15/05/14

Desenvolvimento da comunicação não verbal da criança

Menino curioso, apontando com dedo para cima


“A comunicação entre a criança e o cuidador começa muito antes desta pronunciar a primeira palavra.”Peixoto, V. (2007)

Nos primeiros meses de vida, os comportamentos vocais da criança são interpretados e respondidos de forma contingente pelo cuidador como tendo significado (a criança ainda não tem intenção comunicativa consciente). É através das respostas que o cuidador dá à criança, que os seus comportamentos podem ser usados para regular o comportamento dos outros. Os seus gestos e vocalizações passam de pré-intencionais a intencionais. Só mais tarde, com o aparecimento das primeiras palavras é que surge a comunicação simbólica.
O desenvolvimento pré-linguístico assenta em dois marcos essenciais:
· A mudança da comunicação pré-intencional para a comunicação intencional;
· A mudança da comunicação pré-simbólica para a comunicação simbólica.
Podemos identificar três períodos principais no desenvolvimento da comunicação:
·   A fase perlocucionária;
·   A fase ilocucionária;
·  A fase locucionária.
A fase perlocucionária ocorre desde o nascimento até aos 9 meses de idade, no qual o comportamento da criança afecta as respostas do cuidador. A criança ainda não produz sinais com a intenção consciente de atingir determinado objectivo, nem são dirigidos a um parceiro comunicativo. Nesta fase, são considerados actos não intencionais: a direcção do olhar, a expressão facial e os movimentos corporais.
A fase ilocucionária ocorre por volta dos 9 meses. Consiste na transição para a etapa onde a criança começa a usar gestos e sinais pré-verbais, para comunicar intencionalmente. Esta fase é caracterizada pela ocorrência da capacidade de coordenar a atenção e estabelecer momentos de atenção conjunta. Podemos referir-nos a “comunicação intencional” quando a criança tem consciência que o seu comportamento vai implicar uma reacção no seu interlocutor.
Por fim, na fase locucionária, por volta dos 12/13 meses, a criança inicia a comunicação intencional através de palavras.
Mesmo antes da criança começar a falar, os gestos cumprem uma função comunicativa muito importante na Aquisição e Desenvolvimento da Linguagem.
Os gestos são ações produzidas com a intenção de comunicar, usados pela criança com determinado significado. São usados simultaneamente com estabelecimento de contacto ocular com o adulto e podem ser acompanhados por vocalizações. Após produzir um gesto, a criança faz uma pausa para que o adulto compreenda e responda ao seu acto comunicativo.
O uso de gestos acelera a produção e compreensão de palavras nas fases iniciais de aquisição da linguagem e tem o poder de enriquecer as interacções pais-criança nos processos de comunicação precoce.
Num período mais precoce do desenvolvimento lexical da criança, os gestos são uma modalidade na aquisição de novo vocabulário.
Inicialmente, as palavras e gestos têm um desenvolvimento quase paralelo e têm uma representação equivalente no vocabulário da criança. Só mais tarde é que o papel dos gestos fica subordinado ao das palavras.
Entre os 8 e os 14 meses as crianças começam a exibir comportamentos mais efectivos para estabelecer referência. Começam por desenvolver gestos deíticos que marcam o seu foco de atenção e chamam a atenção do outro.
Entre os 12 e os 14 meses surge o apontar, dar, mostrar e tentar alcançar – momento de transição no desenvolvimento linguístico.
Por volta dos 16 e os 20 meses assistimos a um uso crescente da fala, pelo que a comunicação através dos gestos decresce.

Liliana Lucas
Terapeuta da fala

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Ref. Bibliográfica:
Peixoto, V. (2007). Perturbações da Comunicação – a importância da detecção precoce. Porto: Edições Universidade Fernando Pessoa.

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