18/01/23

A ética e a habituação



Ética (do grego ethos) e moral (do latim mores), têm o significado de costume. Estão relacionadas e associadas mas também têm sentidos distintos: os seres humanos, enquanto seres sociais, regem-se pelos valores morais do grupo a que pertencem, valores transmitidos de geração em geração e impostos como uma obrigação; a ética como reflexão sobre a moral, pode aprovar ou contestar esses valores.


Na nossa vida, perante as várias dimensões da realidade, temos necessidade de tomar decisões e de praticar determinados actos, de forma livre  e  consciente, que estejam de acordo com valores morais e éticos que são o critério da acção.

Normalmente, ao longo da vida, passamos de uma moral heterónima para uma moral autónoma, como refere a psicologia do desenvolvimento humano. Ao desenvolver a capacidade de discernir os valores éticos e morais presentes na acção humama espera-se que o comportamento de um adulto seja diferente do de uma criança e se situe pelo menos num estádio de desenvolvimento moral característico do grupo etário a que pertence. Cada adulto pode posicionar-se em estádios de desenvolvimento inferiores ou superiores à sua idade. Há adultos que parecem crianças e crianças já demasiado adultas em relação aos valores morais.


O que é mais difícil de perceber é que haja pessoas que pelo facto de terem uma determinada posição sócio-política, possam definir-se, como os comunistas que se afirmam de um escol moralmente superior ao dos outros, ou os socialistas que  sempre que é necessário puxar das credenciais da moralidade, se afirmem possuídos por uma  ética republicana.

A realidade tem mostrado que não é pelo facto de perfilhar uma determinada ideologia ou de pertencer a uma associação politica que se é moralmente  inferior ou superior. O comportamento moral e eticamente responsável depende mais de cada um de nós do que da pertença a um partido político, a um grupo social, a uma visão da sociedade. A parábola do bom samaritano ilustra de forma maravilhosa este ponto de vista... 


O desenvolvimento moral (Piaget, Kohlberg) não é estático, faz-se lentamente ao longo do tempo, passando de um nível pré-convencional e convencional para um nível pós-convencional, ou seja, a ética e a moral  de um indivíduo podem estar num estádio de desenvolvimento consentâneo com as normas e as leis da sociedade - Nivel convencional, estádio 4 -  mas  nem tudo o que é legal pode ser considerado dentro da ética, estando, por isso, fora do nível de desenvolvimento normal que se espera.

 

Também é difícil de perceber que quem se diz da ética republicana, também diga: “habituem-se” à actual governação. A ética republicana é compatível com o “habituem-se?”

A habituação é uma forma poderosa de aprendizagem, considerada como uma segunda natureza (Aristóteles); os hábitos das pequenas ou grandes coisas podem  trazer mudanças na nossa vida para o bem ou para o mal, conforme se trata de bons ou maus hábitos.

Aquilo que é sugerido como “habituem-se” pode ser traduzido, mais ou menos como: ver-ouvir-comer-calar. Ora este não é um bom hábito. É um vício  imoral e de falta de ética, é um processo de aprendizagem de comportamentos de submissão a uma doutrina política.

Ao contrário, os bons hábitos a aprender serão a autonomia, a independência, a crítica rigorosa, a solidariedade, a justiça...  em resumo, os direitos humanos que devemos habituar-nos a respeitar.


Concluindo, a ética não é compatível com a habituação à obediência cega e irracional. Pelo contrário, a  ética é a prática dos bons hábitos e costumes. 

Agora entendam-se: se temos ética republicana não nos digam: "habituem-se". Ou se querem que a gente se habitue esqueçam a ética republicana e, de certeza, a ética, simplesmente.

 

 

Até para a semana.





 





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