Estamos de regresso ao nosso programa e, como nos anos anteriores, iremos dar aqui a nossa opinião livre sobre temas que, penso, podem interessar aos nossos ouvintes. No nosso caso, vamos continuar a falar de psicologia, de psicopedagogia, de escola e de todas as situações sociais, culturais e políticas que mais relação têm com a educação, fazendo uma compreensão dessas situações à luz da psicologia.
Para começarmos, hoje vamos falar do regresso ao
trabalho e das implicações psicológicas que pode ter para cada um de nós.
Em psicologia diferencial, sabemos que a mesma
situação ou estímulo pode desencadear respostas diferentes segundo a personalidade. É também o que acontece com o fim das férias e o
regresso ao trabalho.
Com a generalização das férias a todos os
trabalhadores, o ciclo trabalho-férias-trabalho criou um desfasamento cada
vez mais profundo entre as duas actividades… e, inclusive, podemos falar de uma
entidade psicopatológica: stress pós-férias ou síndroma pós-férias, isto é, a
dificuldade grave do regresso às rotinas do trabalho.
Esta perturbação afecta 40 % dos portugueses, mais mulheres do que os homens e mais a faixa etária 25-45 anos (dados de 2015). Apresenta alguns destes sintomas:
Físicos
|
%
|
Emocionais
|
%
|
Comportamentais
|
%
|
Dores musculares
e de cabeça
Cansaço
Insónia
Problemas
gastrointestinais
|
87
83
42
28
|
Angústia
Ansiedade
Culpa
Raiva
|
89
83
78
61
|
Uso de drogas e
medicamentos
Consumo de
bebidas alcoólicas
Consumo de
comidas calóricas
Tabagismo
|
68
52
38
33
|
Alexandra Carita (texto) e Ana Serra (infografia), "Era bom mas acabou-se", A revista do Expresso, 3/9/2016
De facto não é fácil adaptar-se de novo às rotinas, aos horários, aos
mesmos ou novos colegas de trabalho de quem se gosta menos...
A psicóloga Kathleen Hall, consideram que “o
stress que costuma marcar o regresso ao trabalho envolve uma reacção, muitas
vezes difícil, de adaptação ao dever, em oposição ao lazer registado durante as
férias”. Para ela, “a ansiedade e tristeza sentidas no
regresso à rotina serão tanto maiores quanto mais longo
for o período de férias”.
Mas a reacção de stress pode estar mais relacionada com
o regresso a um ambiente de trabalho desagradável,
desmotivante e até hostil, do que com o
fim das férias. Stress pós-férias é uma coisa, insatisfação no trabalho outra
coisa completamente diferente
Para mim sempre foi pacífico o regresso ao meu
local de trabalho, à escola. Por ser um local onde me sentia motivado e feliz,
desejava voltar com entusiasmo.
Agora o problema é outro: não voltar. Este não
regresso é um tempo nostálgico de rotinas
de anos que deixaram de se repetir. Voltar a ver os colegas com quem se
desenvolveram tantos projectos, se criaram relações fortes que ficaram para a vida, faz-nos ter esse sentimento de
saudade de um tempo em que para além de sermos mais novos, éramos mais activos, mais empreendedores
e também mais iludidos com os resultados da nossa intervenção profissional.
Com stress pós-férias ou com tranquilidade são
as formas alternativas de viver o
regresso ao trabalho.
Mas, para quem já não regressa ao trabalho, como no meu caso, podemos ainda viver e sofrer com a
nostalgia de tantos regressos ao local e ao trabalho onde fomos felizes.
Bom trabalho. Até para a semana.
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