22/05/22

Dias de gospel

Elvis Presley - Put Your Hand in the Hand 



Put your hand in the hand of the man Who stilled the water
Põe tua mão na mão do homemque acalma a água
Put your hand in the hand of the man Who calmed the sea
Põe tua mão na mão do homem que acalma o mar
Take a look at yourself and you can look at others differently
Olha para ti e podes ver os outros de forma diferente
Put your hand in the hand of the man from Galilee 
Põe tua mão na mão do homem da Galileia.

My momma taught me how to pray 
Minha mãe ensinou-me a rezar 
Before I reached the age of seven
Antes de eu chegar aos sete anos
When I'm down on my knees 
Quando estou de joelhos 
That's when I'm closest to heaven
É quando estou mais perto do céu
Daddy lived his life, two kids and a wife 
O pai viveu sua vida, dois filhos e uma esposa
Well you do what you must do
Bem, tu fazes o que deves fazer
But he showed me enough of what it takes 
Mas ele mostrou-me o suficiente do que é preciso 
To get me through, oh yeh!
Para me fazer passar, oh yeh!



Vivemos dias de grande sofrimento. São, sem dúvida, dias em que é necessário  acalmar a dor  como as ondas do mar. Talvez seja possível acalmar o sofrimento  neste mundo louco em que vivemos.

O mundo da música gospel teve em Elvis Presley um dos maiores divulgadores.
Com muitas versões, como a do P. J. L. Borga, "Put Your Hand in the Hand" é uma canção gospel composta por Gene MacLellan e gravada pela primeira vez pela cantora canadiana Anne Murray (álbum Honey, Wheat and Laughter)






 

19/05/22

Populismo


              
         

O populismo é hoje um dos maiores desafios para a democracia. O Papa Francisco na carta encíclica Fratelli Tutti, refere: “nos últimos anos os termos “populismo” e “populista” invadiram os meios de comunicação e a linguagem em geral, perdendo assim o valor que poderiam conter para compor uma das polaridades da sociedade dividida."
Tampouco o populismo ajuda a compreender que a sociedade é mais do que a mera soma de indivíduos. “A verdade é que há fenómenos sociais que estruturam as maiorias, existem megatendências e aspirações comunitárias; além disso, pode pensar-se em objetivos comuns, independentemente das diferenças, para implementar juntos um projeto compartilhado; enfim, é muito difícil projetar algo de grande a longo prazo se não se consegue torná-lo um sonho coletivo. Tudo isto está expresso no substantivo “povo” e no adjetivo “popular”. 
“Povo não é uma categoria lógica nem uma categoria mística no sentido de que tudo o que faz o povo é bom ou no sentido de que o povo seja uma entidade angelical. É uma categoria mítica”... “Pertencer a um povo é fazer parte de uma identidade comum, formada por vínculos sociais e culturais. E isto não é algo de automático; muito pelo contrário: é um processo lento e difícil... rumo a um projeto comum.” (pag. 95-99)

Há líderes que têm capacidade para interpretarem o sentir do povo, mas outros que degeneram este sentimento. Falam em nome do povo mas desprezam as pessoas e os indivíduos concretos.
Os regimes populistas, um pouco por todo o mundo, têm-se instalado no poder, tanto à esquerda como á direita. Partilham esta dicotomia de se considerarem povo, falarem e agirem em nome do povo, fazendo a clivagem com os outros: o antipovo (Gloria Alvarez), passando a dirigir ditaduras que não respeitam os adversários políticos, liquidam os opositores e prendem manifestantes...

