31/10/12

Literatura e liberdade

Decorreu na semana passada o “Festival literário de Castelo Branco”.
Estive na sessão do cine-teatro avenida. O tema do debate era  a literatura e o politicamente correcto.
A mesa era composta por autores de que gosto e outros que só conheço de nome.
Mário Zambujal, Isabel Stilwell, Teolinda Gersão, Afonso Cruz e Pedro Vieira. Moderada por Fernando Paulouro.
Mas o meu maior interesse tinha a ver com a homenagem a António Salvado que por impossibilidade de saúde não esteve presente.
Justa homenagem da sua cidade. Castelo Branco tem a sorte de ter um grande autor da e na sua cidade.
Cruzamos com ele muitas vezes ou tomamos a bica no mesmo café. Não é necessário falar.
António Salvado é organizador da única antologia portuguesa de mulheres poetas ou poetisas. Lia os trabalhos que publicava no Jornal do Fundão, em especial uma série de suplementos dedicados aos autores da Beira, quer àqueles que pintam com a palavra quer aos que escrevem com a sua pintura, como muito bem disse José Pires que apresentou a sessão.
Ler os mais recentes livros de António Salvado é a melhor homenagem que lhe podemos prestar . “Outono” é belíssimo e “Repor a luz” é uma onda de felicidade.
A minha homenagem é ler António Salvado.
Quanto à sessão devo confessar que admirei a coragem de Teolinda Gersão que falou da sua visão antidogmática da literatura.
Vou ler “A cidade de Ulisses” e “A árvore das palavras”.
Numa plateia que ia de Fernando Paulouro para a esquerda, salpicada com outras opções políticas que também gostam de cultura, como é o meu caso, foi corajoso falar do tempo do muro de Berlim em que Teolinda Gersão compreendeu que não havia nada de novo do outro lado.
Ainda hoje pensar como Teolinda Gersão é politicamente incorrecto.
Mário Zambujal falou do tempo em que era preciso escolher as palavras para poder escrever sem que a censura lhe cortasse os artigos.
Mas o politicamente correcto não tem a ver só com o tempo.
Nada é comparável à desprezível censura. Mas os "dinossauros excelentíssimos" andam por aí. E eles é que sabem quem deve ser publicado e quem deve fazer as manchetes da comunicação social. São as extinções, as fusões e as pressões, da economia, da politica, no fundo, do poder que nos dão as notícias que acham politicamente correctas.
Há coisas na nossa vida que são construídas todos os dias. A liberdade e a liberdade de expressão são construídas todos os dias, tal como a integração e inclusão social e educativa. Nunca está pronta, nunca está acabada. É cada um de nós que tem que a construir. Como autor ou como leitor.
Houve ainda um momento em que pela primeira vez ouvi a viola beiroa, também designada de viola de Castelo Branco, típica da região da Beira Baixa, que estava praticamente caída no esquecimento.
A cultura é memória e é bom que a Câmara, como fez, ajude a preservar essa memória.
Por isso, um bando de aplausos por esta iniciativa que é um a forma politicamente incorrecta de dizer e escrever, como diria Isabel Stilwell, porque só há bandos de pássaros.
Nem tudo o que é politicamente incorrecto é certo e nem tudo o que é politicamente correcto é errado. As duas formas podem ser registo de cidadãos livres que escrevem o que pensam e pensam o que escrevem.

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