Como escreveu Cícero, "A memória é o tesouro
e o protector de todas as coisas". Mas como será esse tesouro? Será que esse tesouro é como uma biblioteca bem arrumada onde podemos ir
buscar o livro que quisermos em qualquer momento da vida ? Ou é antes uma
enorme confusão onde os livros estão desordenados e há páginas que desapareceram
ou estão trocadas com outras páginas desse ou de outros livros ? (1)
O esquecimento é um processo
biológico normal. Não seria possível vivermos, se tudo aquilo que vemos, lemos
e sentimos ficasse gravado, definitivamente, na nossa memória.
Então, a memória, por vezes,
falha. As causas mais frequentes da diminuição da memória são diversas. Há
situações do nosso quotidiano que interferem no funcionamento da memória, como
aliás noutras funções psicológicas, como o cansaço, insónia, stress ou
doenças que podem afectar a memória directa ou indirectamente.
Por outro lado, há alguns mitos
sobre o que é benéfico para a memória. É verdade que dormir facilita
a memorização duma informação, como é verdade que o stress pode fazer esquecer;
ou que retemos melhor aquilo que
nos agrada ou de que gostamos; como pode
haver uma sobrecarga da memória. Porém, é mito que os medicamentos à base de ginkgo
biloba sejam eficazes para a memória; também não é verdade que fazer palavras
cruzadas melhore a memória; que as crianças tenham uma memória com mais
performance ou desempenho; que consumir cafeína ajude a reter informações
ou que comer peixe seja mais benéfico para a memória. (2)
Temos ainda outro problema – o
das falsas memórias. Como já dissemos, podemos falar
de assuntos e informações que baralhamos com outros que inventámos na nossa
memória. E isto não significa que
estejamos a mentir.
A psicóloga Elisabeth Loftus (3) mostrou que é possível implantar falsas memórias na mente. Constatou que: “A formulação
das perguntas influenciava o modo como as pessoas narravam o acontecido”.
Loftus também mostrou que “na vida
real, como nas experiências, é possível chegarmos a acreditar em coisas que
nunca aconteceram”
Tenho experimentado alguns exercícios (4) que podem ser benéficos para
a memória:
- Por exemplo, escrever a autobiografia. A
memória autobiográfica ou memória de acontecimentos do passado que a pessoa tenha
vivido pode ser um óptimo desafio para por à prova a nossa memória.
- Outro exercício de memória autobiográfica
e semântica será associar os nomes das pessoas que vejo e conheço ou conheci, o
lugar onde as conheci, o que me dizem os rostos dessas pessoas, além disso, serve para ocupar o tempo quando se espera
uma consulta no hospital ou ser atendido na loja do cidadão! Concluiremos que não é fácil fazer
os exercícios…
Comemoramos hoje 45 anos do 25
de Abril. Um bom exercício sobre a memória e o esquecimento pode resultar da pergunta
que se tornou famosa: “Onde estava
no 25 de Abril?”
Talvez a sua memória não
corresponda à verdade mas àquilo que acredita recordar, as emoções que sentiu, os
acontecimentos que não é capaz de reconstituir, as falsas memórias que adquiriu
ou que lhe foram implantadas.
Então faça o exercício: “Onde estava no 25 de Abril ?”
____________________________
(1) Romina Rinaldi , «Le capharnaüm de la memoire», Le cercle Psy, nº 31, 2018, pags. 66-69.
(2) «Mémoire - On a découvert la molécule de l' oubli!», Science & vie, Septembre 2003. pag. 60.
(3) Elizabeth Loftus, «As nossas certezas mais absolutas não são necessariamente verdade», O livro da Psicologia, Marcador, DK, pags. 202-207.
(4) Tom Wujec, em Jogos da memória - jogos e exercícios para treinar a sua mente, dá-nos inúmeras sugestões para treinarmos não só a memória como a mente.
Sem comentários:
Enviar um comentário