Nos nossos dias, o populismo está nas mais diversas manifestações sociais e políticas mesmo nas mais improváveis e, aparentemente, inocentes.
“Hannah Arendt, citada por Bernard Crick (pag. 86-91), distinguiu “povo” de “multidão”. O povo pretende ser uma representação politicamente eficaz enquanto a multidão odeia a sociedade da qual foi excluída.
O Big Brother, por ex., é um jogo controverso e estupidificante pelo seguinte: 
- cria a ilusão de naturalismo. Reconhecemo-nos em pessoas que fazem aquilo que nós costumamos fazer ...
- dá ao espectador um poder de sentenciar: a ilusão de participação democrática e do poder popular...
- atrai uma vasta multidão para ver ao vivo as expulsões daqueles em que votaram 
- finalmente, e ao contrário do Big Brother de Orwell não era principalmente para o entretenimento mas para vigiar as pessoas.
O programa Big Brother pretendia ser a voz do povo ou da multidão vazia. As pessoas não podem fazer aquilo que querem? E, portanto, não são necessários conhecimento, discussões racionais, recurso a autoridades nem experiência... *
Na sociedade totalitária de Orwell  “O GRANDE IRMÃO ESTÁ A VIGIAR-TE” e a polícia do pensamento interessa-se por controlar a nossa mente e a nossa vida. Como o populismo.



Até para a semana.

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* Isso é para as elites. Na definição de populismo encontramos esta dicotomia. "Populismo é um conjunto de práticas políticas que se justificam num apelo ao "povo", geralmente contrapondo este grupo a uma "elite". Não existe uma única definição do termo, que surgiu no século XIX e tem obtido diferentes significados desde então". ( Wikipédia )







14/05/22

Tempo de esperança

Sambinha para Gorbatchov. Os Afonsinhos do Condado

1985-1991. Um tempo de mudança e de esperança para o mundo. 







13/05/22

Revoluções, guerras e pessoas



A visão de Gorbatchov para a transformação da sociedade soviética trouxe grandes expectativas. Perestroika e glasnost (reestruturação e transparência) foram a forma que ele encontrou para mudar aquela sociedade. De alguma maneira, de forma civilizada, as pessoas que sofreram a ditadura comunista tinham a possibilidade de optar por uma vida de liberdade e democracia.


Como sempre acontece, a vida das pessoas é  muito mais complexa do que Gorbatchov podia prever. Porquê tantas dificuldades? Diz-nos Svetlana Aleksievitch, O fim do homem soviético, prémio nobel da literatura de 2015: "O comunismo tinha um plano louco - transformar o Homem "antigo", o vetusto Adão. E isso foi conseguido... foi talvez a única coisa que se conseguiu. Em pouco mais de setenta anos, no laboratório do marxismo-leninismo criou-se um tipo humano especial - o Homo sovieticus."


A manipulação social a  que toda a  sociedade ficou sujeita durante várias décadas tinha dado resultados. Para mudar esta sociedade, ou outra, era necessário libertá-la do condicionamento. O que estava em causa não era apenas a mudança  de uma  economia  socialista para o capitalismo, mas a mudança da cultura,  da vida de família, das interacções entre as pessoas, da educação das crianças, em suma, mudar o próprio indivíduo condicionado a um regime de violência e de medo.

Fazer o luto de uma perda, a perda do modo de vida do homem soviético, era fazer o luto da perda de uma perspectiva de desenvolvimento pessoal, baseada em ideologias, fantasias e emoções, baseada nas pequenas coisas do dia a dia que mesmo que fossem poucas e de fraca qualidade eram dadas como adquiridas.

Era um modo de vida que morria e para o qual era necessário tempo suficiente para que houvesse mudança. Porém, a euforia do consumismo, o poder do dinheiro, económico e social, aliado ao poder político substituiu a nomenklatura pelos oligarcas que passaram a gestores das grandes empresas principalmente do sector energético...


A perestroika trouxe o desencanto. A  adaptação à nova situação continua a fazer-se com muita dificuldade.

Para além das análises geoestratégicas que se possam fazer é interessante analisar o processo que se desenvolveu e a  situação complexa vivida após a perestroika.

A perestroika foi a oportunidade perdida para fazer um caminho de democratização e liberdade com repercussão a nível das pessoas e dos seus comportamentos.

