26/09/13

Para além da doença




Florescer pode significar estar em flor mas também, em sentido figurado, prosperar, brilhar.
Florescer, prosperar, era o que devia estar a acontecer com cada um de nós.
No entanto, pelos dados de que dispomos não é bem assim: o consumo de antidepressivos tem vindo a aumentar em Portugal mais do que noutros países.
Nos primeiros oito meses do ano, os portugueses compraram em média, por dia, mais de 75 mil embalagens de antidepressivos, estabilizadores de humor, tranquilizantes, hipnóticos e sedativos. Trata-se de um aumento de 1,9% face ao mesmo período do 2012, revelam dados da consultora IMS Health
Também aqui  é referido que 
"de facto, há um acentuar dos problemas de saúde mental, normalmente muito associados ao desemprego...
"De acordo com o mesmo estudo, as dificuldades económicas, aliadas ao aumento das taxas moderadoras, estão a condicionar o acesso à saúde, sobretudo dos grupos mais vulneráveis, como os idosos, que estão a adiar as idas ao médico e ao dentista, bem como a atrasar a compra de óculos e até a espaçar a toma de medicamentos para cortar nos gastos." 
O que está a acontecer? Aparecem algumas explicações como, por exemplo, as do Relatório da Primavera do Observatório Nacional dos Sistemas de Saúde.

No entanto, parece haver uma contradição: ao mesmo tempo que há aumento da prescrição de medicamentos, refere-se o condicionamento do acesso à saúde e aos médicos.

No entanto, o problema é mais complexo e é necessário saber o que está em causa na nossa felicidade ou na nossa doença.
Seligman, depois de ter estudado a felicidade das pessoas adopta um conceito mais geral, no sentido do bem-estar. Para vivermos bem é preciso perseguirmos cinco objectivos: felicidade, empenhamento, relacionamentos, propósito e realizações.
É importante procurar aquilo que nos dá prazer e alegria (felicidade), mas também uma actividade de que se goste (empenhamento), no meio de pessoas positivas (relacionamentos) e dar um propósito à nossa vida, como por exemplo, dedicarmo-nos à família, a instituições solidárias. Quando conseguimos atingir os nossos objectivos e dar um sentido à nossa vida podemo-nos considerar realizados.
Não há apenas um factor mas vários a determinar o nosso bem-estar. A complexidade do ser humano é a da sua personalidade onde se cruzam todos esses factores. Alguns deles são mais marcantes na nossa personalidade do que outros. Por exemplo, às vezes, podemos tentar viver bem pelo nosso empenho num projecto, exactamente porque as circunstâncias da vida nos foram adversas. É por isso que a resiliência é uma estratégia importante para lidarmos com a adversidade e a perturbação de stress pós-traumático .

O uso de medicamentos antidepressivos é necessário em muitas situações. E não podemos prescindir deles. Mas é também bom saber que analisando toda a literatura sobre anti-depressivos, descobrimos que eles melhoram os sintomas, em média, em 60 a 65%. Com o placebo, a melhora é de 40 a 50%. Basicamente, os anti-depressivos são úteis, mas limitados. 

É por isso necessário trabalhar outras capacidades, ou seja, os objectivos referidos por Seligman: o empenhamento, os relacionamentos, um propósito para a nossa vida, etc…para acabar com os problemas de humor, ansiedade e depressão. É preciso trabalhar para estes objectivos para florescer, além de tratar a depressão.
Todos conseguimos florescer. Podemos estar deprimidos mas se essas condições atrapalham o nosso bem-estar, não anulam a possibilidade de florescer. 
Mais de 20 estudos mostraram que é possível ter emoções positivas e alguma perturbação mental.
Afinal florescer é como o que acontece na natureza: é necessário arrancar as ervas daninhas que junto das flores não vão impedir que elas cresçam.


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