05/09/12

Andar na lua


O astronauta Neil Armstrong foi o primeiro homem a pisar a lua. Efectivamente, a missão Apollo 11 foi a quinta tripulada do Programa Apollo e a primeira a realizar uma alunagem, no dia 20-7-1969. Neil Armstrong faleceu recentemente.
Toda as novidades desta aventura humana chegavam-nos pelos comentários de Eurico da Fonseca.
Meu pai, também de nome Eurico, foi, provavelmente, sempre céptico em relação a esta ida do homem à lua e sobre o assunto apenas dizia: “ na lua andam vocês”.
Se estava enganado em relação à ida do homem à lua tinha certamente razão em relação aos homens que ficaram em terra. Acho que temos andado na lua, ou seja, temos andado muito distraídos.
Eurico da Fonseca não pertencia a esse grupo dos que andavam na lua. O seu livro A sociedade do futuro – tecnologia para um mundo novo (1979), prova que ele tinha a visão do que ia acontecer.
Ler Eurico da Fonseca, de 1979, é pensar sobre os problemas actuais:

Nos tempos de progresso e de esperança raras vezes se perguntava como seriam os dias do futuro. Todos os supunham belos – cheios de riqueza, paz e justiça
Hoje não é assim. Mesmo aquelas pessoas que dizem ser indiferentes ao d dia de amanhã não podem evitar a pergunta: onde é que isto vai parar ? O desemprego aumenta, o nível de vida baixa, as carências de alimentação e higiene são cada vez maiores.
Para muitas e muitas pessoas o mal é dos governantes. deles e das forças que eles representam, sejam elas quais forem. Mas a verdade é que a população do globo está a aumentar velozmente e a produção de alimentos não aumenta proporcionalmente –antes pelo contrário. A superfície total das terras aráveis, longe de aumentar está a diminuir. E não é tudo: a civilização actual nasceu da abundância do carvão e do petróleo, e das matérias-primas. Mas o petróleo e as mais importantes matérias-primas estão a caminho do esgotamento: quando muito poderão durar ainda duas ou três gerações. Os seus custos irão aumentando, assim como os dos próprios alimentos. Recorre-se à automação, e o advento dos microcomputadores deve conduzir a um desemprego tecnológico maciço.
O grande obstáculo à construção da sociedade do futuro é o desconhecimento das tecnologias indispensáveis à construção de um mundo novo, em aliança com a Natureza.

No mesmo sentido vão as ideias do professor Delgado Domingos que escreveu Inteligência ou subserviência nacional? Crise do ambiente, crise de energia, crise da sociedade. Alternativas.(1978), que colocava muito bem o problema do progresso e da pobreza.
Que progresso ? o científico e cultural ou o da tecnologia concentracionária, o do consumo inútil, da delinquência e da droga, da psiquiatria de massas, da violência institucionalizada ?
Também Medina Carreira (no Programa "olhos nos olhos", de 3-9-2012, com Pedro Lomba) definiu bem a origem da actual crise. Ela deve-se a:
- desindustrialização
- dependência energética
- endividamento
- crise do euro.

São vistos como Cassandras. E ninguém lhes deu ou dá ouvidos. O cavalo de Tróia da crise que traz no seu seio estes problemas, está entre nós. A crise já era previsível e as interrogações desta altura são cada vez mais pertinentes: Onde é que isto vai parar ? Será que queremos continuar a andar na lua ?
 

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