Algumas pessoas aproveitaram este tempo de liberdade para perceberem as vantagens dessa liberdade mas outras tiveram uma  atitude vingativa, e outras a da divisão do que restava do império.


A confusão entre uma sociedade de bem-estar e sociedade consumista está bem patente  nos  testemunhos de pessoas concretas relatados em O fim do homem soviético - um tempo de desencanto.

A frustração da vida sob o regime soviético, a miséria, a falta de liberdade, as denúncias dos vizinhos e familiares, as condenações injustificadas, tudo o que contribuiu para esta frustração quando esperavam melhorar a vida não teve melhor resultado com a perestroika ...

E então surgiu o salvador... Porém, nenhuma das teorias geo-estratégicas,  interessantes ou não, pode servir de  justificação ou pretexto para invadir países e destruí-los. Mas foi o que aconteceu. Os cenários viraram realidade trágica a 24 de Fevereiro e o sofrimento das pessoas voltou.

 


 

Até para a semana.





 

 

  

 

 

 

04/05/22

"Porquê a guerra ?"

 Image illustrative de l’article Pourquoi la guerre ?



É a pergunta que qualquer ser humano poderá fazer perante a tragédia da guerra a que estamos a assistir. É a pergunta que fazem, em primeiro lugar, as principais vítimas,  os ucranianos, os que sofrem, choram, perderam tudo, família, filhos, pais, casa, foram violados, feridos...
O que leva um ser humano a cometer todo o tipo de violência contra as pessoas, crimes contra a humanidade?

Foi a interrogação de Konrad Adenauer, após a 2ª guerra mundial, ao perguntar: como foi possível ter acontecido?
Adenauer, escrevia nas suas memórias: "A democracia não termina num regime parlamentar; tem que estar apoiada, sobretudo, na consciência do indivíduo...
Democracia é um conceito universal que tem as raízes na dignidade, no valor e nos irrevogáveis direitos do indivíduo. Quem, de verdade, pensa democraticamente, deve sentir respeito pelo outro, pelos seus elementares desejos e aspirações."

Foi também a pergunta que Einstein fez a Freud. Porquê a guerra? Existe alguma forma de livrar a humanidade da ameaça de guerra?
A explicação poderá ser de ordem psicológica? Podemos explicar a guerra pela personalidade dos líderes que surgem, periodicamente, nos diversos países?
Obviamente que não surgem por geração espontânea. Por isso, temos que nos interrogar se estamos perante indivíduos com perturbações psicopatológicas como a perturbação anti-social de personalidade ou a perturbação narcísica de personalidade, o que significa que temos de nos interrogar sobre o seu desenvolvimento psicológico e as aprendizagens feitas ao longo da sua vida. 
Em 1932, Einstein, propôs a Freud a troca de correspondência, pública, sobre o problema da paz.
Quais são os factores psicológicos de peso que paralisam tais esforços a favor da paz?
Freud recusa que a psicanálise possa caucionar as considerações sobre o bem e o mal inscritos no inconsciente. Há um dualismo pulsional: pulsão de vida e pulsão de morte mas seria desajustado conotar moralmente estas pulsões. Uma é tão indispensável quanto a outra e os fenómenos da vida têm acções conjugadas das duas.
Freud acha que não faz sentido querer suprimir as tendências agressivas dos homens.
Mas pode-se lutar contra a agressividade humana pelo reforço de Eros; tudo o que leva às ligações entre os homens não pode ser senão contra a guerra.
Tudo o que desenvolva estes importantes traços comuns convoca sentimentos partilhados, isto é, identificações. A psicanálise recomenda o reforço das ligações pulsionais pelo amor e pelas identificações.
Para Freud, a guerra é uma regressão, um regresso à violência das origens e uma destruição da aptidão profunda do homem pela civilização.
A cultura é certamente destruída pela guerra mas ela é também o baluarte que promove o desenvolvimento do ser humano e que trabalha contra a guerra.

