Passaram mais umas eleições europeias. Provavelmente por incapacidade minha não (ou)vi praticamente discutir sobre a Europa. Federalistas, europeístas convictos, eurocépticos, europeus críticos, europeus optimistas, europeus pessimistas, antieuropeus... todos ávidos por um lugarzinho no parlamento europeu. Estiveram, aliás, mais interessados em discutir o que se passa na política interna e, nesse sentido, parece que não foi apenas problema meu. O que se seguiu após os resultados, e ainda a procissão vai no adro, veio confirmar que, afinal, havia outras contas internas a ajustar.
O Presidente da República pediu que se discutisse a Europa mas isso também não adiantou. Talvez por isso, o povo tenha ficado mais confuso... mas será que a ideia era esclarecer?
Ora a Europa deve ser discutida. Somos europeus, não há duvida, por mais "jangadas de pedra" que inventemos.
Vasco Graça Moura escreveu um ensaio sobre A Identidade Cultural Europeia que bem podia ser o pano de fundo para discutir a Europa.
É tanto mais importante quanto sabemos a que levaram as convulsões recentes nos Balcãs, ou que se passam na Ucrânia, actualmente.
“A seguir à segunda guerra mundial desencadeou-se um intenso movimento de reflexão sobre o espírito europeu, a construção europeia, o humanismo, a violência, a guerra, a cultura, o progresso técnico e o progresso moral e tópicos relacionados. A identidade europeia não é nem pode ser um facto imobilizado no tempo. É antes um processo em marcha..."
O erro será, porventura, o convencimento de que a Europa é uma realidade estática e conseguida.
Depois das eleições, e já foi assim anteriormente, ficamos sempre com a sensação de que a maioria dos europeus não quer saber. Há um divórcio entre as elites políticas e os diferentes povos da União Europeia. Talvez, por isso, porque a Europa não é uma realidade construída por cada um, por cada comunidade, por cada país, o divórcio se aprofunde.
Impõe-se por isso a pergunta: “a Europa terá mesmo uma identidade cultural ? Em que sentido se poderá falar de uma comunidade de valores partilhados ?”
“A história da Europa não é linear e também não o é a sua identidade possível". Muitas contradições e conflitos, inquietações e incertezas... Mas, como a Fénix, é necessário renascer das próprias cinzas ou das próprias fraquezas.
Alguns passos dados parece que têm servido mais para afastar os europeus do que para os unir. Será mesmo necessário o federalismo para haver uma união europeia com politicas comuns no campo monetário, económico, social, educativo e cultural ?
O tratado de Lisboa em vez de esbater problemas veio acrescentar alguns, inclusive para Portugal, ao instituir mais desigualdade entre os estados-membros.
Certamente há-de haver uma forma de articular e cooperar entre os pequenos e grandes países que não seja a fingir, como até agora.
Não vale a pena partir do princípio falso de que os países são iguais. Aliás nunca assim foi desde o início: os países do Benelux precisavam de ter na Alemanha um mercado para os seus produtos, a política agrícola comum foi estabelecida para resolver os problemas da França.
Neste momento as diferenças sociais entre países são enormes, como é o caso da Segurança Social. Basta ver o que acontece com os anos necessários para a reforma, o que se passa com os apoios à maternidade, e em geral a todas as políticas sociais… e o que aí vem com a queda do crescimento demográfico, o envelhecimento progressivo da população e o desemprego.
Não será possível outra política de segurança neste mundo globalizado, com tráfico de armas, de droga e de seres humanos, rever o acordo de Schengen ou encontrar formas de superar os problemas de segurança?
Tem que ser possível dar passos consistentes de forma a aproximar as políticas sociais, etc..
Se não for assim, o que é a identidade cultural europeia ? Como se construirá a identidade cultural europeia?
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