23/06/23

"Mitos climáticos" 17

Com o agradecimento devido, vou buscar ao J. Rentes de Carvalho, em TEMPO CONTADO.

quinta-feira, junho 22

Freeman Dyson


Admiro os rebeldes inteligentes e consequentes. Freeman Dyson (1923-2020) foi desses. Físico  famoso e respeitado, trabalhou com Niels Bohr, Oppenheimer, Bethe, Teller, Feynman, ocupou a cátedra de Física na Cornell University e no Institute for Advanced Studies de  Princeton. O politicamente correcto não era com ele. Anos atrás, numa entrevista com o semanário neerlandês Elsevier afirmava:

"Os efeitos do aquecimento global serão mais vantajosos que prejudiciais. Os seus cálculos sobre o dióxido de carbono levam-no a concluir que: Muitos leigos crêem que esse gás na atmosfera resultará em séculos de desastre. Nada menos verdade. Uma molécula de COpermanece apenas sete anos na atmosfera, sendo depois absorvida pelos oceanos ou pela vegetação. É um equilíbrio muito dinâmico e totalmente ignorado pelo público.

Um facto matemático que também deveria ser mais conhecido, acha Dyson, é existir uma função logarítmica nos efeitos físicos do CO2. O que significa que quanto maior for o volume desse gás na atmosfera, mais diminuirão os seus efeitos. Do ponto de vista da sociedade isso é extremamente tranquilizante.

É interessante  notar – disse o jornalista – que muitos (cientistas) cépticos acerca do aquecimento global são pessoas idosas. Porque será?

Dyson permaneceu calado alguns segundos, o seu olhar preso no do interlocutor:

Os cientistas idosos são financeiramente independentes e podem falar com toda a liberdade… Fora de dúvida existe um lobby do clima. Há um vasto número de cientistas que ganha dinheiro assustando o público. Não digo que o façam conscientemente, mas é facto que muitos rendimentos provêm desse medo.

O presidente Eisenhower disse um dia que o poder dos militares em determinado momento se torna  perigoso, pois é tão grande. O mesmo se constata com o lobby do clima: com o poder de que dispõe torna-se perigoso."

 

21/06/23

Avaliar alunos e avaliar escolas

 

Se bem me lembro, foi em 2001, portanto, há 22 anos, que o governo do primeiro-ministro António Guterres e ministro da educação Júlio Pedrosa, decidiu publicar os dados dos exames nacionais, conhecidos como ranking dos exames.
Honra lhes seja feita que decidiram desocultar estes resultados porque não havia qualquer justificação para serem confidenciais ou apenas conhecidos de alguns, e, pelo contrário, deviam ser amplamente divulgados. Desde então todos os anos são publicados os dados dos exames nacionais.

Este ano, mais uma vez, com a publicação dos resultados dos exames, veio a análise e crítica a esses dados, o que é louvável, mas também a contestação à publicação dos rankings.
O actual ministro da educação, João Costa, explicou que a condição sócio-económica das escolas influencia os resultados. Para ele, os rankings são uma “operação comercial”. A mesma desvalorização vem dos sindicatos: para a FNE os resultados são “mais do mesmo” e a Fenprof considera o “ranking” uma fraude.
Neste resumo está tudo o que governo e sindicatos pensam da escola, ou seja,  na escola tudo se justifica com o estatuto socio-económico das famílias e o meio de implantação das escolas: os resultados dos alunos, os comportamentos desajustados dos alunos, a violência e o bullying, os consumos aditivos ...

Todos conhecemos a importância que a realidade socio-económica, a origem e a vida dos alunos têm nos resultados escolares e na sua vida futura... 
E então? O ranking dos exames também reflete essa realidade. Não é por isso que deixa de haver escolas com melhores resultados nos exames mesmo quando o meio é semelhante.
Mas isso importa para as famílias? Claro. Significa que se os pais puderem colocar os seus filhos noutra escola o farão sem dúvida nenhuma.

