27/04/22

O direito à liberdade de viver sem medo

Norman Rockwell, Freedom from Fear (1943), Série Four Freedoms.

 

Todos conhecemos o episódio da “invasão pelos marcianos” de  uma cidade dos Estados Unidos, difundido pela CBS, em 1938.(1) Foi ouvido por cerca de 6 milhões de pessoas das quais metade o sintonizou quando já havia começado, perdendo a informação de que se tratava da radionovela semanal. 

O que se passou a seguir é espantoso: Mais de um mlhão de pessoas acreditou ser um facto real. Dessas, meio milhão teve certeza de que o perigo era iminente, entrando em pânico, sobrecarregando linhas telefónicas, com aglomerações nas ruas e congestionamentos causados por ouvintes apavorados tentando fugir do perigo.

 

Podemos dizer, que há vários passos para a manipulação das pessoas:

- Espera prolongada e tensa.

- Aumento progressivo da excitação.

- Arrastamento do indivíduo pela multidão.

- Perda de distanciamento crítico.

- Despersonalização na "embriaguez " das multidões.

Vejamos. Ao mesmo tempo que aumentava a tensão com as manobras militares mostradas nos media, crescia a incerteza da invasão e ocupação da Ucrânia. Mesmo após a invasão, em 24 de Fevereiro, ela foi negada, e continua a não se poder falar no país invasor de invasão.

Para haver manipulação não é necessário tratar-se de acontecimentos concretos mas de tudo quanto possa ser objecto de manipulações: sentimentos inflamados, situações sensacionais, necessidades fundamentais (A manipulação dos espíritos, pag. 40)

A tensão vai-se construindo pela repetição do que dizem estar em jogo – a segurança. Para isso, o maior país do mundo, necessita, imagine-se, dominar outros povos e alargar a sua influência, desde a Síria, Geórgia, Moldávia, Ucrânia...(2)

 

“Os sentimentos de angústia não são menos perigosos do que a agressividade. Quem esteja dominado pela angústia, só por acaso reagirá ajuizadamente. A sua reacção “normal” é a fuga. 

A fuga inspirada pelo medo tem vários rostos e não se vê imediatamente o que atrás deles se esconde. É conhecida a fuga para o mutismo, a partida para férias, o refúgio na superstição, na mentira, na doença, no extremismo.” (Idem, pag. 40)

 

O medo faz parte e  condiciona a nossa vida e é uma forma de manipulação psicológica...

É por isso que os manipuladores se dedicam à fabricação do medo. Dos “pequenos medos”. Lembram-se do açambarcamento de papel higiénico no início da pandemia ou das filas de automóveis nas estações de serviço sempre que há um aumento do preço do petróleo... 

E dos grandes medos. Somos manipulados pela força bruta da guerra, a força dissimulada da propaganda, a força de destruição das novas armas, a força megalómana dos teóricos dos impérios... (3)

Somos manipulados pelas ameaças veladas ou expressas, como o medo do alastramento da guerra a outros países, o medo expresso ou insinuado da possibilidade da terceira guerra mundial, a ameaça da utilização de armas nucleares...  são formas de manipular as pessoas para as condicionar na sua vida, na sua vontade, no seu pensamento e nas suas decisões...

 

Por isso, o direito à "Liberdade de viver sem medo", referido por Roosevelt, é fundamental  para se viver. 

 

Até para a semana.

 

 

 

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(1) Tratava-se da adaptação d ‘A Guerra dos Mundos, um romance de ficção científica de Herbert George Wells, adaptado por Orson Welles.


(2) Não deixa de ser interessante que uma deputada do bloco de esquerda venha justificar:“O que está em causa para a Rússia é a segurança do seu espaço e da sua fronteira” (linhas vermelhas - programas) . 

Este caminho pode tornar-se desastroso quando se entende a segurança do espaço como "espaço vital".


(3) E, nos últimos anos, o medo das consequências das alterações climáticas tem sido utilizado como pensamento único e como forma de manipular as pessoas pelo medo, sujeito a censura nas redes sociais. (“Apocalipse nunca: por que o alarmismo ambiental nos prejudica a todos”,  Michael Shellenberger).

 










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