18/04/22

Propaganda - fazer o mal e a caramunha



Qualquer regime político, ditadura ou democracia, usa a persuasão e propaganda no âmbito da luta política com vista a alcançar determinados objectivos.

Para Andrea Devoto, persuasão e propaganda “são duas técnicas de mobilização ideológica dos indivíduos e das massas, típicas do mundo moderno muito embora no passado se possa citar exemplos da sua utilização.” (A tirania psicológica, pag. 293)

Hoje em dia, é muito vasto o conjunto de meios à disposição dos políticos no campo da persuasão e propaganda... Sou do tempo d’ “A verdade é só uma, rádio Moscovo não fala verdade!”  ou de quando ouvíamos a BBC para sabermos as últimas notícias, mas em que a propaganda estava incluída quer num caso quer no outro... Desde então os media tiveram uma evolução sem precedentes o que permitiu mais informação mas também mais propaganda e manipulação. Hoje, o acesso à realidade é ainda mais difícil como o provam as fake news, as deepfake,  os cancelamentos (woke), a necessidade de “polígrafos”... em que tudo aquilo que não seja “politicamente correcto” é censurado e as pessoas são destituídas dos seus cargos e  prejudicadas nas suas carreiras... Ou seja, os media, controlados pelo estado ou nãoinfluenciam ou até controlam o nosso pensamento e a  nossa vida. *


No entanto, existe uma grande diferença entre regimes totalitários e os variados regimes democráticos. Esta diferença nota-se principalmente na maneira como se ocupam dos simples cidadãos, para os regimes totalitários o individuo não tem qualquer relevo, ao contrário do que acontece nos regimes democráticos. (A. Devoto, referindo Antonio Miotto, pag. 294.) Para os regimes totalitários o indivíduo desaparece para se sujeitar e uniformizar ao grupo conforme o grupo e o estado desejam.


A propaganda tem efeito nos processos conscientes e inconscientes do indivíduo. Usa técnicas psicológicas de condicionamento do comportamento (Pavlov, Whatson, Skinner) explora as técnicas de comunicação, estuda as motivações, utiliza a percepção subliminar, etc..

Tudo isto funciona no contexto em que o condicionamento social transforma o ser humano alterando a sua personalidade.** É por isso tão importante o apelo à juventude e à participação nas organizações juvenis... O processo de socialização, a aprendizagem do indivíduo a viver em sociedade e a adaptação às normas do grupo e da comunidade em que vive, de algum modo condiciona socialmente o indivíduo. 

Assim condicionados, podemos perguntar até que ponto o ser humano é ou não livre nas suas atitudes e nos seus comportamentos, nas suas escolhas e decisões... 


Então, podemos concluir que estamos sujeitos à propaganda de um ou de outro lado do conflito. Como sabemos até que ponto estamos ou nao a ser manipulados pela acção psicológica? Não sabemos.

Porém, sabemos que a propaganda para ser eficaz não deve ser exagerada. Putin faz o mal e a caramunha: faz o que está à vista de todos, invade a Ucrânia,  e depois queixa-se de ser vítima do regime ucraniano. Queixa-se de que não tinha outro remédio senão invadir a Ucrânia e, como tem “nobres” sentimentos, vai salvar os ucranianos desse demónio (o regime ucraniano). Como no modelo de Karpman é vítima-agressor-salvador. E este é um agressor particularmente violento e arrasador que já se adivinhava pelo comportamento anterior noutros “salvamentos”.

 


Até para a semana com muita paz.

 


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** Svetlana Aleksievitch, O fim do homem soviético - Um tempo de desencanto, 2012 (trad. portuguesa de 2015) 




 

 


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