E isso deve ser importante para o ministério da educação? Claro que é, embora isso não interesse ao sr. ministro da educação.
Esta informação pode contribuir para mudar a motivação dos professores, alterar os recursos materiais e humanos, promover actividades de valorização e enriquecimento, intervir a nível das famílias juntamente com as instituições de acção social e segurança social, formar a nível das mudanças parentais e valorizar a escola, fomentar as artes, o desporto, criar pedagogias diferenciadas, férias na escola, tudo isso são projectos possíveis que podem transformar uma escola talvez com relevo no ranking dos exames.

Lamentavelmente, esta informação preciosa – os dados dos exames - parece ser desprezada pelo sr. ministro e desvalorizada pelos sindicatos.

Mas há escolas que vêem estes resultados, entre muitos outros dados, como um contributo para a avaliação da qualidade do ensino na escola - e essa foi a minha experiência em dezenas de conselhos pedagógicos em que participei - levando a alterações no currículo e na escola necessárias à introdução de planos de melhoria. 
Não, não é uma “operação comercial”. É muito mais do que isso. É também a cultura assimilada pelos alunos, a cultura de avaliação, a valorização da escola, a aprendizagem dos valores, o respeito dos professores, a devolução às famílias dos resultados do trabalho feito e o respeito pelos contribuintes.


Até para a semana.


Rádio Castelo Branco





17/06/23

Jonas - Giacomo Carissimi


Giacomo Carissimi - Jonas - Coro della Radio Svizzera

00:00 I. Sinfonia; 01:17 II. Cum repleta; 03:21 III. Et proelibantur venti; 07:11 IV. Jonas autem;  09:13 V. Hebraeus ego sum; 11:46 VI. Justus es, Domine; 17:51 VII. Et imperavit; 18:48 VIII. Peccavimus, Domine.

"Na minha aflição invoquei o Senhor e Ele ouviu-me.  Clamei  a Vós do meio da morada dos mortos e ouvistes a minha voz. Lançastes-me ao abismo, ao seio dos mares e as correntes das águas envolveram-me...
... Mas Vós, Senhor meu Deus, salvastes a minha alma do sepulcro.(Jonas, 2, 3-4-7)


"Carissimi era um músico modesto com uma existência simples e discreta, o que o levou a recusar vários convites vantajosos para exercer a sua actividade noutras cortes europeias... 
... As suas obras, especialmente as cantatas, motetes e oratórias (géneros que o compositor desenvolveu de forma especial), ilustram bem o domínio e a mestria na utilização das teorias da Retórica, expressas no figuralismo musical e na teoria dos afectos (Figurenlehre e Affektenlehre), tão características desta época. Estes processos composicionais emprestavam uma eficaz expressão emocional ao texto poético-religioso, através das figuras musicais. A experiência de Carissimi no que respeita à música vocal está também bem expressa no seu tratado Ars Cantandi, que teve várias edições e traduções após a sua morte (nomeadamente em alemão em 1696)."  Casa da Música

08/06/23

O pequeno milagre do final do ano lectivo



Mais um ano lectivo está a chegar ao fim. É hora de balanço. E o balanço deste ano não é muito bonito.
Com um contexto internacional de crise acentuada em relação aquilo que pensávamos adquirido, após a pandemia que obrigou a fechar escolas e os alunos a ficarem em casa com aulas online, não se esperava que fosse um ano tranquilo. Além disso, o sistema educativo, neste contexto desestruturado, é ainda vítima das questões internas que se arrastam há anos e de que não há maneira de serem ultrapassadas através de uma negociação franca, justa e competente. (1)

Foi um ano de mudanças de ministro para pior. Da nulidade à esperteza, há sempre agendas ocultas mais desestabilizadoras.
Ano de greves de professores, de reivindicações, de que não se vê acordo. Pode haver reformas que sejam consensuais, mas se não o são, devem igualmente ser feitas. E há compromissos que devem ser respeitados.
Nesta aspecto, os sindicatos de professores também têm a sua responsabilidade pelo que se está a passar. As greves, dizem, prejudicam sempre alguém. Pois se assim for, é preciso serem bem avaliadas e os sindicatos não podem ser indiferentes às consequências dessas greves: a segurança dos alunos, as refeições dos alunos, as condições dos pais que não podem deixar de ir trabalhar para ficarem com os filhos em casa... 
E faltava ainda, no final deste ano, as provas aferidas digitais, um fiasco enorme para algo que não serve para nada, as avaliações em dias feriados e as greves aos exames...

