Houve tempo em que alguns chefes da Igreja se inclinaram para o lado da violência, pretendendo pô-la ao serviço da verdade, como se fosse possível obrigar fosse quem fosse a crer, como se a fé não fosse um acto livre. No tempo das lutas contra o arianismo, Santo Hilário de Poitiers exclamava: «Ai de nós, a Igreja ameaça com o exílio e a prisão; quer que acreditem nela à força, ela em quem outrora acreditavam no exílio e nas prisões». Quando pela primeira vez, um herético, Prisciliano, foi punido com a morte, no ano de 380, a maioria dos bispos do Ocidente, tendo à frente São Martinho protestou energicamente, enquanto no Oriente São Joao Crisóstomo fazia esta ameaça profética: «Matar um herético seria desencadear na terra uma guerra sem tréguas». Os partidários da coacção alegam inutilmente os direitos da verdade e a necessidade de a proteger contra o erro; esquecem a que espírito devem pertencer. A consciência humana também tem os seus direitos e não menos invioláveis. Pode impor-se silêncio a um homem, torturá-lo, matá-lo até, mas não se matam as ideias; elas renascem e revivem. Como ousaria um cristão obter sucesso com a violência? Que deixe essas armas desleais aos inimigos da sua fé.
A história conservou os nomes dos conquistadores poderosos que estiveram quase a ser senhores da terra:
Nabucodonosor, Alexandre, Augusto, para falar apenas dos antigos. Que ficou das espoliações, das destruições, dos massacres de vidas humanas sobre quem estes chefes omnipotentes pensavam assentar a sua hegemonia? Foi-lhes possível devastar a terra; mas não conseguiram dominar o mundo.
Gratry, no seu «Comentário ao Evangelho Segundo S. Mateus», chama à mansidão a plenitude da força, e explica esta ideia
por meio de uma comparação: «O raio -
escreve - é a força quebrada que derruba um homem, uma árvore. Pobre força! A força verdadeiramente íntegra
é esta força suave que actua sobre o nosso globo e sobre os astros, e os arrasta atrás de
si». Depois aplica este pensamento à história da França e pergunta: «Que produziram na nossa pátria as maiores e as mais violentas revoluções (estas linhas datam de 1863), o maior e o mais potente génio militar? Que produziram estas duas forças quando se tornaram violentas? Um atraso de dois séculos no progresso do mundo moderno. E termina assim: A marcha para o progresso recomeçará no mesmo dia em que as nações europeias tiverem começado a compreender que a violência não é uma força, mas um obstáculo; que força reside na justiça, na verdade, na liberdade, na mansidão e na paz».
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Georges Chevrot,(1965), O Sermão da Montanha, pag. 98-99
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