25/11/15

Urgência de Eros


Adenauer, depois da 2ª guerra mundial, interrogou a sua consciência sobre o que tinha acontecido para que a guerra tivesse existido.
Havia sinais visíveis do que ia acontecer: a proibição de manifestações culturais, musicais, da correspondência indesejada.
Apesar do contexto de crise na Europa, as memórias da carnificina da guerra de 14-18 ainda eram recentes. Seria possível uma nova guerra porque os homens não aprendem? O que faz com que os homens embarquem numa nova aventura mortífera?
Este é o problema: Existe alguma forma de livrar a humanidade da ameaça de guerra? É do conhecimento geral que, com o progresso da ciência de nossos dias, esse tema adquiriu significação de assunto de vida ou morte para a civilização, tal como a conhecemos; não obstante, apesar de todo o empenho demonstrado, todas as tentativas de solucioná-lo terminaram em lamentável fracasso.
Foi por isso que, em 1932, em plena crise económica e política, Einstein, pacifista empenhado, sob a égide do Comité Permanente para a Literatura e as Artes da Liga das Nações, propôs a Freud a troca de correspondência, pública, sobre o problema da paz.
Nesta troca de correspondência que se chamou “Porquê a guerra?” Einstein qualifica a sua preocupação como a questão mais importante para a civilização e interroga Freud sobre o que pode levar os homens a afastarem-se da guerra quando se sabia que não havia um organismo internacional poderoso que pudesse fazer com que as nações se submetessem às decisões legislativas e judiciárias em nome da paz e do bem comum.
Quais são os factores psicológicos de peso que paralisam tais esforços a favor da paz ?
Freud recusa que a psicanálise possa caucionar as considerações sobre o bem e o mal inscritos no inconsciente. Há um dualismo pulsional: pulsão de vida e pulsão de morte mas seria desajustado conotar moralmente estas pulsões. Uma é tão indispensável quanto a outra e os fenómenos da vida têm acções conjugadas das duas.
Freud acha que não faz sentido querer suprimir as tendências agressivas dos homens.
Mas pode-se lutar contra a agressividade humana pelo reforço de Eros, tudo o que leva às ligações entre os homens não pode ser senão conta a guerra.
Tudo o que desenvolva estes importantes traços comuns convoca sentimentos partilhados, isto é, identificações. A psicanálise recomenda o reforço das ligações pulsionais pelo amor e pelas identificações.
Para Freud, a guerra é uma regressão, um regresso à violência das origens e uma destruição da aptidão profunda do homem pela civilização.
A cultura é certamente destruída pela guerra mas ela é também o baluarte que promove o desenvolvimento do ser humano  e que trabalha contra a guerra.

A publicação do texto foi proibida pelos nazis. Martin, o filho mais velho de Freud, vai ocupar-se da sua difusão clandestina na Áustria.
A 1 de Setembro de 1939 as tropas alemãs invadiam a Polónia.

No tempo presente, com sinais tão preocupantes, vale a pena ter presente a correspondência entre Einstein e Freud. Não só em relação à violência entre as nações mas à violência que está dentro de cada um de nós.

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Brigitte Bergmann, "Freud et Einstein: Pourquoi la guerre?", Le cercle psy, nº 16, 2015, pag. 94-95.

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