O tempo de serviço dos professores - 6 anos, 6 meses e 23 dias - não pode ser sonegado. Pode não haver financiamento sustentável mas, por isso mesmo, não pode deixar de ser negociável. A carreira docente tem que ser revista, os concursos têm que ser alterados. É insustentável continuar nesta espiral desconstrucionista (2) que parece ser aquilo que pretendem uns e outros.

No meio deste vendaval deseducativo, um pequeno milagre acontece todos os anos, por esta altura, com cada criança que entrou este ano na escola. Foi graças a cada criança, a cada família, a cada professor que cada uma delas transformou a sua vida de forma definitiva e que vai marcá-la para sempre – aprendeu a ler escrever e contar.
Este pequeno milagre deve-se em grande parte à escola. Por isso, era bom que a escola percebesse, definitivamente, que está a lidar com transformações fundamentais na vida das pessoas e, por isso, são da máxima responsabilidade quaisquer decisões que se tomem em relação a este processo ou que tenha implicações neste processo.
É importante ultrapassar a querela da culpabilização da escola e dos responsáveis do seu disfuncionamento. É, talvez, importante um "pacto educativo para o futuro" (3) mas, desta vez, com os pés no chão. Porque a escola é fundamental na nossa vida e é natural que haja pais preocupados e insatisfeitos, professores cansados e frustrados, alunos desiludidos... mas é muito mais importante que todos os anos se renove esse pequeno milagre da alfabetização, esse importante papel que a escola tem na formação dos homens. 

Pergunto se já deram os parabéns aos filhos pelas aquisições que fizeram este ano, pelas transformações adaptativas, tão difíceis, que conseguiram na sua vida. Eles foram o melhor desta história toda, adaptando-se, com afinco, a esta nova forma de ser responsável na sociedade a que pertencem 
O final do ano lectivo é, por isso, um tempo de ser grato àqueles que fizeram esta transformação.


Até para a semana.

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(1) Reformar e investir em educação.

(2) Refiro-me a uma sociedade  cada vez mais influenciada pela necessidade de negação das tradições e pela desconstrução dos valores morais e religiosos que o suposto progressismo e verdismo leva a efeito na sociedade a começar pelas escolas sendo que por isso interessa a falência da escola como factor de transmissão da cultura que consideram ultrapassada e não "inclusiva"...

(2) Talvez começar por concretizar o que está previsto para a educação na "Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica de Portugal, 2020-2030, de A. Costa Silva, pags. 80-81, em especial o "Programa de rejuvenescimento do corpo docente e de formação de professores".


Rádio Castelo Branco



01/06/23

Educação e Paz




Como acontece desde 1950, hoje, dia 1 de Junho, comemora-se mais um Dia Mundial da Criança. É o reconhecimento de que todas as crianças têm direito a afecto, amor e compreensão, alimentação adequada, cuidados médicos, educação, proteção contra todas as formas de exploração e a crescer num clima de Paz.

Nas últimas décadas, tem havido uma crescente valorização e protecção da infância por organizações internacionais e nacionais.
No entanto, nada disto acontece em muitos locais do planeta. Parece mesmo que, globalmente, recuamos na questão destes direitos e, pelo contrário, assistimos à violência contra as crianças a que ninguém parece ligar: já não nos indigna a fome, não nos indigna a guerra, não nos indigna os maus tratos e abusos, não nos indigna que haja crianças desaparecidas e traficadas...

Criança e guerra são incompatíveis. Como já aqui escrevi, bastavam as crianças mortas na Ucrânia para fazer parar a guerra. Bastava que fossem respeitados os lugares sagrados da educação. Mas, ao contrário, parece mesmo que há intencionalidade na destruição selectiva de escolas, maternidades e hospitais.