Todos sabíamos o que podia acontecer: o que não sabíamos é que no sec XXI fosse possível regredir tanto às antigas fórmulas desumanas e contra as regras internacionais.
Há violência entre as nações porque há violência dentro de nós. Porquê a guerra? Porque não somos capazes de sermos civilizados e de nos tornarmos pessoas cultas. 


Até para a semana.




29/04/22

Tudo menos "cisne negro"

Miguel Monjardino, "Guerra e Paz", Expresso, 30 de Janeiro de 2016. Casualmente, o jornal não teve o destino habitual e o assunto reactivou-me a memória e a atenção: Deixa cá ver...
Tinha acontecido a Ucrânia - Crimeia e a seguir a Síria. 
Infelizmente está aqui tudo e é extraordinário como MM fez a previsão certa para os acontecimentos de 24 de Fevereiro de 2022. Não queria acreditar. Todos nos perguntamos como foi possível chegar aqui. Afinal os sinais já estavam lá todos, apenas faltava saber a data.








27/04/22

O direito à liberdade de viver sem medo

Norman Rockwell, Freedom from Fear (1943), Série Four Freedoms.

 

Todos conhecemos o episódio da “invasão pelos marcianos” de  uma cidade dos Estados Unidos, difundido pela CBS, em 1938.(1) Foi ouvido por cerca de 6 milhões de pessoas das quais metade o sintonizou quando já havia começado, perdendo a informação de que se tratava da radionovela semanal. 

O que se passou a seguir é espantoso: Mais de um mlhão de pessoas acreditou ser um facto real. Dessas, meio milhão teve certeza de que o perigo era iminente, entrando em pânico, sobrecarregando linhas telefónicas, com aglomerações nas ruas e congestionamentos causados por ouvintes apavorados tentando fugir do perigo.

 

Podemos dizer, que há vários passos para a manipulação das pessoas:

- Espera prolongada e tensa.

- Aumento progressivo da excitação.

- Arrastamento do indivíduo pela multidão.

- Perda de distanciamento crítico.

- Despersonalização na "embriaguez " das multidões.

Vejamos. Ao mesmo tempo que aumentava a tensão com as manobras militares mostradas nos media, crescia a incerteza da invasão e ocupação da Ucrânia. Mesmo após a invasão, em 24 de Fevereiro, ela foi negada, e continua a não se poder falar no país invasor de invasão.

Para haver manipulação não é necessário tratar-se de acontecimentos concretos mas de tudo quanto possa ser objecto de manipulações: sentimentos inflamados, situações sensacionais, necessidades fundamentais (A manipulação dos espíritos, pag. 40)

A tensão vai-se construindo pela repetição do que dizem estar em jogo – a segurança. Para isso, o maior país do mundo, necessita, imagine-se, dominar outros povos e alargar a sua influência, desde a Síria, Geórgia, Moldávia, Ucrânia...(2)

 

“Os sentimentos de angústia não são menos perigosos do que a agressividade. Quem esteja dominado pela angústia, só por acaso reagirá ajuizadamente. A sua reacção “normal” é a fuga. 

A fuga inspirada pelo medo tem vários rostos e não se vê imediatamente o que atrás deles se esconde. É conhecida a fuga para o mutismo, a partida para férias, o refúgio na superstição, na mentira, na doença, no extremismo.” (Idem, pag. 40)

 

O medo faz parte e  condiciona a nossa vida e é uma forma de manipulação psicológica...

É por isso que os manipuladores se dedicam à fabricação do medo. Dos “pequenos medos”. Lembram-se do açambarcamento de papel higiénico no início da pandemia ou das filas de automóveis nas estações de serviço sempre que há um aumento do preço do petróleo... 

E dos grandes medos. Somos manipulados pela força bruta da guerra, a força dissimulada da propaganda, a força de destruição das novas armas, a força megalómana dos teóricos dos impérios... (3)

Somos manipulados pelas ameaças veladas ou expressas, como o medo do alastramento da guerra a outros países, o medo expresso ou insinuado da possibilidade da terceira guerra mundial, a ameaça da utilização de armas nucleares...  são formas de manipular as pessoas para as condicionar na sua vida, na sua vontade, no seu pensamento e nas suas decisões...

