29/09/16

Debates: "nem me explico, nem me entendes"


Como sabemos um  debate é uma forma de comunicação  e exposição  de ideias diferentes sobre um  tema entre duas ou mais pessoas que tem como finalidade  directa conhecer as posturas, bases e argumentos das partes em  discussão e, indirectamente, pode ter  um papel de aprendizagem e enriquecimento, pode eventualmente mudar de posição ou aprofundar e enriquecer a própria pessoa, ainda que não seja essa a finalidade ou o principal motivo de um debate.
Normalmente o debate  é formal, com um formato pré-estabelecido, assim como o tema específico a discutir, e tem um moderador.
No  mundo de informação e comunicação  em que vivemos há debates para tudo. Mas aquilo a que assistimos frequentemente é ao reforço das posições que os interlocutores já tinham antes do debate, não como resultado da discussão, mas pelo que acontece no processo de comunicação
Entre Donald Trump e Hillary Clinton houve esta semana  um debate formal, no contexto da eleição para a presidência dos Estados Unidos
O que acontece é que como este muitos debates  são  mais  compatíveis com aquilo que se chama  descomunicação. São um teste  para afirmar as diferenças, fraquezas e falhas,  quem ataca e quem fica à defesa e  para saber quem ganha ou quem perde.
O debate é supostamente sobre os conteúdos da comunicação mas aquilo que releva é a comunicação não-verbal, as emoções, o tom da voz. Porque  a comunicação faz-se desses aspectos e são estas informações não verbais que interessam mais aos espectadores.
Como refere Xavier Guix, "A comunicação não é algo que aconteça na realidade mas a realidade constrói-se na comunicação".
A complexidade de cada interacção vai depender de uma enorme diversidade de processos: semânticos, neurológicos, psicológicos, sociais e culturais.
Nestas  diferenças surgem frequentemente os conflitos  e, por isso, é tão complicado que as pessoas se entendam.
Segundo Xavier Guix, na comunicação entre duas pessoas podemos considerar a presença de vários princípios.
Há sempre intencionalidade, não fazemos nada porque sim mas temos sempre alguma intenção.
Cada pessoa é única mas  mesmo essa pessoa pode mudar, hoje não é a mesma pessoa que conheci há tempos atrás.  
As pessoas tem diferentes estilos afectivos, todos temos emoções, a expressão das emoções é universal mas o que não é igual é a velocidade, a expressividade, a intensidade e a latência da emoção.
A relação entre as pessoas é sistémica, a pessoa tem todo um mundo de pessoas, de informações e de vivências que fazem parte dela. Tem uma família, tem filhos e vivenciou contextos diversificados que a tornam ainda mais diferente.
A nossas decisões  e escolhas são  de alguma forma condicionadas pelas experiências que tivemos e pelas aprendizagens que fizemos. Vivemos uma espécie de “liberdade condicionada” que, no entanto, não se pode confundir com determinismo.
A relação é construtivista, cada um constrói as suas próprias verdades. E também construcionista. Temos uma personalidade que nos faz como somos mas essa maneira de ser não vem apenas do interior mas da relação com os outros.
São então estas duas pessoas que estão em debate e não apenas as suas ideias e propostas. Daí a dificuldade de comunicação entre elas. Ou seja quando falo contigo “ nem me explico nem me entendes”.

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