Entre as duas guerras mundiais, nos anos 30, Maria Montessori discursava nos fora internacionais sobre a Educação e a Paz. E dizia: “É singular que não exista uma ciência da paz.”
"A história da humanidade ensina-nos que a chamada “paz” é a adptação forçada dos vencidos a um domínio tornado estável, a perda de tudo o que amaram, o fim dos frutos do seu trabalho e das suas conquistas. O povo vencido é obrigado a dar, como se fosse ele o único culpado e o merecedor de castigo, só porque foi vencido, enquanto o vencedor arvora direitos sobre o povo que foi vítima do desastre. A tal situação, apesar de significar o fim da guerra com as armas, não pode chamar-se paz. Pelo contrário o verdadeiro flagelo moral nasce desta acomodação." (p. 14)
A paz dos mortos, a paz das ruínas e da devastação não é paz... 

Assistimos hoje a guerras em que as tecnologias mais avançadas que o homem inventou estão ao serviço dos contendores ao mesmo tempo que os objectivos são os mais violentos de que alguma vez o homem foi capaz. Nada se poupa, nada se protege. Pelo contrário, é necessário causar o maior número de danos para instaurar o medo ... 
Diz-nos Montessori: “O homem domina a natureza... mas não conseguiu dominar as suas próprias energias interiores...”

Na base de tudo está a educação que deve preparar os homens para a paz.
Montessori propõe-nos um método para educar: As crianças devem ser livres de se desenvolverem e aprenderem ao seu próprio ritmo, num ambiente estimulante e de compreensão, organizado, apropriado ao seu desenvolvimento.
Que podemos esperar do ambiente em que estão a ser educadas as crianças do futuro ? Fogem da escola para o abrigo, enquanto as bombas caem não se sabe bem onde, apesar de quem faz a guerra dizer que são de elevada precisão.
“O homem psiquicamente saudável é hoje um ser raro...”


Até para a semana.



Rádio Castelo Branco


25/05/23

Os novos poderes




Interrogo-me sobre o espectáculo “deplorável” a que assistimos por estes dias na ordem nacional e internacional. 

Abalados por estes acontecimentos procuramos compreender o que se  está a passar e o que fazer perante situações, que quer queiramos ou não, têm implicação na nossa vida, mesmo não vendo televisão, não ligando ao que se passa nas redes sociais ou ignorando os vizinhos do lado... 

Na realidade, os novos poderes instalaram-se nas sociedades e são responsáveis pela criação deste ambiente transmitindo-nos sentimentos de desconfiança, de insegurança e de que algo está errado neste caminho que termina nas comissões parlamentares de inquérito ou no  poder judicial.

 

Alvin Toffler, em Os novos poderes, em 1991 (original 1990)  já enunciava a Era de Transformação Radical do Poder, no início do séc. XXI: “Apesar do mau odor inerente à própria ideia de poder, consequência dos maus usos que lhe têm sido dados, o poder em si não é nem bom nem mau. É um aspeto inevitável de todas as relações humanas e influencia tudo, das nossas relações sexuais aos empregos que temos, aos carros que conduzimos, à televisão que vemos, às esperanças que acalentamos. Num  grau maior do que muitos imaginamos nós somos produtos do poder.” (pág. 15)


Esta mudança resultante, também, da fragmentação do poder, traduz-se na luta travada entre as várias “capelinhas”, os "cubículos" (Toffler), os gabinetes do poder, que às vezes estão onde menos se espera.  

Estão, por exemplo, no Ministério das infraestruturas, onde, a nível macro e micro,  se trava uma luta fundamental entre várias facções do poder político e burocrático. 

Não deixa de ser curioso que o documento mais importante sobre a reestruturação da TAP se encontra no computador portátil de um assessor.  

O poder encontra-se exactamente neste cubículo onde, desde o ministro aos funcionários se entra e se sai quando isso interessa ao jogo estratégico de “quem é que manda nisto?”.


Por outro lado, no sistema de comunicação, o controle da informação e comunicação, através da manipulação da mensagem que vai da mentira, à falta de memória e à “reconstrução da verdade”, é um instrumento fundamental na manipulação dos espíritos e na detenção do poder (1), contra as várias comissões de inquérito ou os vários processos judiciais que todos os dias são instaurados procurando repor racionalidade nesse sistema mas que enredados no mesmo modelo, acabam, por vezes, de deixar de exercer a sua função principal que é fazer justiça.

                                                                       

O poder reparte-se por uma infinidade de "cubículos", como os lobbies, grupos de pressão política e social, económica e ideológica que tentam minar a estrutura do poder: As redes sociais que exercem censura e bloqueiam a participação, os grupos nacionalistas, os grupos verdes, animalistas, ou os ecologistas da vandalização, as agendas da ideologia de género ...

