05/02/14

Sofrimento profissional e pessoal


Gnarls Barkley,  "Crazy"

O reverso da medalha da satisfação no trabalho é muitas vezes o sofrimento no trabalho. O trabalho é fonte de problemas para a saúde e saúde mental.
Maria Velho da Costa escreveu "português, trabalhador, doente mental" onde refere esta situação muito bem. 
São relatos de trabalhadores que sentiram, nas suas vidas, essa doença, "os ataques" que dão à gente e que vêm de dentro de nós, na sequência de outros ataques, externos, mesmo quando temos uma bazuca para nos protegermos (1º caso); As causas da doença são externas, vêm do próprio trabalho mas também internas e não sabemos qual tem mais relevo no desencadear do sofrimento. 

As organizações consideram que estes problemas como os suicídios dos seus funcionários têm a ver com a vida privada e não com o trabalho.  Para C. Dejours , “Toda a gente tem problemas pessoais. Portanto, quando alguém diz que uma pessoa se suicidou por razões pessoais, não está totalmente errado. Se procurarmos bem, vamos acabar por encontrar, na maioria dos casos, sinais precursores, sinais de fragilidade. Há quem já tenha estado doente, há quem tenha tido episódios depressivos no passado. É preciso fazer uma investigação muito aprofundada. 
Mas se a empresa pretender provar que a crise depressiva de uma pessoa se deve a problemas pessoais, vai ter de explicar por que é que, durante 10, 15, 20 anos, essa pessoa, apesar das suas fragilidades, funcionou bem no trabalho e não adoeceu. 

Na população, um dos maiores problemas de saúde é a depressão. A depressão é a segunda causa de doença nos Estados Unidos e é a maior causa de incapacidade do mundo. 
Punset (El viaje a la felicidad) refere que "em poucos anos constataremos o enorme custo social em que teremos caído ao não abordar seriamente o problema da saúde mental".  “A tristeza maligna, a depressão, é possivelmente o (factor) mais destrutivo e o menos controlado de todos os actores que germinam dentro da própria pessoa.” 

Em geral, não temos dado atenção aos problemas de saúde mental nas diversas instituições, escolas, empresas...
Sabemos que é fundamental para o ser humano que haja reconhecimento do seu trabalho, sinta importância de ser útil e integrado no grupo de pertença. 
Em vez disso, a cultura organizacional vai desaparecendo com a precariedade e com a atitude de que tudo é descartável, tudo pode ser substituído a todo o momento. 
Mas mesmo em empregos mais estáveis é o próprio (dis)funcionamento das equipas, hierarquias, interacções e lideranças que cria a instabilidade e o sofrimento. 

Não ter trabalho é o pior de tudo mas ter trabalho continua a ser para algumas pessoas fonte de infelicidade. O trabalho é um dos mitos da felicidade (Punset). Principalmente quando esse trabalho é rotineiro, burocrático, com deslocações, com baixo salário, sem equipa e cada um por si...
O alerta feito por M. V. da Costa, há tantos anos, mantém a actualidade: "… a restauração do país não passa só pelo trabalho dos que mais trabalham, pela reestruturação das estruturas dos mesmos poderes " mas "que a arte, instrumento de averiguação e denúncia outra, transgressora da disciplina "normal" de perceber o real, a arte, também." (pag.166) 
A arte e a ciência dizem que a restauração do país passa pelo equilíbrio mental dos seus cidadãos e pela necessidade de reconhecimento do valor dos seus trabalhadores.

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