16/06/10

Vale a pena repetir o ano ?

             
Uma das questões que nesta altura do ano se coloca a muitos pais diz respeito à avaliação final do ano lectivo e tem a ver com a transição de ano ou retenção no mesmo ano.
O parecer do Conselho Nacional de Educação (nº8/2008), refere o assunto e merece uma aturada reflexão …
"Nos países da OCDE as repetições têm um carácter residual ou só existem em final de ciclo". Para o Conselho Nacional de Educação “O problema das repetições assume, em Portugal, proporções catastróficas para os alunos e para o sistema”.
E acrescenta: “Portugal não é o único país em que os alunos encontram dificuldades, mas é um dos poucos países da Europa que não consegue apoiar de modo eficaz os seus alunos, penalizando-os pela ineficácia do sistema.
Para o CNE, “ a repetição não é um meio pedagógico adequado, porque os alunos vão encontrar dificuldades acrescidas …. Além disso “a repetição não é, também, na maioria dos casos, um instrumento de justiça como muitas vezes se afirma. Confrontados com sistemáticas avaliações negativas e sem capacidade para estudar e ultrapassar os problemas, alguns alunos não estudam porque não são capazes de o fazer, muitas vezes porque não compreendem sequer o que lhes é ensinado.”
Este resultado agrava -se ao longo do percurso educativo, tendo -se verificado que a repetência precoce é uma situação gravemente penalizadora para a criança.
O parecer volta à questão sócio-económica para justificar o insucesso, referindo “que um aluno com um estatuto sócio-económico fraco tem três vezes e meia mais probabilidades de ter resultados medíocres em matemática do que um aluno com um estatuto sócio-económico elevado.”
Mas o problema tem outras dimensões talvez mais importantes.
A nossa experiência tem-nos mostrado que, salvo raras excepções que confirmam a regra, os alunos repetentes encontram-se no ano seguinte com as mesmas dificuldades e número de negativas do ano anterior e muitas vezes até com maior insucesso.
O que acontece é que muitas vezes na falta de diagnóstico, o culpado é sempre o aluno, ou o aluno e a sua família, com justificações pouco adequadas como: ser preguiçoso, desinteressado, não estudar, não trabalhar…
Parece que hoje não há dúvida acerca da existência de problemas como a dislexia a discalculia, a pertubação de hiperactividade com défice de atenção, a perturbação de comportamento, os défices cognitivos resultantes de sindromas neurológicos conhecidos, mas muitas vezes défices de etiologia desconhecida, as deficiências sensoriais, etc.
Então para que serve repetir o ano ? Um aluno com problemas destes tem algum benefício com a repetência ?
Por exemplo, um aluno com dislexia, devidamente diagnosticada, tem benefício na retenção ? Claro que não. “Repetir anos de escolaridade não ajuda a ultrapassar as dificuldades, pelo contrário, pode criar dificuldades acrescidas a nível afectivo e emocional: sentimentos de frustração, ansiedade, desvalorização do auto-conceito, e da auto-estima” (Paula Teles)
O problema, diz o parecer, é que “não faz sentido que sejamos quase o único país na Europa que não encontrou soluções para apoiar os alunos e para se co-responsabilizar pelas aprendizagens.”
Podemos não querer aprender com a experiência dos outros mas podemos aprender com a nossa própria experiência.

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