13/05/22

Revoluções, guerras e pessoas



A visão de Gorbatchov para a transformação da sociedade soviética trouxe grandes expectativas. Perestroika e glasnost (reestruturação e transparência) foram a forma que ele encontrou para mudar aquela sociedade. De alguma maneira, de forma civilizada, as pessoas que sofreram a ditadura comunista tinham a possibilidade de optar por uma vida de liberdade e democracia.


Como sempre acontece, a vida das pessoas é  muito mais complexa do que Gorbatchov podia prever. Porquê tantas dificuldades? Diz-nos Svetlana Aleksievitch, O fim do homem soviético, prémio nobel da literatura de 2015: "O comunismo tinha um plano louco - transformar o Homem "antigo", o vetusto Adão. E isso foi conseguido... foi talvez a única coisa que se conseguiu. Em pouco mais de setenta anos, no laboratório do marxismo-leninismo criou-se um tipo humano especial - o Homo sovieticus."


A manipulação social a  que toda a  sociedade ficou sujeita durante várias décadas tinha dado resultados. Para mudar esta sociedade, ou outra, era necessário libertá-la do condicionamento. O que estava em causa não era apenas a mudança  de uma  economia  socialista para o capitalismo, mas a mudança da cultura,  da vida de família, das interacções entre as pessoas, da educação das crianças, em suma, mudar o próprio indivíduo condicionado a um regime de violência e de medo.

Fazer o luto de uma perda, a perda do modo de vida do homem soviético, era fazer o luto da perda de uma perspectiva de desenvolvimento pessoal, baseada em ideologias, fantasias e emoções, baseada nas pequenas coisas do dia a dia que mesmo que fossem poucas e de fraca qualidade eram dadas como adquiridas.

Era um modo de vida que morria e para o qual era necessário tempo suficiente para que houvesse mudança. Porém, a euforia do consumismo, o poder do dinheiro, económico e social, aliado ao poder político substituiu a nomenklatura pelos oligarcas que passaram a gestores das grandes empresas principalmente do sector energético...


A perestroika trouxe o desencanto. A  adaptação à nova situação continua a fazer-se com muita dificuldade.

Para além das análises geoestratégicas que se possam fazer é interessante analisar o processo que se desenvolveu e a  situação complexa vivida após a perestroika.

A perestroika foi a oportunidade perdida para fazer um caminho de democratização e liberdade com repercussão a nível das pessoas e dos seus comportamentos.

Algumas pessoas aproveitaram este tempo de liberdade para perceberem as vantagens dessa liberdade mas outras tiveram uma  atitude vingativa, e outras a da divisão do que restava do império.


A confusão entre uma sociedade de bem-estar e sociedade consumista está bem patente  nos  testemunhos de pessoas concretas relatados em O fim do homem soviético - um tempo de desencanto.

A frustração da vida sob o regime soviético, a miséria, a falta de liberdade, as denúncias dos vizinhos e familiares, as condenações injustificadas, tudo o que contribuiu para esta frustração quando esperavam melhorar a vida não teve melhor resultado com a perestroika ...

E então surgiu o salvador... Porém, nenhuma das teorias geo-estratégicas,  interessantes ou não, pode servir de  justificação ou pretexto para invadir países e destruí-los. Mas foi o que aconteceu. Os cenários viraram realidade trágica a 24 de Fevereiro e o sofrimento das pessoas voltou.

 


 

Até para a semana.





 

 

  

 

 

 

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