Esta é a realidade dos novos poderes aos quais não nos devemos habituar mas de que é necessário compreender a dinâmica intrusiva na nossa vida e, sendo excessiva, combatê-la.                                                                                               

 

Até para a semana. 



_________________                                                                                                                                                                                                                                 

(1) Por vezes ainda sou surpreendido com algumas análises: A mentira na política.


                                      

Rádio Castelo Branco


                                                                                                         

18/05/23

"A vida apenas, sem mistificação" (3)


Fernando Namora, Deuses e demónios da medicina


Em 12 de Maio de 2023, a Assembleia da República confirmou a lei da eutanásia. 
Com lei ou sem ela, continuo a tentar compreender o que move algumas pessoas nesta campanha radical.
Há um espaço ideológico onde se cruzam os defensores mais dogmáticos das questões fracturantes mas neste caso da eutanásia não há um alinhamento à esquerda e à direita. Os socialistas votaram com os liberais a favor, os comunistas do PCP votaram contra. (1)

Estes arautos do progresso usam a metodologia da persistência que muitas vezes se aproxima do fanatismo. Insistem no assunto tantas vezes quantas as necessárias para obterem o que pretendem. 
Como sabemos quando se consegue uma maioria no parlamento, pode-se aprovar a lei que se quiser, seja pouco ou muito importante como esta: uma questão de vida ou de morte. Por isso esta lei devia ultrapassar a conjuntura.

Contam também com a tibieza dos indiferentes ou que não têm posição. Enquanto no PS não há qualquer dúvida nem qualquer rebuço na aprovação da morte medicamente assistida, no PSD há todas as posições: a favor, contra ou outra coisa que é o referendo. Rui Rio era a favor, Montenegro não sabemos mas defende o referendo. 
Para Pedro Passos Coelho, a Eutanásia é uma decisão (demasiado) radical.
É sempre bom saber que haverá quem não se conforma nem desiste de, no futuro próximo, pôr em cima da mesa a reversão da decisão que o parlamento tomou.

Por outro lado, há uma questão de constitucionalidade. O problema não está apenas na constitucionalidade deste ou daquele artigo. É uma questão de fundo: a inviolabilidade da vida que esta lei não respeita. É, por isso, uma violação da constituição, como defende Jorge Miranda.

Mas há a realidade. O fim da vida deve ser tratado com as condições cientiíficas e humanas de que podemos dispor actualmente. Podemos escolher outras perspectivas ou respostas para esta situação como: a ortotanásia, o testamento vital, os cuidados paliativos.
Há mais de dez anos, em 2012, foi aprovado a Lei (Lei n.º 25/2012, de 16 de julho), que regula as diretivas antecipadas de vontade (DAV), designadamente sob a forma de testamento vital, como é referido no artº 2º. (2)
Se bem entendo, o que está previsto no testamento vital corresponde àquilo que é englobado na definição de ortotanásia. Como se diz num documento do Parlamento, “Ortotanásia” é definida, de forma simples, como “morte natural, sem sofrimento” ou, de forma mais completa, como “postura clínica que procura evitar que os doentes terminais, sem perspetiva de cura ou melhoras sensíveis, sejam submetidos a procedimentos terapêuticos inúteis ou desproporcionados que apenas prolonguem artificialmente a sua agonia, privilegiando, em alternativa, a prestação de cuidados paliativos e a promoção do bem-estar do enfermo durante o processo de morte cuja evolução deverá decorrer de modo natural”

Perante a existência de respostas racionais, culturais, humanas... não havia necessidade de insistir nesta radicalização. Como diz o Papa Francisco "foi aprovada uma lei para matar". E, por isso ,“sei que não vou por aí”. 


Até para a semana.


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(1) A deputada socialista Isabel Moreira considera que aprovar a eutanásia também é cumprir Abril. Esta religião de Abril, como refere Helena Matos, neste caso nem sequer conta com o PCP, certamente um dos seus paladinos.

