Contracapa de Mágoas da escola, de Daniel Pennac
O ministério da educação vai criar este ano lectivo, “no âmbito da oferta formativa de cursos vocacionais no ensino básico, uma experiência-piloto de oferta destes cursos, no ano lectivo de 2012 -2013 e regulamenta os termos e as condições para o seu funcionamento (Portaria 292-A/2012, de 26 de Setembro).
Esta experiência-piloto destina-se a alunos com mais de 13 anos, e que tenham tenham duas retenções no mesmo ciclo ou três retenções em ciclos distintos.
A experiência-piloto ora regulamentada pode ser alargada a partir do ano lectivo de 2013 -2014 a outros agrupamentos de escolas ou escolas por despacho do Ministro da Educação e Ciência”
Esta experiência-piloto destina-se a alunos com mais de 13 anos, e que tenham tenham duas retenções no mesmo ciclo ou três retenções em ciclos distintos.
A experiência-piloto ora regulamentada pode ser alargada a partir do ano lectivo de 2013 -2014 a outros agrupamentos de escolas ou escolas por despacho do Ministro da Educação e Ciência”
De facto,
já não era sem tempo. A realidade do terreno vinha impondo respostas que a teoria dos gabinetes, mesmo que internacionais, não querem ver.
A OCDE define alguns critérios para a equidade da educação: Um deles refere que se deve “limitar
a orientação precoce para vias diferenciadas ou para turmas de nível e evitar a
selecção com base nos resultados de aprendizagem”.
São
coisas diferentes. Quanto à orientação precoce para vias diferenciadas tem que se entender o que significa orientação precoce para medidas diferenciadas? É a orientação no
final do 4º ano , do 6º ou do do 9º ano de escolaridade?
Não será
falta de equidade deixar os alunos ao insucesso ? Esta tem
sido a prática que tem levado a que muitos alunos acabem por deixar a escola
precocemente.
Infelizmente
também aqui a ideologia tem contaminado o debate e a busca de soluções para estes alunos.
É fácil arranjar um rótulo de "pedagogia classista" para medidas como esta agora tomada e deixar os alunos repetirem anos de insucesso.
Este tem
sido aliás um dos problemas mais graves com que nos deparamos depois de ter terminado o
ensino das escolas profissionais.
Tem sido à conta de ideologias ditas de esquerda ou ditas de direita que a falta de equidade tem existido. É
lamentável que seja sempre a distinção baseada no económico que esteja
subjacente a estas opiniões e decisões.
O que sei
é que o insucesso, hoje, e sublinho hoje, é transversal, como acontece, aliás, com as NEE. A lotaria
genética não faz essa distinção económica e a influência do meio pode ser
importante mas, certamente, hoje, ninguém pensa que um professor faz distinções
dessas nas suas aulas.
Ou será que os professores também usam essa ideologia classista e são perversos
a ponto de quererem “marcar” assim as classes sociais, enviando os alunos para cursos técnico-profissionais? Não será até o contrário ? Muitos professores que conheço, independenteente da sua ideologia, fazem tudo o que podem para que os seus alunos tenham sucesso.
Mas também aqui não se passa nada de novo: é sempre
a questão dos "memes" a inquinar tudo o que é a "nossa" cultura e a "vossa" cultura.
Há
cultura. Se uma cultura é contra os princípios fundamentais do ser humano então
a cultura tem que ser mudada. Seja de esquerda seja de direita, religiosa ou laica...
A cultura da equidade é permitir aos alunos que sigam as suas escolhas. Propor a possibilidade de orientação, como faz este ministério da educação, para alunos com mais de 13 anos com insucesso, parece-me um contributo para promover a equidade.
A forma de o fazer não é forçosamente através de escolas diferentes. O futuro da
equidade da educação pode passar por oferecer dentro
da mesma escola currículos diferenciados aos alunos e oferecer a possibilidade
de escolha aos alunos que o desejem.
É muito
difícil para um educador ver um aluno desmotivar-se da escola
e começar um caminho de insucesso académico. E o problema maior é que às
vezes não é só académico é o começo do insucesso para a vida.
E se esse aluno quiser optar por um currículo com disciplinas diferentes não deverá poder ter essa opção? Que equidade há no prolongamento dessa mágoa de ir a uma escola
que já nada lhe diz ?
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