 

Por isso, o direito à "Liberdade de viver sem medo", referido por Roosevelt, é fundamental  para se viver. 

 

Até para a semana.

 

 

 

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(1) Tratava-se da adaptação d ‘A Guerra dos Mundos, um romance de ficção científica de Herbert George Wells, adaptado por Orson Welles.


(2) Não deixa de ser interessante que uma deputada do bloco de esquerda venha justificar:“O que está em causa para a Rússia é a segurança do seu espaço e da sua fronteira” (linhas vermelhas - programas) . 

Este caminho pode tornar-se desastroso quando se entende a segurança do espaço como "espaço vital".


(3) E, nos últimos anos, o medo das consequências das alterações climáticas tem sido utilizado como pensamento único e como forma de manipular as pessoas pelo medo, sujeito a censura nas redes sociais. (“Apocalipse nunca: por que o alarmismo ambiental nos prejudica a todos”,  Michael Shellenberger).

 










21/04/22

A questão da liderança


Podemos dizer que a vida de um povo depende dele próprio que ao escolher ou tolerar determinado líder aceita, passivamente, não se manifestando ou, activamente, apoiando ou opondo-se, a compreensão que faz do seu passado e a vida que quer viver agora e no futuro.
Sabemos muito sobre liderança mas não queremos compreender como ela pode ser determinante para a mudança de comportamentos de toda a sociedade. Ora bem, a liderança começa em cada um de nós pela forma como sabe e é capaz de gerir as suas emoções.
Como diz Augusto Cury, "só é eficiente quem aprende a ser líder de si próprio, ainda que intuitivamente: tropeçando, traumatizando-se, levantando-se, interiorizando-se, reciclando-se." (Gestão da emoção, pag. 7)
Ou seja “ sem saber gerir a emoção, nenhuma das restantes competências tem sustentação. Sem liderar o mais rebelde, fascinante e importante dos mundos, a emoção, não é possível dar musculatura ao pensamento estratégico, à arte de negociar, à habilidade de se reinventar e de ser proativo.” (Pag. 8)
A liderança política é, por isso, a capacidade que um indivíduo tem de se auto-dirigir e de dirigir os processos políticos, levando os outros a seguirem essa forma de actuação ou modelagem.

Um líder político deve ter conhecimento do contexto histórico em que vive, da sua comunidade, do seu país, e deve ser capaz de se adaptar e ou de mudar conforme o contexto, colaborando com os cidadãos na melhoria das condições de vida do povo a quem serve e de procurar as melhores relações com os outros indivíduos e povos.

Os líderes, políticos ou não, podem usar vários estilos. Kurt Lewin definiu os três tipos de liderança que normalmente existem nos grupos e nas organizações: A liderança liberal ou laissez-faire, a liderança democrática ou participativa e a liderança autoritária.
O líder liberal só aparece quando solicitado a isso e normalmente as decisões são tomadas pelos indivíduos ou pelo grupo. É mais um facilitador de processos, coordenador do grupo e da informação. Mas isso também pode significar aumento da responsabilidade e iniciativa individual.
Na liderança democrática ou participativa, os membros de um grupo ou organização assumem a responsabilidade da tomada de decisão. Dessa forma, cada um oferece o melhor que pode colocar à disposição do grupo ou da organização.
Ao contrário da liderança democrática e da liderança liberal, a liderança autocrática assume um controle absoluto sobre a maioria dos processos vividos pelas pessoas. Este estilo de liderança é autoritário e não conta com a participação de quem está fora do governo.

