A aprendizagem da leitura e escrita é a base fundamental do currículo dos primeiros anos de escolaridade.
Tudo vai bem
quando o aluno entra facilmente neste processo. E a maioria das crianças
aprende a leitura e escrita sem grandes sobressaltos.
Mas para algumas
crianças e famílias, aprender a ler e escrever é um problema muito perturbador,
no início da escolaridade. E é aqui que começa a grande dificuldade da
escola.
A esperança dos
pais de que tudo vai correr bem, na escola, com o seu filho transforma-se, rapidamente, em desespero e numa verdadeira fonte de perturbação e conflito da
vida familiar.
Este é também o
problema com que se deparam muitos professores mesmo aqueles que, com longa
experiência profissional e sabedoria, não conseguem
que esses alunos entrem minimamente neste processo de aprendizagem.
Por isso, ao longo do tempo, têm
surgido vários métodos de aprendizagem da leitura e escrita.
Decroly foi um dos iniciadores do método global. Iniciou
este método porque todos os outros falhavam. Ele próprio, indisciplinado, teve dificuldades na
escola e propôs uma nova concepção de ensino.
O método João de Deus, também em reacção ao método tradicional, "segue uma via completamente original, quando apresenta as dificuldades da língua de uma forma gradual, numa
progressão pedagógica que constitui um verdadeiro estudo da língua portuguesa."
Alguns professores, não satisfeitos com os métodos existentes, criaram eles próprios métodos novos com o objectivo de fazer com que todas as crianças pudessem aprender a ler.
Alguns professores, não satisfeitos com os métodos existentes, criaram eles próprios métodos novos com o objectivo de fazer com que todas as crianças pudessem aprender a ler.
Yolanda Betim
Paes Leme de Kruel, criou o método das 28 palavras.
Essas palavras são
apresentadas às crianças
através de uma história que se irá contando ao longo do ano. É uma história que
termina como um poema de Walt Whitman: «tudo o que a menina viu, nela se tornou». (Também aqui)
Entre nós, a
versão actual de Camila Santos, Conceição Liquito, Rosalina Veiga, chama-se
"Caixinha de Palavras" que "é uma caixinha
mágica, pois com ela aprendemos a ler e escrever, o que é uma
verdadeira magia."
O método das 28 palavras "ajuda a descobrir a leitura
e a escrita usando 28 palavras-chave divididas em sílabas que se poderão
combinar com o objectivo de descobrir novas palavras. É um método que funciona
por descoberta, ou seja, a criança aprende descobrindo!"
O método das 28
palavras "é um método analítico, partindo do todo para o particular. Parte
da palavra, considerada como um todo (pelo menos nas primeiras 4 palavras), sem
descer à análise dos seus elementos."
"Aparece,
então, a sua decomposição até que sejam perfeitamente reconhecidas as sílabas
que compõem as palavras-chave. Com essas sílabas, novas palavras se
formarão."
Aquilo que parece fazer discordar os defensores exclusivistas
do método sintético é dizer "que a
aprendizagem se faz por descoberta." Mas dizer que há descoberta na
aprendizagem não passa de um truísmo porque há sempre um momento de descoberta
na aprendizagem em que o aluno acomoda a assimilação de um elemento novo
(Piaget)
Não significa isto que se dispense o
ensino e o trabalho do professor ou do educador, pelo contrário, como sabemos da
“teoria da instrução” de Bruner. Mas apenas não se pode esquecer que "aprender
é sempre um trabalho de autor." (Bruner)
Creio que qualquer
método pode ser eficaz para um determinado aluno se com ele o aluno
aprende a ler e a escrever.
Não
vou alimentar a discórdia que existe sobre os métodos. O que sei
é que é necessário procurar o método eficaz para o aluno aprender, seja o
método a, b , c, sintético, global ou de ponto de partida...
Até porque me parece um falso debate. De facto, J. Chall,
num estudo exaustivo, mostrou que os métodos chegam aos mesmos resultados,
concluindo que de uma maneira geral, os resultados não diferem muito quando são
usados diferentes métodos para o ensino da leitura. (referido por F. Sequeira,
in Maturidade linguística e
aprendizagem da leitura, Braga, Universidade do Minho, 1989, pag. 70).
A “guerra” entre métodos globais e silábicos parece ter sido importante em França. F. L. Viana coloca a questão nos seus devidos termos, de forma interessante e desapaixonada, em Aprender a ler: apenas uma questão de métodos?
Quando deparamos com alunos que devido às suas diferenças, dificuldades de aprendizagem, dificuldades específicas de aprendizagem ou outra tipologia de necessidades educativas especiais, não aprende a ler, provavelmente, temos que mudar de método.
Nas equipas de trabalho de que faço parte, o método das 28 palavras tem sido utilizado com alguns alunos por professores experientes.
Têm tido sucesso
em relação a alunos que manifestam muitas dificuldades na aprendizagem da leitura e escrita pelo método
tradicional. E esse é um dado evidente: não aprendem como as outras crianças,
mas a mudança de método tem tido resultados, em alguns casos, espectaculares. De
repente, os alunos começam a ler.
Mas os benefícios são muito mais vastos: a criança sente-se capaz de aprender como as outras crianças. As letras
e as palavras começam a fazer sentido. A escola começa a ser vista de outro modo. Deixa de ser um
local de grande sofrimento, de medo, de frustração, que leva a problemas de
autoestima, em alguns casos de desinteresse pelas actividades e mesmo pela
escola.
Kruel não é cruel. Insensibilidade será assistir
às dificuldades da criança sem nada fazer e deixar que ao fim de seis
meses, ao fim do ano, ela continue no i de igreja ou de ilha, que irá repetir no ano seguinte...
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