas escolas professores amargos, e há-os em grande número, que por razões compreensíveis aterrorizam as crianças, e também porque são intimidados pelos seus superiores, pelos inspectores por exemplo, enquanto assim for o ensino não poderá ser melhorado."

Creio que Popper se refere a outro tempo e outro país. É por isso exagerada a semelhança com os anos mais recentes no nosso país.  Mas pela minha experiência de vinte e quatro anos de psicólogo escolar, vi muitos professores (a grande maioria) felizes e altamente motivados na sua profissão. Mas também vi estes de que fala Popper.
    
Em "O enigma da colocação central de professores", J. Carlos Espada, interroga se  "Não seria altura de perguntar por que motivo devem os professores ser colocados centralmente pelo Ministério da Educação? Não seria altura de olhar para outros sistemas de ensino público e observar como funcionam?"

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