É por isso que, num regime democrático, ou mesmo num regime autoritário quando a oposição é tolerada, a liderança da oposição assume um papel fundamental. 
Essa liderança baseia-se na resistência ao poder estabelecido. É seu papel questionar as medidas tomadas, avaliar os erros e denunciá-los. Ao deixar de ser oposição, essa liderança perde o seu sentido de ser, devendo assumir outra forma de estar na política.
Como vimos, as lideranças e os estilos de liderança são diversos e fazem toda a diferença na história dos povos como se vê no tempo em que vivemos...


Até para a semana.



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18/04/22

Propaganda - fazer o mal e a caramunha



Qualquer regime político, ditadura ou democracia, usa a persuasão e propaganda no âmbito da luta política com vista a alcançar determinados objectivos.

Para Andrea Devoto, persuasão e propaganda “são duas técnicas de mobilização ideológica dos indivíduos e das massas, típicas do mundo moderno muito embora no passado se possa citar exemplos da sua utilização.” (A tirania psicológica, pag. 293)

Hoje em dia, é muito vasto o conjunto de meios à disposição dos políticos no campo da persuasão e propaganda... Sou do tempo d’ “A verdade é só uma, rádio Moscovo não fala verdade!”  ou de quando ouvíamos a BBC para sabermos as últimas notícias, mas em que a propaganda estava incluída quer num caso quer no outro... Desde então os media tiveram uma evolução sem precedentes o que permitiu mais informação mas também mais propaganda e manipulação. Hoje, o acesso à realidade é ainda mais difícil como o provam as fake news, as deepfake,  os cancelamentos (woke), a necessidade de “polígrafos”... em que tudo aquilo que não seja “politicamente correcto” é censurado e as pessoas são destituídas dos seus cargos e  prejudicadas nas suas carreiras... Ou seja, os media, controlados pelo estado ou nãoinfluenciam ou até controlam o nosso pensamento e a  nossa vida. *


No entanto, existe uma grande diferença entre regimes totalitários e os variados regimes democráticos. Esta diferença nota-se principalmente na maneira como se ocupam dos simples cidadãos, para os regimes totalitários o individuo não tem qualquer relevo, ao contrário do que acontece nos regimes democráticos. (A. Devoto, referindo Antonio Miotto, pag. 294.) Para os regimes totalitários o indivíduo desaparece para se sujeitar e uniformizar ao grupo conforme o grupo e o estado desejam.


A propaganda tem efeito nos processos conscientes e inconscientes do indivíduo. Usa técnicas psicológicas de condicionamento do comportamento (Pavlov, Whatson, Skinner) explora as técnicas de comunicação, estuda as motivações, utiliza a percepção subliminar, etc..

Tudo isto funciona no contexto em que o condicionamento social transforma o ser humano alterando a sua personalidade.** É por isso tão importante o apelo à juventude e à participação nas organizações juvenis... O processo de socialização, a aprendizagem do indivíduo a viver em sociedade e a adaptação às normas do grupo e da comunidade em que vive, de algum modo condiciona socialmente o indivíduo. 

Assim condicionados, podemos perguntar até que ponto o ser humano é ou não livre nas suas atitudes e nos seus comportamentos, nas suas escolhas e decisões... 


Então, podemos concluir que estamos sujeitos à propaganda de um ou de outro lado do conflito. Como sabemos até que ponto estamos ou nao a ser manipulados pela acção psicológica? Não sabemos.

Porém, sabemos que a propaganda para ser eficaz não deve ser exagerada. Putin faz o mal e a caramunha: faz o que está à vista de todos, invade a Ucrânia,  e depois queixa-se de ser vítima do regime ucraniano. Queixa-se de que não tinha outro remédio senão invadir a Ucrânia e, como tem “nobres” sentimentos, vai salvar os ucranianos desse demónio (o regime ucraniano). Como no modelo de Karpman é vítima-agressor-salvador. E este é um agressor particularmente violento e arrasador que já se adivinhava pelo comportamento anterior noutros “salvamentos”.

 


Até para a semana com muita paz.

 


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** Svetlana Aleksievitch, O fim do homem soviético - Um tempo de desencanto, 2012 (trad. portuguesa de 2015)