A ministra da educação Isabel Alçada recebeu uma pesada herança. Creio que alguns dos dossiers que herdou estavam e estão inquinados. O do fecho das escolas com menos de 21 alunos parece-me um deles. O mesmo me parece quanto aos mega-agrupamentos.
No entanto, só o facto de ela falar e sorrir para as pessoas já indicia um estilo de gestão mais humano.
Fechar escolas com menos de 21 alunos (o “rigor” de 21 é interessante !) parece-me que apenas se justifica porque é necessário “encher” os parques escolares e os mega-agrupamentos.
Tal como no livro de Schumacher (1) um estudo da economia em que as pessoas também contam, na educação é preciso levar em consideração que as pessoas também contam, ou seja, as crianças e as suas famílias também contam.
Na acepção de Schumacher “a educação é o mais essencial de todos os recursos”. Mas “como a civilização ocidental se encontra em estado de crise permanente, não será extravagante sugerir que possa haver qualquer coisa de errado na sua educação.
Para Schumacher” a tarefa da educação seria, antes de mais e acima de tudo o mais, a transmissão de ideias de valor, do rumo a traçar às nossas vidas. Sem dúvida que também é necessário transmitir know-how, mas deve deixar-se isso em segundo lugar, porque, evidentemente, é assaz temerário colocar grandes poderes nas mãos das pessoas antes de haver a certeza de que elas têm uma ideia razoável do que hão-de fazer com eles.
Presentemente, não pode haver muitas dúvidas de que toda a humanidade se encontra em risco mortal, não porque tenhamos falta de know-how científico e tecnológico, mas porque tendemos a usá-lo de maneira destrutiva, sem bom senso nenhum. Ora mais educação só nos pode ajudar se criar maior soma de bom senso” (pag 71).
A intervenção educativa deve ser feita o mais precocemente possível e faz sentido que as tarefas da educação se façam dentro de ambientes variados do ponto de vista sensorial e em contextos enriquecidos do ponto de vista social. Mas também em contextos enriquecidos do ponto de vista afectivo.
A criança, aos 6 anos, tem já elevada autonomia para poder ser introduzida em ambientes mais desprotegidos do que até essa idade. Mas uma criança com 6 anos, retirada à família, diariamente, ficando sem o contacto dos pais excepto nos fins de semana, a pretexto da sua socialização, não parece que venha produzir vantagens importantes no seu desenvolvimento.
O afecto é a energia que faz funcionar as aprendizagens e o contexto tem que ser rico afectivamente para que tenhamos crianças saudáveis do ponto de vista da saúde mental.
Os estudos que conhecemos provam que assim é. Não há máquina nenhuma que posa substituir o afecto dos pais. Podem ter muitos brinquedos, muitos computadores e play-stations, muito inglês... mas nada tem a força do carinho dos pais.
A realidade é diversa e por isso as respostas não podem ser megalómanas nem monolíticas mas é necessário responder com a diversidade educativa.
É por isso que também em educação podemos dizer, contra a ideia dos mega-agrupamentos, que “small is beautifull”. Por isso, com toda a simpatia das pequenas coisas desejava que alguém pudesse introduzir bom senso nestes dossiers inquinados.
(1) Schumacher, E.F.(1980), Small is beautiful, Lisboa: Publicações D. Quixote.
(1) Schumacher, E.F.(1980), Small is beautiful, Lisboa: Publicações D. Quixote.
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