16/02/14

A escola não é só isto

Pela primeira vez, não podia concordar mais com a visão de Marçal Grilo sobre a escola e o ministério de educação. Sem críticas sem sentido, choradinhos sobre a escola, pessimismo paralisante mas realista sobre uma escola que está a cumprir o seu papel.
Não sei se a pergunta "a maioria não sabe contar, escreve mal, lê mal..." não é uma fácil generalização...
É que conheço tantos alunos extraordinários!
Aqui fica um extracto.
...
Nuno Crato não toca no essencial?
Conheço-o bem, sou seu amigo pessoal, mas julgo que tem feito uma gestão que incide muito, ou que atende mais, a aspectos relacionados com o curriculum, o conteúdo das disciplinas, e que há outros aspectos que não estão a ser acautelados.

Quais?
A criatividade, a iniciativa, a responsabilidade, a atitude...

O que é a “criatividade” neste caso?
Pôr os alunos a fazer coisas novas e a tomar iniciativas por si só.

... mas se a maioria não sabe contar, escreve mal, lê mal, fala mal, como falar de criatividade até isso estar resolvido?
... obviamente que não ponho em causa a importância excepcional do Português, da Matemática, da História, da Geografia. Mas lembro que na escola há três áreas fundamentais: os conhecimentos de base, os comportamentos e atitudes e a área dos valores. Nos valores, há imenso a fazer, se há algo que o país e o mundo perderam, foi a ética, parece varrida do comportamento das pessoas. Em Portugal, há hoje uma ideia de que o que é legal é ético, quando há coisas que sendo legais não são éticas! Não são legítimas, ponto! Não se devem fazer, mesmo sendo legais. Longe de mim desprezar os conhecimentos de base, já falei do grande orgulho na minha formação de engenheiro, com Matemática, Física, Química, estruturas, resistência dos materiais, etc. Sucede porém que a escola não é só isto. E é aqui que eu penso que o ministro não tem sabido mobilizar os professores, os alunos e os pais para a ideia de que há mais vida para além do que se estuda nos livros para responder nos exames e satisfazer os testes internacionais.

Ninguém achará que é só isso... Mas olhando à roda, com as honrosas excepções que sempre há, nem a grande plateia dos alunos nem o palco dos professores parecem dispostos à “criatividade”.
Repito: é tão importante o aluno saber ler, escrever e exprimir-se; possuir um raciocínio matemático e conhecer a História e a Geografia, como quanto o é a área comportamental — isto é, a forma como cada um age, olha para o mundo, lida com os outros, com as coisas, com os problemas. Hoje, numa empresa, o que mais conta é a capacidade de inovar, de ter iniciativa e conviver com a mudança! De ser capaz de ser um elemento catalisador, da criação de novos produtos, da alteração dos processos de fabrico, da redução de custos ou da racionalização de qualquer outro processo. Se olharmos para esta crise, o que é que verdadeiramente impressiona? A enorme capacidade que os empresários, os gestores, os pequenos empresários têm tido! Além da imaginação, a determinação e a força para impor determinadas coisas, muitas vezes contra a vontade de tanta gente nas próprias empresas. Será a eles, sem dúvida, que ficaremos a dever o que poderá ser a saída desta crise.
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