12/10/12

M. C. Escher: "Os homens descem e no entanto elevam-se"

                              

                               
 TRANSCENDER

Escher acertou.
Os homens descem e no entanto elevam-se,
A mão é puxada pela mão que puxa,
E uma mulher está apoiada
Nos seus próprios ombros.

Sem eu e tu este universo é simples,
Funciona com a regularidade de uma prisão.
As galáxias giram em arcos estipulados,
As estrelas caem a uma hora específica,
Os corvos dão uma curva em U para sul e os macacos
têm o cio na altura certa.

Mas nós, a quem o cosmos formou durante milhões de anos
Para encaixar no seu lugar, nós sabemos que falhou.
Pois nós podemos reformar,
Meter um braço através das barras
E, tal como Escher, puxar-nos para fora.

E enquanto as baleias que se alimentam de bacalhau
Estão confinadas para sempre ao mar,
Nós subimos as ondas,
E olhamos das nuvens para baixo.

Look Down from Clouds (Marvin Levine, 1997)
(Poema que abre o livro de Seligman)






                                                       
   
o princípio de m. c. escher (I)

prelúdío e fuga sobre um tema popular
a)
lá sai uma, saem as duas
as três pombas do papel
saem do bico da pena
que nesta folha as escreve
e que as penas lhes alisa
sem acrescentar as minhas,
ganham forma, ganham força,
e aos poucos se desenleiam,
já se equilibram, já voam,
descrevem uma parábola
dum branco intenso no azul,
vêm pousar no peitoril,
de patinhas saltitantes
pulam pra cima da mesa,
fazem dum livro degrau
e regressam ao papel,
entram na caligrafia
que as prende no seu cordel,
letra a letra, linha a linha,
outra vez palavras planas
que atravessam toda a página
pra voltarem a soltar-se
na chegada ao outro lado
e não há ponto final 
Vasco Graça  Moura
(Extracto de um poema de Vasco Graça Moura  que se pode ler em Poesia 1963-1995,Círculo de Leitores)

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