03/02/14

Satisfação profissional e pessoal


A orientação escolar e profissional tem em conta o ajustamento do perfil profissional ao perfil de personalidade da pessoa. 
Desde Frank Parsons (Choosing a vocation), a orientação consiste, assim, em compreender a natureza do trabalho, as condições do emprego e do trabalho, a formação necessária, a evolução na carreira, as remunerações e a perspectiva de futuro dessa profissão.
Falar de vocação 1 parece ser ainda mais complexo porque isso depende de muitos outros factores que se conseguem avaliar quando já estamos metidos numa actividade. Ou seja, a satisfação profissional e pessoal implica que se tenha uma profissão em que o peso dos factores externos é importante mas ainda mais o peso dos factores intrínsecos.
Nos países mais desenvolvidos há muita coisa que mudou e continua a mudar, uma delas o valor do dinheiro. O trabalho significativo é tão importante como o salário e a segurança.
Para Seligman “a nossa economia está a mudar rapidamente da economia financeira para a economia da satisfação.” (Felicidade autêntica, pag. 209)
De facto, procuramos cada vez mais a satisfação profissional e pessoal  e sabemos responder às perguntas: Para que é que eu trabalho ? Qual o significado que tem o meu trabalho ?

A investigação sobre este assunto tem proposto várias orientações para a visão do trabalho: como uma profissão, como uma carreira e como uma vocação.
Amy Wrzesniewski (2003) descreve estas três orientações diferentes de trabalho que afectam a disposição para encontrar significado no trabalho.
O trabalho enquanto fonte de benefícios materiais que permitem fazer outras coisas na vida. A maior satisfação vem de hobbies e relacionamentos fora do trabalho. O significado do trabalho é principalmente o que pode contribuir para as actividades fora da vida do trabalho.
Visto como carreira, o trabalho é fonte de progresso, prestígio e status. As pessoas com uma carreira são capazes muitas vezes de fazer sacrifícios para o avanço do trabalho que os outros não fariam.
A vocação (chamamento) permite ver o trabalho como crença de que ele contribui para um bem maior. Mesmo os trabalhos mais simples e rotineiros podem ser vistos como tendo um significado importante. As pessoas com esta orientação tendem a experimentar mais significado do trabalho.

Algumas pessoas orientam-se mais para a primeira etapa e trabalham para ganhar dinheiro que lhes pode, por ex.,  proporcionar umas boas férias. Distinguimos até trabalho de emprego sendo que algumas pessoas "não lhes apetece trabalhar por motivos profissionais", como aqui.
Quanto à carreira, ela é importante para a satisfação profissional mas tem vindo a acontecer, como na função pública, que as carreiras são mais fictícias do que reais. São carreiras onde dificilmente se consegue mudar de categoria e onde é quase impossível chegar ao topo da carreira devido aos congelamentos e à avaliação de desempenho individual e que na realidade não avalia nada. 2
Finalmente, alguns conseguem atingir o nível do trabalho como vocação. É de facto um sentimento extraordinário. Trabalhar porque sentimos que estamos a contribuir para o bem estar da sociedade, as horas não contam porque não damos por que elas passem, sentimos prazer em trabalhar com os colegas e que trabalhamos para os outros. Desta forma o trabalho faz-nos melhores pessoas e sentimo-nos mais saudáveis.3
“Reestruturar o emprego para poder empregar as forças e virtudes todos os dias não só torna o trabalho mais agradável, como também metamorfoseia um trabalho rotineiro ou uma carreira estagnada numa vocação. Uma vocação é a forma mais satisfatória de trabalho pelas gratificações que lhe são inerentes e não pelos benefícios materiais que traz.” (pag.210) 4

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1 "Diz-se que há vocação quando uma pessoa manifesta tendência a exercer certa forma de atividade - em particular, de caráter profissional - e suficientemente forte, para que pareça responder a uma espécie de apelo (ou chamado interior), de acordo com as aptidões requeridas nessa actividade." (Dicionário de Psicologia, Henri Piéron, Editora Globo, 1977).

2 Excepto, talvez, para enquadrar o salário dos assessores políticos que começam a sua vida profissional pelo topo da carreira ou quase, sendo remunerados acima dos assessores profissionais, com mais de 40 anos de serviço.

3 Nesta etapa da vocação  podemos trabalhar como se não houvesse  governo ou oposição, ministério da educação ou fenprof, actuais ou de sempre.

4 Estamos no campo da motivação intrínseca, realização profissional, fluxo.

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