(2) Em 2012, foi aprovada a Lei n.º 25/2012, de 16 de julho, que regula as diretivas antecipadas de vontade (DAV), designadamente sob a forma de testamento vital, e a nomeação de procurador de cuidados de saúde e cria o Registo Nacional do Testamento Vital (RENTEV).  
No artº 2º refere algumas das directivas antecipadas de vontade (DAV):
"Podem constar do documento de diretivas antecipadas de vontade as disposições que expressem a vontade clara e inequívoca do outorgante, nomeadamente:
a) Não ser submetido a tratamento de suporte artificial das funções vitais;
b) Não ser submetido a tratamento fútil, inútil ou desproporcionado no seu quadro clínico e de acordo com as boas práticas profissionais, nomeadamente no que concerne às medidas de suporte básico de vida e às medidas de alimentação e hidratação artificiais que apenas visem retardar o processo natural de morte;
c) Receber os cuidados paliativos adequados ao respeito pelo seu direito a uma intervenção global no sofrimento determinado por doença grave ou irreversível, em fase avançada, incluindo uma terapêutica sintomática apropriada;
d) Não ser submetido a tratamentos que se encontrem em fase experimental;
e) Autorizar ou recusar a participação em programas de investigação científica ou ensaios clínicos."


A Portaria n.º 96/2014, de 5 de maio, que Regulamenta a organização e funcionamento do Registo Nacional do Testamento Vital (RENTEV) que contempla diversas situações em que a pessoa pode decidir.




Rádio Castelo Branco


15/05/23

Aprender a envelhecer.



Envelhecer é algo natural e inevitável, o destino de todos nós. Mas para o geneticista David Sinclair não é bem assim. Defende que é possível retardar o envelhecimento com alguns hábitos simples para que tenhamos vidas cada vez mais longas e saudáveis.
Seja como for, a gente envelhece quer queira quer não. E como não estamos preparados para isso, se calhar, o melhor é apender a envelhecer. (1)
Diz-se que as crianças não nascem com livro de instruções. É também o caso da velhice que não chega com livro de instruções. Tenho aprendido com a própria experiência e já estabeleci algumas regras para meu uso pessoal.

1. Reduzir a velocidade em tudo: andar mais devagar, comer mais devagar, preferir tudo o que se faça devagar.
Não é nada fácil mudar o hábito de muitos anos a fazer as coisas à pressa para começar a fazê-las devagar.
Alguns provérbios fazem agora mais sentido: “depressa e bem não há ninguém” e “devagar se vai ao longe”, ou “um dia de cada vez”...

2. Não ser rezingão, não dizer mal de tudo, não ser queixinhas acerca de tudo o que acontece no mundo à minha volta. 

3. Não ser um peso para ninguém. Não deixar que façam nada por mim, excepto quando de todo não conseguir. 

4. Manter a actividade física e mental. Um hobby pode ajudar. 

5. Não querer ser um velho arrogante e presunçoso mas humilde. Não querer falar em último lugar e não querer ter razão e tirar as conclusões, nem pedir mais 30 segundos para concluir, porque isso não releva nada, não interessa nada e a conversa ou o debate não ganha nada com isso.

6. Ter cuidado com a ideia que anda por aí de que uma pessoa idosa já pode dizer tudo o que lhe vem à cabeça porque normalmente isso é visto como falta de responsabilidade.

7. Não dizer no meu tempo é que era bom, ou “os bons velhos tempos”. É uma frase enganadora uma vez que estes ainda são os meus tempos.

8. Saber retirar-se a tempo de responsabilidades que ficam mais bem entregues a pessoas com mais capacidades e deixar de querer ser, de uma vez por todas, um workaholic

9. Saber vestir-se: se calhar não "vestir à velho" mas também não querer ser o que não se é: um jovem de 20 anos.

10. Não dar saída aos mitos relacionados com a velhice, como por exemplo: Solidão e depressão são normais na velhice; os velhos não aprendem coisas novas...

11. Na velhice, como ao longo da vida, em relação às pessoas com quem vivemos, não dizer “tu nunca...” ou de outra forma não dizer “tu sempre...” , porque isso torna a comunicação difícil. 

12. Ter presente que a memória vai falhando com o envelhecimento. Vamos tendo experiência do que é perder lentamente a memória. Nada de anormal. começamos a esquecer-nos dos nomes de algumas pessoas, depois de muitas pessoas, a seguir, de acontecimentos temporais...

