Houve tempo em que alguns chefes da Igreja se inclinaram para o lado da violência, pretendendo pô-la ao serviço da verdade, como se fosse possível obrigar fosse quem fosse a crer, como se a fé não fosse um acto livre. No tempo das lutas contra o arianismo, Santo Hilário de Poitiers exclamava: «Ai de nós, a Igreja ameaça com o exílio e a prisão; quer que acreditem nela à força, ela em quem outrora acreditavam no exílio e nas prisões». Quando pela primeira vez, um herético, Prisciliano, foi punido com a morte, no ano de 380, a maioria dos bispos do Ocidente, tendo à frente São Martinho protestou energicamente, enquanto no Oriente São Joao Crisóstomo fazia esta ameaça profética: «Matar um herético seria desencadear na terra uma guerra sem tréguas». Os partidários da coacção alegam inutilmente os direitos da verdade e a necessidade de a proteger contra o erro; esquecem a que espírito devem pertencer. A consciência humana também tem os seus direitos e não menos invioláveis. Pode impor-se silêncio a um homem, torturá-lo, matá-lo até, mas não se matam as ideias; elas renascem e revivem. Como ousaria um cristão obter sucesso com a violência? Que deixe essas armas desleais aos inimigos da sua fé.
A história conservou os nomes dos conquistadores poderosos que estiveram quase a ser senhores da terra:
Nabucodonosor, Alexandre, Augusto, para falar apenas dos antigos. Que ficou das espoliações, das destruições, dos massacres de vidas humanas sobre quem estes chefes omnipotentes pensavam assentar a sua hegemonia? Foi-lhes possível devastar a terra; mas não conseguiram dominar o mundo.
Sem comentários:
Enviar um comentário