19/05/22

Populismo


              
         

O populismo é hoje um dos maiores desafios para a democracia. O Papa Francisco na carta encíclica Fratelli Tutti, refere: “nos últimos anos os termos “populismo” e “populista” invadiram os meios de comunicação e a linguagem em geral, perdendo assim o valor que poderiam conter para compor uma das polaridades da sociedade dividida."
Tampouco o populismo ajuda a compreender que a sociedade é mais do que a mera soma de indivíduos. “A verdade é que há fenómenos sociais que estruturam as maiorias, existem megatendências e aspirações comunitárias; além disso, pode pensar-se em objetivos comuns, independentemente das diferenças, para implementar juntos um projeto compartilhado; enfim, é muito difícil projetar algo de grande a longo prazo se não se consegue torná-lo um sonho coletivo. Tudo isto está expresso no substantivo “povo” e no adjetivo “popular”. 
“Povo não é uma categoria lógica nem uma categoria mística no sentido de que tudo o que faz o povo é bom ou no sentido de que o povo seja uma entidade angelical. É uma categoria mítica”... “Pertencer a um povo é fazer parte de uma identidade comum, formada por vínculos sociais e culturais. E isto não é algo de automático; muito pelo contrário: é um processo lento e difícil... rumo a um projeto comum.” (pag. 95-99)

Há líderes que têm capacidade para interpretarem o sentir do povo, mas outros que degeneram este sentimento. Falam em nome do povo mas desprezam as pessoas e os indivíduos concretos.
Os regimes populistas, um pouco por todo o mundo, têm-se instalado no poder, tanto à esquerda como á direita. Partilham esta dicotomia de se considerarem povo, falarem e agirem em nome do povo, fazendo a clivagem com os outros: o antipovo (Gloria Alvarez), passando a dirigir ditaduras que não respeitam os adversários políticos, liquidam os opositores e prendem manifestantes...

Nos nossos dias, o populismo está nas mais diversas manifestações sociais e políticas mesmo nas mais improváveis e, aparentemente, inocentes.
“Hannah Arendt, citada por Bernard Crick (pag. 86-91), distinguiu “povo” de “multidão”. O povo pretende ser uma representação politicamente eficaz enquanto a multidão odeia a sociedade da qual foi excluída.
O Big Brother, por ex., é um jogo controverso e estupidificante pelo seguinte: 
- cria a ilusão de naturalismo. Reconhecemo-nos em pessoas que fazem aquilo que nós costumamos fazer ...
- dá ao espectador um poder de sentenciar: a ilusão de participação democrática e do poder popular...
- atrai uma vasta multidão para ver ao vivo as expulsões daqueles em que votaram 
- finalmente, e ao contrário do Big Brother de Orwell não era principalmente para o entretenimento mas para vigiar as pessoas.
O programa Big Brother pretendia ser a voz do povo ou da multidão vazia. As pessoas não podem fazer aquilo que querem? E, portanto, não são necessários conhecimento, discussões racionais, recurso a autoridades nem experiência... *
Na sociedade totalitária de Orwell  “O GRANDE IRMÃO ESTÁ A VIGIAR-TE” e a polícia do pensamento interessa-se por controlar a nossa mente e a nossa vida. Como o populismo.



Até para a semana.

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* Isso é para as elites. Na definição de populismo encontramos esta dicotomia. "Populismo é um conjunto de práticas políticas que se justificam num apelo ao "povo", geralmente contrapondo este grupo a uma "elite". Não existe uma única definição do termo, que surgiu no século XIX e tem obtido diferentes significados desde então". ( Wikipédia )







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