13. Finalmente, ser fanático apenas por uma coisa: a família afectiva.


Até para a semana.


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(1) Este é também o sentido do livro de Manuel Pinto Coelho, Chegar novo a velho.


Rádio Castelo Branco


10/05/23

#25AbrilMemóriaEEsquecimento

  

  

 Daqui



Está em curso uma campanha sobre o 25 de Abril ou melhor sobre o tempo antes do 25 de Abril com o intuito de dizer e mostrar aos jovens aquilo que não se podia fazer.
É uma campanha aberta à participação dos frequentadores das redes socais onde se lhes pede para escreverem uma coisa que não podiam fazer antes de 25 Abril: #NãoPodias vai dizer aos jovens o que há 50 anos estavam proibidos de fazer.
Esta campanha é um teste à memória das pessoas e como tal envolve circunstâncias e contextos de que as pessoas poderão não se recordar exactamente. 
Na pergunta “onde é que você estava no 25 de Abril” temos este problema: a memória e o esquecimento de um acontecimento em que muita coisa se diluiu no tempo e no espaço. E também o problema das falsas memórias que foram implantadas nas pessoas através das campanhas de propaganda que aconteceram na escola e nos media...
Na actual campanha não se devem descartar estes problemas. E, além disso, mais uma vez, a manipulação dos espíritos é prioritariamente dirigida à juventude. Contam sempre com a generosidade da juventude para participar em causas que podem ser importantes para a liberdade e democracia mas que se transformam em boomerang, rapidamente, quando acompanhadas de mentiras facilmente desmontadas. Veja-se o que se passa com outra campanha: a do clima...

Jaime Nogueira Pinto (Observador) desmontou algumas inverdades desta campanha e desta anedota propagandística paga com o dinheiro dos nosso impostos - e aqui deixa de ter graça. Mas há algumas destas inverdades que até são divertidas. Exemplos:
#NãoPodias esperar pela namorada ao sair das aulas...
Vivia então algum do meu tempo em Castelo Branco, onde, religiosamente, se esperava a namorada, ou o namorado, à porta do liceu, situado naquela avenida lindíssima, a avenida Nuno Álvares e por ali andávamos e namorávamos até decidirmos ir ao It’s, Cine-teatro, Rosel, Belar... passear no passeio verde ou ir até ao Jardim do Paço...
#NãoPodias ter as pernas à mostra nas praias
Pois... muito antes do 25 de Abril já se usavam biquínis nas praias portuguesas. 
#NãoPodias namorar na rua
Como? Na minha geração não se fazia outra coisa na rua, na faculdade, nos cafés, onde calhava...
E por aí vai...
#SimPodias. Como qualquer pessoa desta geração poderá confirmar. 

Há que escolher: pode-se mentir aos jovens (1) como se quiser mas o respeito por eles exige que se seja mais parcimonioso naquilo que se oferece à juventude.
O 25 de Abril foi e continua a ser uma data importante para a liberdade, liberdade de imprensa, de expressão, etc... e não necessita disto.
Mesmo que a liberdade de pensamento seja o pensamento simplista de hoje, resumido à repetição de #qualquer coisa, é preferível à falta dela. 
Mesmo que hoje haja outras formas de censura como o cancelamento, como o politicamente correcto, como o não poder falar nem escrever o que se quer nas redes sociais ou fora delas... pela liberdade do 25 de Abril devemos ser mais exigentes.


Até para a semana.


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05/05/23

Ramiro Marques (1955-2023)

 


"Quando os valores da escola coincidem com os valores das famílias, quando não há rupturas culturais, a aprendizagem ocorre com mais facilidade."

"Podemos considerar quatro tipos de obstáculos (à criação de bons programas de envolvimento dos pais): a tradição de separação entre escola e as famílias, a tradição de culpar os pais pelas dificuldades dos filhos, as condições demográficas e os constrangimentos estruturais." Ramiro Marques 

Continua a ser necessária a mudança em relação a estas circunstâncias das escolas, sem a qual - esta mudança - nada de novo a acontecerá.



Página de Ramiro Marques

A escola cultural