14/09/16

Compaixão

P. Ekman


Conhecemos da história vários períodos  altamente conturbados por guerras de uma crueldade imensa. Os que nascemos após a segunda guerra mundial temos assistido à continuação dessa violência e guerra um pouco por todo o lado onde é desprezado o essencial respeito pela vida humana.
Em todas estas situações, geradas pela ira e pelo ódio, sobressai com virulência, a crueldade do ser humano e são quase apagadas as emoções básicas positivas do ser humano que deviam ser de grande préstimo para o poupar a este sofrimento indescritível.
São pessoas, políticos, militares, ou não, que levam a cabo políticas de terra queimada, um ódio que só se contenta com o maior sofrimento que impuserem aos outros, que quer destruir tudo, aniquilar o outro quando já praticamente nada há para destruir.
O que se passa na Síria e países vizinhos, o que se passa com o terrorismo, deixa-nos a pensar como seres humanos, perto ou longe dos locais da violência, são capazes de causar tanta destruição.
Todos responsáveis colectiva e individualmente pelo sofrimento que causam. Têm responsabilidades individuais nas decisões que tomam e não apenas em função do dever de  obedecer a ordens superiores políticas ou militares. Mas o mais importante é realçar que faltou e continua a faltar a compaixão nas relações entre os seres humanos.
“A compaixão é definida como a resposta emocional ao perceber o sofrimento e envolve um desejo autêntico de ajudar a aliviar esse sofrimento."(O que é compaixão?)

Para o budismo a  compaixão é uma das quatro qualidades incomensuráveis, que incluem também a  equanimidade,  bondade empática/amorosa; e alegria/júbilo.
A equanimidade significa uma atitude inalterável  tanto na adversidade como na prosperidade, espírito sereno e  equilibrado.
A equanimidade “é como termos um sistema imunitário que nos permite levar connosco uma zona de paz para todo o lado”.   A equanimidade é oposta ao apego/aversão.
A bondade é oposta ao ódio e ira  em que a pessoa não pode suportar o bem estar da outra pessoa (“não gosto que estejas feliz porque és meu inimigo”).
A alegria por empatia  é o contrário da inveja, ou seja “ não suporto que sejas feliz, não suporto que sejas famoso nem rico”.
A compaixão significa “ que te possas libertar do sofrimento e da fonte do teu sofrimento”.
“A crueldade é o prazer com o sofrimento de outra pessoa e mesmo o desejo de infligir tal sofrimento . A compaixão é exactamente o oposto” (Daniel Goleman, Emoções destrutivas e como dominá-las, Círculo de Leitores, pág.343).

Mas a violência está também bem perto de nós, dentro de casa, nas relações entre os que pensávamos serem nossos amigos e protectores. A violência doméstica é fruto da falta de compaixão. Há episódios, diariamente, que nos fazem interrogar sobre a crueldade de seres humanos capazes de causar tanto sofrimento mesmo àqueles que estão próximos, têm a mesma cultura, a mesma religião, o mesmo partido político, e muitas vezes partilham vários anos de vida em comum.
Temos necessidade de promover uma cultura de compaixão, desde idades precoces e nos períodos críticos do desenvolvimento, no tempo certo, para fazer essas aprendizagens.
Tanto a aprendizagem da crueldade como da compaixão modificam o nosso cérebro. Se formos habituados a contrariar a crueldade  e, ao contrário, a desenvolver a compaixão e as emoções positivas  podemos ter esperança num mundo melhor.

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