12/05/14

Rousseau ou Dolto ? Talvez Spock.


Um dos argumentos com que justificam o actual comportamento indisciplinado e ou perturbado  das crianças,  parece ser a influência  exercida por alguns pensadores na "filosofia" de educação das famílias e escolas. As ideias de Rousseau e Dolto são das mais criticadas.
Desde logo não se entende porque é que umas crianças são indisciplinadas e outras têm bom comportamento dadas as circunstâncias dessa filosofia ser a mesma para umas e para outras. Umas apanham o "vírus" e outras não.  
Outro aspecto interessante, verdadeiramente espantoso, é saber como a influência de alguns destes pensadores se faz sentir nos mais diversos países. Em França, Françoise Dolto poderia ter alguma influência na atitude permissiva parental nos comportamentos desajustados dos filhos.  Mas, em Portugal, quem conhece Dolto?

Ora os problemas da escola são transversais a um grande número de países, onde as crianças apresentam os mesmos comportamentos que as crianças francesas. Os problemas escolares e as queixas sobre indisciplina são idênticos.
la cause des enfants
A sala de aula apresenta os mesmos problemas que em Portugal, nos EU ou em França. O fenómeno das semelhanças educativas e das diferentes consequências comportamentais não é um exclusivo de cada país. Também com diferenças educativas podemos chegar a resultados semelhantes. 

Em Portugal tem havido a moda anti-rousseauniana. "Os filhos de Rousseau" originou alguma polémica entre M. Filomena Mónica e Valter Lemos.  "As crianças nascem boas e a sociedade é que as faz más" e a partir daqui toda a educação ficou inquinada. Sabemos que os comportamentos são multifactoriais. Mas uma frase exagerada ou mesmo errada não é apresentada sem críticas. É claro que a visão educativa de Rousseau é muito mais do que este cliché.
A crítica que Didier Pleux, ("De l'enfant roi à l'enfant tyran"/"Da criança-rei à criança tirana") faz ao Doltoísmo por ser ele o responsável pela educação permissiva ou pela perigosidade educativa das suas ideias torna o debate interessante. Em contrapartida, tem outra visão de Rousseau que é referenciado inúmeras vezes no seu livro. 

Por vezes, também se apresenta a escola da permissividade a partir do livro de Benjamin Spock (Meu Filho, Meu Tesouro) como responsável por uma geração de crianças mimadas, indisciplinadas e acima de tudo porque disse que não se devia bater nas crianças.
Em "Um mundo melhor para os nossos filhos", B. S. ensaia, sem sucesso, o desmentido,   "O rótulo da permissividade":
"... muitos pais abordam-me nas ruas ou nos aeroportos para me agradeceram por tê-los ajudado a criar crianças óptimas e frequentemente acrescentam «Não vejo qualquer espécie de "satisfação instantânea" no Meu Filho, Meu Tesouro. » Respondo-lhes que estão certos.
Sempre aconselhei os pais a tratarem os filhos com uma autoridade firme e clara e a pedirem cooperação e boas maneiras em troca. Por outro lado, recebi também cartas de mães conservadoras dizendo, efectivamente: «Graças a Deus que nunca usei o seu livro horrível.
É por isso que os meus filhos tomam banho, usam roupa lavada e tiram boas notas na escola.»
Uma vez que recebi a primeira acusação vinte e dois anos depois de Meu Filho, Meu Tesouro ter sido pela primeira vez publicado - e uma vez que aqueles que escrevem a respeito dos efeitos nefastos do livro me asseguram invariavelmente que nunca o usaram -, penso que é óbvio que a hostilidade é em relação às minhas opiniões políticas e não aos conselhos sobre puericultura. E embora eu ande a negar essa acusação há vinte e cinco anos, uma das primeiras perguntas que muitos jornalistas e entrevistadores me fazem é «Doutor Spock, ainda  é permissivo?» Nunca conseguimos ver-nos completamente livres de uma acusação falsa."(pag.29)


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